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GERAL

Má qualidade do atendimento faz com que pessoas deixem de procurar medicina preventiva

A Casa de Notícias saiu às ruas nesta quinta-feira (23), nas proximidades da estação rodoviária, na região central da cidade, para ouvir algumas mulheres quanto a prática de realizar exames preventivos de saúde. E não faltaram críticas ao atendimento e a demora de alguns trâmites na saúde pública da cidade. É de responsabilidade do sistema de saúde do município realizar, motivar através de campanhas e divulgar os resultados para os pacientes do Sistema Único de Saúde, o SUS, que procuram as unidades de saúde para fazer exames preventivos. Segundo as mulheres ouvidas, o atendimento, a falta de profissionais, a demora na liberação para a realização de exames e o longo tempo de espera pelos resultados destes exames afugentam o interesse de se procurar os preventivos.

23/08/2012 - 15:58


A dona de casa, Nilse de Oliveira, de 50 anos, moradora do bairro Boa Esperança, está há pelo menos cinco meses na espera de resultados de um papanicolau. Ela contou para a reportagem que sofre com dores no abdômen constantes e precisa dos resultados para saber se tem alguma uma enfermidade grave. "Eu sofri dois abortos antes do nascimento da minha filha. Isso foi na minha juventude, mas pode ser um sinal que eu tenha alguma coisa que ainda não tratei direito", teme dona Nilce. "Depois começaram as dores, eu procurei o Caic (uma unidade básica de saúde), consegui fazer a liberação dos exames, fiz os exames, mas até agora eu não recebi os resultados. É complicado, por que eu falo que preciso dos exames para saber o que eu tenho. Eles falam que ainda não chegaram e que é para eu esperar", explica. Dona Nilce elogiou o sistema de saúde pública quando precisou ir para Curitiba fazer um exame. "Eu tive que fazer uma ressonância em Curitiba e desta vez eu fui muito bem atendida, deu tudo certo, não demorou. Mas sobre este outro exame, está nesta situação", lembra. E ela completa a sua avaliação: "Olha, falando de saúde, aqui, é pela metade. Tem coisas que funcionam, mas tem coisas que não funcionam direito", arremata.
Outra entrevistada, a também dona de casa, Lurdes Mafrian, de 47 anos, do bairro Jardim Porto Alegre, afirmou que também tem problemas com a demora na liberação de exames, mas avalia com bom a qualidade do sistema de saúde no município. "Eu não posso me queixar muito, apesar da demora para liberar os exames, para a gente ir fazer. Mas a gente é acostumado com isso já", diz. Quem não se conforma com o tratamento do sistema de saúde municipal é a estudante Fabíola Simone, de 24 anos, moradora do Jardim Europa. Ela classificou o atendimento em saúde como "péssimo", no município. "Falta médico, falta um bom atendimento, é tudo lotado, dá até desgosto de ir em um posto de saúde", comenta. "Demora um mês para marcar uma consulta e cinco meses para fazer a consulta", protesta. Ela conta que nunca fez o preventivo como o Papa Nicolau, e também nunca soube da importância de fazê-lo. "Eu nunca vi propaganda, nem nunca ninguém veio falar comigo para fazer esses preventivos", afirmou.
Outra que reclama com a demora para a realização dos exames é a também dona de casa Cleusa Matos, de 42 anos, moradora do bairro Santa Clara. Ela disse que tem uma consulta com um ginecologista marcada para o dia 11 de setembro. O exame foi marcado em junho. Ou seja, da marcação à consulta a lacuna temporal é de três meses. "Ficar tanto tempo assim para fazer o exame é ruim né? Porque você não pode se planejar direito, ou até esquecer que tem exame pra fazer. Apesar que conseguir um exame é tão difícil que a gente não esquece", comenta. Em outras ocasiões ela disse que já chegou a esperar quase dois anos por uma resposta da saúde pública da cidade. "Eu precisava marcar alguns exames e precisava da liberação de um endocrinologista para fazê-los. Da marcação da consulta até eu receber os resultados, demorou quase dois anos", denuncia.
