Daqui a cinquenta e oito anos as crianças que hoje estão na quarta ou quinta série do ensino fundamental estarão na Terceira Idade! Que raízes deixaremos para o mundo no qual elas viverão? É com esta preocupação que cabe olharmos para o passado e dele tirarmos algumas lições para construir o futuro.
Citei num texto publicado há algumas semanas atrás o sociólogo espanhol Manuel Castels e aproveitando suas contribuições teço algumas reflexões. Ao analisar o que chamou de Sociedade em Redes, ou seja, aquela em que prevalece o uso da tecnologia, da informação e da comunicação, num mundo globalizado, Castels alertou para o fato de que cabe ao poder público analisar, compreender e articular as características econômicas sócio-históricas e econômicas do local onde está inserido e buscar articulá-las com o restante do planeta. Entendo que a sociedade também pode e deve fazer o mesmo!
O que defendo é recuperar alguma coisa que está no cerne da colonização desta região e que talvez muitos não se lembrem: a capacidade do setor público e da sociedade de planejar e executar ações no sentido de implementar um projeto de desenvolvimento, pois, sem o incentivo e o planejamento público que caracterizou a Marcha Para o Oeste como um todo, as ações dos pioneiros talvez não tivessem sequer existido ou tido sucesso. Sem a coragem daqueles, o empreendimento público também não! E este projeto alcançou seus objetivos maiores: fixar e nacionalizar a fronteira, prover as regiões industrializadas do país de alimento e matérias-primas ocupando mão-de-obra agrícola excedente no Rio Grande do Sul e
É necessário alertar então para o fato de que Estado e Sociedade devem compreender as características da sociedade que já se faz presente e em torno delas refletir. Questiono: queremos ser apenas fornecedores de alimentos? Ou se pensarmos em desenvolvimento, ou seja, na diversificação de nossas atividades produtivas e não apenas no aumento de seu volume teremos a ganhar?
A resposta a esta questão é obviamente positiva, pois, apesar de uma agricultura forte ser um dos sustentáculos de qualquer nação, como já disse Nélson Rodrigues, toda unanimidade é burra! Neste sentido, a opção feita pela região de se tornar um pólo universitário foi sábia, pois, se a sociedade e o poder público continuarem apoiando o crescimento das universidades e faculdades tal como vêem fazendo, a tendência é que este pólo se consolide cada vez mais como gerador de emprego, renda e qualidade de vida.
Contudo, é preciso olhar também para outros lados! Como fica, por exemplo, a questão da indústria? E as outras partes do setor de serviços, que incentivos recebem?
Coloco estas questões porque, se pensarmos que as gerações vindouras serão mais longevas e querem desfrutar de um nível de vida melhor é necessário entender que terão e poderão adquirir bens e interesses que a cidade não oferece no momento, mas que ganhará muito se passar a oferecer um comércio mais diversificado e a preços acessíveis, saúde e transporte de qualidade, uma vida cultural mais dinâmica e atraente e empregos e renda melhores, variados e em abundância.
Mas, para que tudo isto se torne realidade é preciso que Estado e Sociedade mantenham sua capacidade de planejar, de pensar e de sonhar, para que aí sim, com raízes no passado, pés no presente e olhos no futuro se ponham as mãos na massa! Este sim seria um belo presente: planejar o desenvolvimento da cidade e entender que este é benéfico, pois areja sua vida com a contribuição das pessoas e das idéias novas que chegam! Sem isto, shows, bolos e inaugurações fazem com que o espírito desbravador se perca no passado e remontam à velha práxis romana do pão e circo para tirar a atenção do povo do que realmente interessa.