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SAÚDE

Falta de pediatra compromete qualidade no atendimento no mini-hospital. Pais recorrem ao profissional na rede particular

A falta de um especialista em pediatria – mais uma vez - deixou o atendimento às crianças deficiente, no Mini-Hospital Dr Jorge Nunes Walter de Toledo. Nesta segunda-feira (03) diversos pais que necessitaram do atendimento de um pediatra para os seus filhos, até às 16h, não conseguiram uma consulta com este profissional. Na ausência deste médico qualificado foi um clínico-geral que assumiu o papel de pediatra. O pediatra é responsável por atender crianças de 0 a 12 anos. Para atuar em áreas específicas da pediatria é necessário além da formação inicial, treinamento e estudos em serviços especializados por um período que vai de um a três anos.

03/09/2012 - 16:28


O cidadão, Douglas Diego Moreira da Silva, aguardava por atendimento com a sua irmã de 16 anos e viu diversas mães chegando com seus fihos. “Crianças chegavam no colo das mães; algumas ficavam deitadas no banco do mini-hospital; crianças feridas e nada era feito. Eu cheguei no local às 11h e foi embora às 16h e minha irmã não foi atendida por falta de médico. Não há falta somente de pediatras, mas em outras especialidades. Eu vi tudo isso hoje. É um desrespeito com o cidadão”.
A filha de David Eduardo da Costa vai completar um mês de vida no próximo dia 29 e hoje precisou de um pediatra. Ela chegou ao mini-hospital com sua família por volta das 11h40. Seu pai foi informado que um pediatra iria iniciar o turno às 13h. Passavam das 13h45 e ainda não havia sido atendido. A informação passada foi que o profissional teve que ser internado no início da tarde. “Chegamos lá às 11h40 e saímos por volta das 15h45 e tinha muitas mães com seus filhos esperando pelo pediatra. Quando estava no telefone, uma profissional do local viu que eu estava comentando o assunto com alguém e nos levou para sermos atendidos, mas por um clínico-geral e ainda disse que a situação que estava presenciando hoje, era algo normal”, conta Costa.
O pai conta que o médico a examinou e receitou um medicamento. “Minha esposa pediu pra ele receitar inalação e ele respondeu que não sabia e até parecia que estava com medo. A minha filha está dormindo de pé, porque se a deitarmos, ela não consegue respirar, tranca tudo. Ela tosse até se engasgar e o problema que ela não tem muita força”.
Costa afirma que tinha conhecimento que o atendimento era precário, mas fazer isso com uma criança, com um ser humano indefeso é algo deprimente. “Hoje eu me senti de mãos atadas, porque você não pode fazer nada e quando fala algo a mais ainda pode ser preso por desacato ao funcionário público. Ao ver minha filha naquele estado, eu tinha duas opções chorar ou fazia algo para ver se me davam um pouco de atenção. É um descaso o atendimento, praticamente uma tortura ao ser humano. Creio que a saúde deveria receber mais atenção, nós (população) sabemos onde doi”.
Ele salienta que amanhã (terça-feira) vai procurar outro médico e terá que pagar uma consulta particular. “Eu não tenho condições de pagar esta consulta. Terei que deixar de pagar alguma conta no final de mês ou contar com a ajuda de familiares para poder cuidar da vida da minha filha”.
Profissionais
A falta de pediatra no mini-hospital foi alertada pela profissional, Gabriela Kucharski, durante a última reunião do Conselho da Saúde. Ela disse que atualmente, o número de consultas que um pediatra realiza no mini-hospital em 12h varia entre 45 a 70 consultas. O Código de Ética do Médico preconiza que o ideal é que o pediatra realize quatro consultas no período de uma hora. A pediatra afirma que o ideal seria que houvesse no mínimo dois médicos plantões 24h. Agora não há nenhum.