O presidente do conselho fiscal do Hospital de Câncer de Cascavel – Uopeccan, Wilson Riedlinger, explica que a maioria dos brasileiros – sem generalizar - deixa suas tarefas para amanhã ou tem mania de cuidar dos outros e esquece-se de si. Segundo ele, este cenário se repete diariamente no hospital, pois muitas pessoas procuram por ajuda somente quando apresentam algum sintoma ou a doença está em estágio avançado e com complicações. “A cada dez pessoas que faz o diagnóstico precoce é possível que seis seja tardio. Nesta mesma proporção a cada dez mulheres que procura fazer o exame de colo ou mama, 90% tem a possibilidade de ser curável se diagnosticado no início”. Porém, se levarmos em conta o depoimento das mulheres  à nossa reportagem, o tempo perdido, muitas vezes não é por culpa das pessoas, mas pela morosidade do sistema de atendimento. Outro ponto que fazem as pessoas desistirem de procurar o sistema de saúde para prevenção e apenas nas urgências é a má qualidade do atendimento.
A aposentada Marileide Hoffmam, de 49 anos, moradora do Jardim Porto Alegre diz que o sistema de atendimento poderia ser um pouco mais dinâmico. Ela contou que marcou uma mamografia. O exame foi realizado um mês depois e em oito dias ela obteve o resultado. Marileide não acha o prazo ruim. Para ela, o principal problema é ter que ir as unidades de saúde e esperar ser atendida. "Você fica ali sentada, esperando. Ninguém sabe direito quando vai ser atendido, ou em que senha está, quantos estão na sua frente. Eu nunca tive problema com enfermeiros e médicos, sempre me atenderam bem. Mas o ruim é antes", argumenta. "Uma vez eu estava com suspeita de dengue. Fui no postinho e eles pediram para eu esperar. Estava com febre e tive que insistir que o meu caso era urgente. Só depois de quase uma hora tiraram a minha temperatura e viram que eu precisa de atendimento imediato. Depois disso foi tudo bem", conta. Ela ainda aproveitou para dar uma dica de como tratar melhor os pacientes que procuram o sistema de saúde da cidade. "Eu acho que eles tinham que organizar melhor a fila do atendimento. Poderia também ter alguém para ir pegando os dados, como pressão e temperatura, e já ir anotando as queixas. Muitas vezes, somente uma atenção já nos deixa mais alegres, faz a diferença", finaliza.
Números
Em matérias anteriores, a Casa de Notícias noticiou, por exemplo, que a meta do Ministério da Saúde é que pelo menos 80% das brasileiras alvo, de 25 a 59 anos, façam o exame. Para isso, o Ministério fez um pacto de metas com estados e cidades com população acima de 100 mil habitantes. O cumprimento de metas é avaliado através de uma conta: o número de exames realizados e o número da população alvo. No ano passado, Toledo atingiu apenas o resultado de 0,15 no coeficiente da equação estipulada pelo Ministério da Saúde.
Toledo pactuou 0,17, abaixo da razão estadual realizada em 2008 e da nacional realizada em 2009 que foi de 0,18. Em 2011, o município de Toledo só atingiu a meta no terceiro trimestre, pois no primeiro ficou em 0,13, no segundo 0,15, no terceiro 0,17 e no quarto trimestre 0,13, fechando o ano em 0,15.
Em 2009, a meta nacional realizada foi a razão de 0,18 e a meta para 2011 era 0,23. Existe também as metas por regional de saúde. A 20ª Regional de Saúde do Paraná, que abrange Toledo e demais município e a meta pactuada é de 0,17.
Os dados demonstram que, neste aspecto, a política pública municipal é falha, em especial se for considerado o que foi dito pelas mulheres entrevistadas pela reportagem, que utilizam o sistema de saúde do município.

Por Maurício de Olinda

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