1144x150 %284%29

OPINIÃO: Cultura Universitária

Ingressar no ensino universitário deveria ser considerado como um momento de transição da juventude para a vida adulta, uma vez que o  jovem se vê diante de múltiplos desafios, tais como: estabelecer novas relações interpessoais; adaptar-se a novas exigências culturais, intelectuais e acadêmicas próprias de sua área de formação; tornar-se autônomo na gestão do tempo e de sua vida financeira e, em muitos casos, adaptar-se a viver longe do grupo familiar e social de origem.

17/02/2011 - 12:59


Todavia, com a entrada cada vez mais precoce desses aspirantes à universitários, escrever sobre cultura universitária significa discutir sobre qual é o papel prescrito à universidade como espaço privilegiado para a construção e a expressão dos indivíduos que nela coabitam. Neste caso, esta discussão nos leva a dois caminhos: ao do aspecto político-pedagógico e ao do aspecto psicológico.

No que tange ao aspecto político-pedagógico, segundo Mancebo (1998, p.1-2), “Assistimos no Brasil, à emergência vigorosa de um modelo institucional gerencialista que, entre discursos políticos, atos legislativos e medidas aparentemente isoladas de administração e gestão, enfeixados na reforma administrativa do Estado brasileiro, ganha adeptos não só entre setores conservadores e tecnocráticos, mas também no interior de segmentos, que até duas décadas atrás, destacavam-se na luta pela institucionalização de um modelo político-participativo de universidade (...) Este modelo gerencial apresenta por referência básica, o atendimento à lógica empresarial e ao mercado competitivo, adotando concepções instrumentais/funcionais de autonomia e de participação (...) funcionalmente adaptada às exigências do mercado e às necessidades dos seus clientes e consumidores". A autora demonstra em seus estudos que “A submissão da universidade aos interesses imediatos do mercado é o principal dispositivo desta construção, conduzindo a universidade pública brasileira a redefinições, de ordem objetiva e subjetiva, que vão desde a privatização dos interesses, propósitos e objetivos universitários, antes públicos, e no possível, definidos coletiva e socialmente; até a privatização da cultura universitária acumulada na prática histórica do trabalho do conjunto dos sujeitos universitários, com a mercantilização do pensar, da elaboração de ideias e do trabalho intelectual; da superioridade inquestionável do individual sobre o coletivo, do sucesso pessoal sobre a solidariedade.

Em relação ao aspecto psicológico, neste momento da vida do jovem, a necessidade de formação do conjunto de novas crenças, valores e significações dão-se um caráter especial. O calouro agora se torna membro da comunidade universitária e, com isso, tende a aprender seus códigos, suas normas e regras básicas de relacionamento, apropriando-se do conjunto de conhecimentos já sistematizados e acumulados por essa comunidade. Mas quando falamos em códigos, normas e regras básicas de relacionamento, estamos nos referindo em direito e deveres que este universitário deve ter ciência.

Como direitos, citamos alguns: receber ensino de qualidade; ter acesso, no início do período letivo, ao programa da disciplina (bibliografia básica, metodologia de ensino e critérios, período e tipo de avaliação); tomar conhecimento do resultado das avaliações pelo menos 07 (sete) dias antes da verificação seguinte e receber a prova, caso se trate de avaliação escrita; ser orientado pelo professor da disciplina, inclusive em horário extraclasse, quanto às dificuldades de sua vida acadêmica; organizar-se em Centros Acadêmicos (CA) e no Diretório Central dos Estudantes (DCE); Ser formalmente representado nos Órgãos Colegiados da Administração da Universidade, com direito a voz e voto; poder participar de todas as atividades científico-culturais e artísticas da vida universitária; receber todas as informações a respeito da universidade e das rotinas da vida acadêmica; etc..

Já como deveres, citamos: frequentar as atividades de ensino; cumprir, com probidade, os trabalhos acadêmicos determinadas pelo professor; devolver, em perfeito estado e nos prazos estabelecidos, os livros retirados por empréstimo nas bibliotecas; zelar pelo patrimônio científico, cultural e material da universidade; tratar com respeito e atenção os discentes, servidores técnico-administrativos e docentes em qualquer dependência da universidade; comprometer-se com a qualidade do ensino, da pesquisa e da extensão desenvolvidas pela universidade; etc..

Atualmente, a universidade precisa construir e instigar uma nova cultura universitária baseada no reconhecimento do saber já adquirido pelo acadêmico e no incentivo a sua curiosidade. Para isso, é necessário que haja mais ações em que se ampliem os investimentos para uma autonomia universitária por parte do Estado, desenvolva a responsabilidade por parte dos acadêmicos e fomentem novas formas de participação desses jovens na aprendizagem de novos conhecimentos por parte dos docentes.

REFERÊNCIA:

MANCEBO, Deise. Políticas para a Educação Superior e Cultura Universitária: O exercício da solidão no ideário neoliberal. In: ANPED, 21, 1998, Caxambú.

Sem nome %281144 x 250 px%29