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Coordenadora da norma técnica do leite afirma que certificação ainda é o grande desafio para cadeias produtivas

Roberta Züge possui graduação (1996), mestrado (1999) e doutorado (2001) em Medicina Veterinária pela Universidade de São Paulo. Atualmente é pesquisadora do Instituto de Tecnologia do Paraná, atuando em diversos projetos como coordenadora e pesquisadora. Coordena o projeto de elaboração da norma brasileira de certificação de leite (SAPI MAPA).

20/03/2011 - 12:36


 

Coordena o projeto de avaliação da conformidade de produtos oriundos da agroindústria familar do Paraná. Instrutora e auditora certificada Globalgap. Tem experiência na área de Medicina Veterinária, atuando principalmente nos seguintes temas: biotecnologia, agronegócio, manejo animal, boas práticas agropecuárias, bem estar animal, qualidade e segurança de alimentos, certificação de produtos agropecuários, normalização, NBR ISO 17025, NR 31, sistemas de produção integrada e gestão agropecuária e sistemas de gestão de controle de pragas em propriedades rurais. Esse é um currículo resumido da pesquisadora do Tecpar que veio a Toledo participar de evento sobre "Produção e Gestão nas Cadeias Produtivas", promovido pelo Sindicato Rural e o Instituto de Pós - Graduação Qualittas. Roberta proferiu palestra com o tema "Garantia da Qualidade nas Cadeias Produtivas", mas antes do evento ela recebeu a reportagem da Casa de Notícias. A doutora em medicina veterinária destacou que o foco principal é comprovar a qualidade dos produtos agroalimentares da região e apresentar quais são os métodos que deve ser empregado para de fato comprovar ao consumidor a garantia e a qualidade dos produtos. Confira a entrevista completa.
Casa de Notícias - Quais são os desafios para o Paraná em termos de certificação?
A partir do momento que é preciso certificar um produto é necessário ter uma norma, um regulamento, e devemos evidenciar que estas regras sejam cumpridas. Alguns aspectos estão engatinhando, no sentido de padronização e publicação destas normas, de documentos de referência. O Brasil ainda está fazendo alguns documentos. Exemplo: já temos fatores positivos, como a fruticultura que há dez anos trabalha com isso. Mas em outras cadeias, principalmente a pecuária que são cadeias mais complexas, as normas estão em fase de elaboração ou publicação. A partir do momento que se tem os documentos e as regras, devemos trabalhar bravamente para que de fato consigamos executá-las em campo e evidenciar que cumpramos os itens estabelecidos. Estes itens são difíceis, mas vai depender de cada produtor, de como você quer comprovar de fato o que você faz.
Em que fase estamos na implantação das normas, especificamente da cadeia do leite?
A norma da cadeia do leite deve ser publicada ainda neste semestre. Esta é uma garantia do Ministério. Algumas propriedades atendem grande parte dos requisitos estabelecidos. Eles têm boas práticas que estão sendo executadas. E não somente executadas, pois não adianta executar a prática, se de fato você não comprovar que diariamente você vem cumprindo. A questão de registro e documentos dentro da propriedade, este ainda tem sido um dos problemas. Mas isto é fato, porque não tem como evidenciar que você não está cumprindo se você não tem registro de que isto é feito. Estamos em um patamar superior em relação a outros Estados. No sentido que temos regiões já bem estabelecidas, com produtores de nível de excelência de produção, mas que ainda precisa sistematizar melhor a propriedade para evidenciar a qualidade da produção. Porque a partir do momento que temos um produto de qualidade, ou seja - a matéria-prima de qualidade, com isso terá um bom produto final. No laticínio podemos piorar o leite, mas não melhorá-lo. O leite deve apresentar qualidade desde a propriedade rural, para que depois tenhamos um produto beneficiado para chegar à mesa do consumidor com a garantia e qualidade desejada.
 
A partir da norma, quais são os critérios que os produtores terão que se adequar?
Primeiro cumprir requisitos sanitários. E alguns quesitos que muitas vezes não são cumpridos, como exemplo, as questões trabalhistas. Porém muitas vezes eles nem sequer são conhecidos por muitos produtores. No momento que questionamos algo aos produtores, muitos respondem que não sabiam. A legislação é ampla. Se não me engano são mais de 203 itens são da legislação trabalhista e, muitas vezes, com a rotina intensa que se tem dentro da propriedade, você acaba deixando para depois. Então são pontos que temos que estabelecer de cumprimento. Além disso, a questão da implementação das boas práticas. Implementá-las e repeti-las diariamente. Algumas práticas realmente são estabelecidas e conhecidas e não são executadas, talvez por não haver necessidade. Outras são amplamente executadas porque representam uma bonificação. Mas devemos sistematizar e evidenciar estas práticas como um todo. A questão de controle de medicamentos, um uso racional deste material como um todo.
 
A norma vem para tornar o setor ainda mais competitivo no mercado internacional?
Num primeiro momento não podemos falar em questão de mercado internacional, no momento em que não temos um produto lácteo certificado. Não existe isso em nenhuma gôndola. Acredito que o mercado interno já tem uma absorção rápida, temos um consumidor ávidos por produtos diferenciados. Ultimamente, a única opção que tem é a questão de orgânicos. O consumidor, de fato, não tem uma opção de escolha. O consumidor escolhe marcas que são consagradas, que identifica naquela marca se é de confiança ou não. Quando ele tiver uma chancela certificadora, com certeza isto será um diferencial na gôndola para que possa saber qual produto que tem mais garantia. Num primeiro momento, então, teríamos uma demanda do mercado interno e depois com certeza isto é uma abre alas muito forte para que avancemos em outros mercados para qualquer cadeia.

Confira ainda entrevista em vídeo.

Por Rosselane Giordani

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