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CIÊNCIA

Bom senso é o caminho para o equilíbrio entre o desenvolvimento e o ambiente

O diálogo é o caminho apontado para atender a demanda de mais 7 milhões de pessoas de maneira sustentável, respeitando o limite dos recursos disponíveis

05/10/2017 - 15:52


O dilema entre desenvolvimento, crescimento, meio ambiente e sustentabilidade só pode ser enfrentado com bom senso, este foi o tom da palestra do professor Dr. Affonso Celso Gonçalves Junior, durante a palestra “Sustentabilidade Ambiental- Contextualização e um estudo de caso de contaminação na agricultura brasileira”, como uma das atividades do II Congresso Brasileiro de Ciências e Tecnologias Ambientais, que tem como tema “Ambiente e Agricultura: Como Viver em Harmonia?”.

A palestra foi pautada no trabalho ainda em desenvolvimento do pesquisador e da equipe do Ministério Público do estado de São Paulo. Eles investigam o uso de lixo químico de resíduos industriais vindo da Europa em fertilizantes agrícolas. Esta prática acontece desde 1990.

A investigação ocorre desde 1993 e em 1998 um artigo científico publicado na Nature, uma das mais importantes revistas cientificas do mundo, apontava a presença de metais pesados como cádmio, cromo e chumbo. Estes elementos poluíram o solo pelo o uso de fertilizantes. Os estudos atuais apontam que o índice de contaminação, nestas áreas, já é superior a 65% em relação ao estudo publicado na Nature.

A investigação trata o caso como a “Máfia do Lixo” que tem por objetivo primeiro a lavagem de dinheiro.  Gonçalves Junior explica como isso acontece. “De 100% da matéria prima duvidosa que entra no mercado, o que vira fertilizante e é comercializado não passa de 30%. O resto fica jogado lá mesmo contaminando o meio ambiente. O objetivo destas empresas não é o comércio, pois não querem chamar a atenção, mas sim a lavagem de dinheiro. Aquilo que sai da Europa como uma doação, chega ao Brasil com uma nota fiscal de insumo, como matéria prima para fabricação de fertilizantes”.

Estas pequenas empresas de fertilizantes contam com o aval de cientistas renomados que também estão são alvo das investigações. “Estas empresas criam uma indústria de fachada para que parte da matéria prima seja industrializada, e assim manter este processo fictício de pé. Para cada empresa fechada pelo Ministério Público, duas outras são abertas”.

O Pesquisador conta que o Ministério Público rastreia onde estes fertilizantes são comercializados. “Conseguimos apreender o material, mas não tínhamos o que fazer com o que já havia sido vendido. Esta máfia atua no interior de São Paulo, principalmente, além do norte do Paraná, o sul do Rio de Janeiro e no estado de Tocantins”.

Equilíbrio entre a demanda e sustentabilidade

Bom senso é conseguir manter a qualidade mínima ambiental com uma produção agrícola e industrial que não agrida pelo menos a quantidade mínima de qualidade ambiental que precisamos ter no planeta, esta é o caminho defendido pelo professor Affonso Celso Gonçalves Junior. “É difícil, mas não impossível. Temos que trazer o diálogo, o bom senso. Sou da linha dos pensadores otimistas e vou até meu último minuto de vida me doando a questão ambiental. A agricultura tem que crescer, mas a gente pode tentar equilibrar esta equação com a sustentabilidade”.

Aplicabilidade

Gonçalves Junior destaca a importância do envolvimento da academia com as demandas da sociedade e apresenta como exemplo o trabalho desenvolvido pelo seu grupo de pesquisa. “Hoje estamos trabalhando com a questão da geração de lixo por atividades agroindustriais. Trabalhamos com resíduos não só no Paraná, mas em grande parte do território nacional, incluindo a Amazônia, seja na forma de produtividade, de reaproveitamento na forma energética ou buscar adsorventes ou biossorventes que possam vir a descontaminar mananciais hídricos e aguas contaminadas”.

O pesquisador reconhece que a relação pesquisas e sociedade têm melhorado, mas pode avançar mais. “Eu diria que os trabalhos relacionados a isso estão melhores do que os da última década, pois o pesquisador tem que sair dos muros acadêmicos e ir a campo. Não é só ficar em bibliotecas e laboratórios sem acompanhar o que há lá fora. Aquilo que é posto em artigos científicos internacionais precisa ser traduzido para a língua do povo”.

O II Congresso Brasileiro de Ciências e Tecnologias Ambientais termina nesta sexta-feira (6). Na programação do dia consta minicursos: Produção de Equipamentos para Biodigestão de Resíduos Suínos; Uso de técnicas cromatográficas para análise de poluentes; produção de carvão ativado para remediação de poluentes; e as oficinas de Educação Ambiental para Sustentabilidade; Efeito de pesticidas e herbicidas na saúde humana; Uso de bioindicadores aquáticos e Aplicações de fundos micorrizicos na remediação de áreas contaminadas e no crescimento vegetal. Estes eventos acontecem no Miniauditório da Unioeste campus Toledo. E para encerrar esta edição do Congresso será realizado a partir das 19h, no auditório da Universidade Paranaense – Unipar o Talk Show: Fraturamento Hidráulico na região Oeste – Situação atual. O evento será mediado pelo professor Dr. Cleber Lindino.

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