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Opinião: Leitura cientifica

Quando um (ou uma) cientista reporta seus resultados, os submete para apreciação em periódicos de respeitabilidade, no qual outros cientistas irão julgar e emitir um parecer. É a avaliação por pares que, mesmo sujeita a erros, é a maneira em vigor. Uma vez aceito o artigo, ele passa a ser conhecido por outros cientistas que tentarão reproduzir os dados para validá-los.

10/11/2010 - 07:17


Este processo é chamado de disseminação cientifica, objetiva um público restrito (a comunidade científica) e usa uma linguagem própria, hermética, cifrada. O grande desafio é transpor este conhecimento para o grande público, utilizando uma linguagem acessível, sem ofender o interlocutor, com fidelidade ao assunto tratado. Este processo é chamado de divulgação científica. Destinado ao público mais amplo, o discurso (escrito ou falado) deve ser adequado, devendo haver a transposição da linguagem hermética para a linguagem acessível. Neste momento, é importante a figura do mediador, que pode ser o próprio cientista, um jornalista ou o professor. Todos têm o compromisso de isentar-se de dogmas e idéias pré-concebidas e atuar para tornar o assunto o mais fidedigno possível. Muitas vezes isto não ocorre e a divulgação de fatos científicos fica deturpada pela excessiva simplificação, pelo cunho político, pela ausência de fontes confiáveis, pelas distorções preconceituosas e pela ausência de reflexão. Um exemplo: uma reportagem publicada na Internet apresentava como manchete “Cerveja moderada ajuda a fortalecer os ossos, indica um estudo.” Nesta reportagem, dava-se a entender que compostos de silício ajudam a fortalecer os ossos e que boa parte das cervejas contém silício em diferentes quantidades. Assim, o raciocínio gerado por esta reportagem induz ao leitor que beber cerveja é importante para os ossos. Mas uma leitura do artigo original mostra que os autores publicaram um estudo no Journal of Science Food and Agricultural concluindo que a cerveja é fonte de silício, mas sem mencionar diretamente qualquer relação como o fortalecimento dos ossos. Na verdade há um estudo anterior que mostra que o silício é importante no crescimento dos ossos e cita como fontes diversos alimentos (cereais, grãos, frutas, pão e cerveja) e indica que a cerveja é uma fonte importante de silício para os homens somente. Contudo, outros estudos mostraram que não há evidencia concreta da atuação do silício no fortalecimento dos ossos, ou seja, o assunto está em aberto. Além disso, os efeitos nocivos da ingestão do álcool superam muitas vezes seus benefícios. Em mulheres, a ingestão de álcool é um risco devido ao aumento nos hormônios, entre eles o estradiol, que aumenta o risco de câncer de mama. Sem consultar diversas fontes, a reportagem realizou uma divulgação científica superficial. Assim, a responsabilidade do mediador é grande, para evitar conceitos errôneos que podem inclusive prejudicar a saúde humana. A divulgação cientifica não pode ser sensacionalista e superficial, deve mostrar as diversas opiniões da Ciência, outros fatos, indicar as dúvidas. O leitor precisa adquirir o saber ler, ou seja, a sabedoria da interpretação de um texto que só se adquire com a experiência, o estudo e o debate.

}  Referencia do artigo original: SILICON IN BEER AND BREWING, de autoria de Troy R. Casey and Charles W. Bamforth publicado no Journal of Science Food and Agricultural 2010.

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