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GERAL

Pesquisadores apresentam dados da degradação anunciada em frigoríficos do Oeste do PR. Mais de 50% dos trabalhadores pedem dispensa do emprego

Discutir a problemática dos acidentes e doenças ocasionadas devido às condições de trabalho nas indústrias da região a partir de pesquisas acadêmicas, atendimentos com lesionados e relatos de trabalhadores é o objetivo da a Associação dos Portadores de Lesões por Esforços Repetitivos (APLER). Segundo dados do Ministério da Saúde aproximadamente cinco mil trabalhadores perdem a vida em seus empregos por dia. São três vida a cada minuto. Atualmente, 45% dos trabalhadores fazem uso de analgésicos; 35% de antibióticos/antiinflamatórios e 20% faz uso de remédios tarja preta. A APLER busca que a empresa mantenha um padrão de saúde e segurança no trabalho, pois a maioria das doenças tem relação com o trabalho desempenhado.

02/03/2013 - 14:28


O pesquisador Fernando Medonça Heck explica há estudos em ergonomia que prevê que para manter um padrão de saúde e segurança no trabalho, o empregado não pode exceder até 33 movimentos por minuto. “Atualmente, o número de movimentos repetitivos que um trabalhador desempenha em uma linha de produção frigorífica é mais de 100 movimentos repetitivos por minuto”.
Heck acrescenta que as primeiras sensações de LER podem acontece em três ou quatro vezes mais excedido e pode avançar em estágios maiores da doença, como pessoas que não conseguem levantar um copo ou desempenhar funções cotidianas. “Os dados do MPT-PR indicam que diversos trabalhadores estão inválidos. Alguns contam que não conseguem mais pentear o cabelo, pegar o filho no colo em decorrência do esforço repetitivo”.
Segundo o pesquisador, no ano período de 2007 a 2012, o Paraná admitiu 128.724 funcionários e desligou 117.045. Na microrregião de Toledo foram empregados 22.002 trabalhadores e 21.251 foram dispensados. Em Toledo, contratou-se 6.828 e desligou 7.003. “O desligamento dos trabalhadores em frigoríficos a pedido deles mesmos foi equivalente à 51% de todos os desligamentos registrados no Paraná durante o período de 5 anos. No Paraná a média de desligamento foi de 64 trabalhadores/dia; na Microrregião de Toledo 11 trabalhadores/dia e em Toledo 4 trabalhadores/dia”.
Ele salienta que a rotatividade intensa parece explicar um movimento de rejeição ao trabalho por parte dos trabalhadores em frigoríficos devido as condições degradantes de trabalho.
O pesquisador destaca que os frigoríficos são 5,5% de todos os acidentes registrados sem CAT (1º lugar no PR); 27,4% de todas as doenças do trabalho (1º lugar no PR); 3% dos acidentes de trajeto (3º lugar no PR); 4,9% de todos os acidentes típicos (2º lugar no PR); 5% de todos os acidentes de trabalho do estado (2º lugar no PR). “Os dados de acidentes/doenças do trabalho indicam que as condições de trabalho são degradantes e impactam na saúde dos trabalhadores. Podemos perceber o motivo dos trabalhadores rejeitarem o emprego em frigoríficos representado pelos dados de rotatividade no setor”.
O pesquisador, Vagner Moreira, aponta que há cada ano aumenta a cadeia produtiva do frango e, consequentemente, o número de lesionados por conta de intensificação do trabalho. “Nos relatos dos trabalhadores percebi que muitos estão com depressão e pensam em tirar suas vidas. A cadeia produtiva do frango – desde a produção no aviário até chegar ao frigorifico – torna-se viável na região a partir da exploração dos trabalhadores”.
Moreira que se não fosse a exploração da mão de obra nesta região talvez os dados do agronegócio não atingissem altos os índices. “Não é possível que seja produzida uma riqueza na região a custo do adoecimento dos trabalhadores chegando alguns perderem membros e a morte”.
O presidente da APLER, Laerson Matias, relata que há anos as empresas tem o conhecimento que as condições impostas aos trabalhadores dos frigoríficos do Paraná são consideradas desumanas, degradantes, causam sofrimento e agravam a saúde dos trabalhadores. Diante disso, a associação auxilia na organização da defesa dos profissionais. “Quem não conhece a realidade não consegue acreditar que em pleno século XXI algumas pessoas para viver submetam-se a condições semelhantes a de um escravo e os resultados das pesquisas são as provas”.
Segundo Matias a maioria dos trabalhadores que sofrem com os agravos a saúde atua nos frigoríficos. “Estatisticamente – conforme dados do INSS - o maior número de afastamento dos trabalhadores de frigoríficos é devido as lesões por esforços repetitivos, postura, ritmo intenso, temperatura, entre outros fatores”.
Ele lembra que a última pesquisa realizada com os trabalhadores diagnosticou que as dores iniciam-se principalmente na linha de produção entre 8 e 12 meses de serviço e intensificam-se a partir de dois anos. “Se o trabalhador permanecer na empresa a dor torna-se crônica”.
Por isso, a prioridade da atuação da empresa em compreender como funciona o processo. Ele explica que o objetivo é promover as medidas necessárias para zelar pela saúde dos trabalhadores. “As ações passam pela organização dos trabalhadores e levantamento de dados. Na sequência, o documento é entregue ao Ministério Público do Trabalho para tentar firma Termos de Ajustamento de Conduta, visando proteger os trabalhadores. Em todos os casos em que há TAC, as empresas assinaram, porém não cumpriram os termos”.
Atualmente, mais de 500 trabalhadores de Toledo são associados a APLER. “Eles estão com doenças causadas pelo trabalho. As doenças são incapacitantes e alguns já estão aposentados”.
A associação com o Ministério promoveu uma Ação Civil Pública para obrigar que a empresa (por decisão judicial) cumpra a lei. “Nós queremos que ela cumpra o que diz a Legislação e proteja seus trabalhadores”.
Heck pondera que é urgente e necessária a intervenção direta nos postos de trabalho em inúmeros frigoríficos com vistas a minimizar o adoecimento, respeitando as Normativas Regulamentadoras e demais legislações. “Abrindo espaço para a luta por redução da jornada de trabalho sem perca salarial, pautas políticas importantes para o conjunto desses trabalhadores”.
Vagner sugere a organização dos trabalhadores para aprovar normas que regulamentam o trabalho nos frigoríficos. “Evidentemente que isto é paliativo, mas minimiza um dos problemas sofrido pelos trabalhadores”.

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