Gabriela relata que uma unidade que faz o atendimento de pronto-atendimento do SUS para todos os habitantes de Toledo (120 mil) somente um médico pediatra plantonista sobrecarrega o profissional. Ela afirma que atualmente o quadro de pediatras não está completo. “O pediatra plantonista é responsável pelas emergências, pelas reavaliações dos pacientes em observação e pelas consultas da porta”.
Gabriela salienta que quando não há um pediatra na unidade é o clínico-geral que faz o atendimento. “Esta ação é inadequada, porque pediatra e clínico-geral são especialidades diferentes. Além que, por muitas vezes, a criança é encaminhada para o hospital de referência da cidade, o que também sobrecarrega o profissional daquele local, porque aí ele vai ter que atender particular, convênio e SUS”.
A sobrecarga de atendimentos no trabalho, conforme a pediatra, causa cansaço no profissional e, por muitas vezes, o mal atendimento da população, porque muitos pacientes são atendidos em poucos minutos devido a fila de espera. “No final todo mundo sai prejudicado. O profissional não fica satisfeito com o trabalho que está oferecendo a população, a qual acaba sendo atendida com pressa, muitas vezes, pela pressão de sobrecarga do que deve ser atendido e com falta de qualidade”.
Gabriela destaca que trabalhar 12h sem parar é algo complicado. “O pediatra é um ser humano e não vai conseguir oferecer um atendimento de qualidade como prevê o Código de Ética do Médico”.
Denúncia
O promotor de justiça, José Roberto Moreira, lembrou que esta situação não é novidade e que foi motivo de reunião no ano passado. “Na época, a intenção era acabar com o médico plantonista a área de pediatria sob a alegação que iria contratar mais médicos pediatras, os quais cobririam a escala de serviço. Neste ano, a questão volta à tona novamente. Terei que trabalhar novamente para resolver esta situação”.
No ano passado, a queixa era que entre os horários da 1h às 7h de sexta-feira a domingo não havia pediatra em plantão no Mini-Hospital. A justificativa da administração era que a baixa demanda e, por isso, não haveria necessidade de pagar horas-extras e adicionais noturnos para os profissionais. Diante disso, as crianças eram encaminhadas, por enfermeiros, ao Hospital Bom Jesus o que sobrecarregava o sistema com atendimento de baixa complexidade e colocando em risco crianças em situação de emergência, uma vez que estas não tinham um primeiro atendimento pelo profissional competente. Neste ano, este cenário torna a se repetir.
Na época, a superintendente do Hospital Bom Jesus, Michele Okano, lamentou a ausência de plantonistas no município. “A sobrecarga cai no Hospital, isto precisa ser resolvido, pois a baixa complexidade é responsabilidade do município. Eles precisam ter mais resolutividade maior na atenção básica. Nossa obrigação é atender média e alta complexibilidade”.

Plantão
A secretária de saúde, Noeli Salete Fornari Borges de Carvalho, informa que há um profissional concursado somente para plantonista (30h semanais) e os médicos com carga horária de 20h trabalham nas Unidades de Saúde e pode completar a carga no Mini Hospital. “Nos momentos em que há falta de profissional é feita uma triagem e a criança é encaminhada para a unidade de referência, o hospital Bom Jesus. Os casos em que os clínicos podem atender, que são crianças maiores, estão sendo atendidos”
A secretária justifica que a falta de pediatras no quadro é devido os profissionais participarem de diversos concursos públicos. Com isso, eles têm a opção de ficar ou não em Toledo. “O mini-hospital não deveria ter todo este volume, porque 70% dos atendimentos deveriam ser nas unidades de saúde, mas fica fácil para o usuário estar no mini. As consultas que são de atenção básica deveriam ter sido realizadas na unidade”.
Noeli acrescenta que até o mês de novembro deve ser concluída a implantação da classificação de risco para referenciar o atendimento no mini – hospital. “O paciente que não for caso de emergência ou urgência deverá procurar por atendimento na Unidade Básica de Saúde (UBS)”.

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