Atualmente, as filas para atendimento médico especializado são um dos principais gargalos do sistema de saúde. Consultas na rede com neurologistas, ortopedistas, entre outros, pode levar meses. Neste contexto, a rede continua sendo insuficiente para a demanda por especialidades. Faltam equipamentos de saúde e leitos hospitalares. Além disso, a rede pública tem dificuldade de atrair médicos especialistas e outros profissionais de saúde porque paga menos que o setor privado. Diante disso, o Conselho Municipal de Saúde (CMS) de Toledo promoveu uma reunião extraordinária para abordar este assunto com os gestores da saúde da cidade e da 20ª Regional.
A diretora de saúde de Toledo, Denise Campos, destaca que o gestor municipal é responsável por garantir a população um atendimento com qualidade a atenção básica. Denise enfatiza que a atenção secundária não é – propriamente – responsabilidade do Município, mas o administrador está se responsabilizando em dar continuidade ao tratamento. “É responsabilidade do Estado oferta a atenção secundária completa e Toledo está garantindo a continuidade no tratamento. A Central de Especialidades não está mais comportando a demanda da cidade”.
Denise ainda pondera que não é possível delegar a responsabilidade do atendimento somente ao gestor, seja ele Municipal ou Estadual. Ela explica que o gestor depende que os especialistas queiram ofertar o atendimento. “O médico não é obrigado a atende se ele não quiser. Se ele achar que o valor pago pelo procedimento não é o ideal ou se há falta de estrutura”.
Para o conselheiro, Dorival Moreira da Silva, o que falta é comprometimento da classe médica perante a sociedade. “O médico estuda e no dia de sua formatura faz o juramento de ofertar o atendimento a quem necessitar. Esta é a pior parte para mim. Eu sei que muitos profissionais se negam a atender, porque o pagamento da consulta não é o suficiente. Quantos médicos especialistas do Ciscopar deixaram de atender devido o valor pago pela consulta? Enquanto isso, a população vai adoecendo, alguns morrem pelo caminho e é o gestor que cai em descredito com a população. Sou favorável aos médicos de fora, porque estou cansando de médicos que só pensam no seu bem estar e esquecem o seu juramento”.
A presidenta do Conselho Municipal de Saúde, Jaqueline Machado, lamenta que aquilo que deveria ser um direito do cidadão – muitas vezes – torna-se uma moeda de troca. Para ela, saúde não pode ser vendida ou comprada. “É triste ouvir de que muitas das filas de espera existem, porque não há interesse de executar o serviço por parte dos trabalhadores e clínicas”.
Conforme Denise, a mudança é complexa, mas é possível. “A mudança deste panorama é demorada, porém é necessária. O Município de Toledo começou esta mudança pela organização da atenção básica”. Outro fator citado pela diretora é o recurso disponibilizado pelo prefeito de Toledo, Beto Lunitti, para a realização das cirurgias eletivas. “Resolveremos muitos de nossos problemas, mas isto não quer dizer que eles não irão se repetir. Por isso, a atenção básica precisa estar organizada”.
Jaqueline acredita que é preciso pensar numa maneira de dialogar com a classe médica. “Precisamos promover uma campanha de sensibilização junto as entidades para que possamos produzir um material e levar isto a público”.
O integrante do corpo técnico da Regional, Jurandir Alves de Oliveira, relata que 20ª RS está promovendo um trabalho de regionalização. “O trabalho é realizado em cinco microrregionais onde os Municípios vão tentar solucionar os problemas de cada região. O trabalho foi começado há pouco tempo, mas é um caminho para diminuir a demanda. Não é um trabalho que será resolvido agora, mas espero que consigamos resultados positivos”.
O representante da Câmara de Vereadores de Toledo, o vereador Neudi Mosconi, disse que o objetivo do Poder Legislativo é fiscalizar o processo. Ele acredita que a microrregionalização irá melhorar o fluxo de atendimento. Contudo, ele acredita que é um processo lento.
Da reunião foram convidados para participar os prestadores de serviços, o Ministério Público e a Associação Médica de Toledo, mas não compareceram representantes.
Conheça a demanda de algumas especialidades
Na especialidade eletrocardiograma, os exames são realizados pelo Ciscopar e por prestadores. A diretora geral da saúde de Toledo, Denise Campos, comenta que o serviço é ofertado na Central de Especialidades. Até agosto deste ano, a Central havia cadastrado 418 solicitações, as quais estavam em espera, sendo que o primeiro paciente da fila foi encaminhado para atendimento em março deste ano.
Aproximadamente 153 pacientes da 20ª Regional de Saúde aguardam por consulta para realizar algum tipo de cirurgia plástica reparadora. Deste número, 72 pessoas pretendem fazer a cirurgia de mamoplastia. Em Toledo, não há fila de espera e mensalmente são encaminhados para consulta em Curitiba entre 10 a 12 pessoas.
As consultas de otorrinolaringologia são atendidas por prestadores de serviços por meio do Ciscopar. A demanda de consultas é superior à oferta e há filas para cirurgias eletivas. Atualmente, até agosto deste ano 1.289 pessoas aguardavam por atendimento. O primeiro da fila foi atendido em abril do ano passado.
A profissional, Noeli Salete Fornari, lembra que o Ciscopar está promovendo um mutirão e que um profissional se dispôs a realizar atendimentos aos sábados para diminuir a fila de espera.
O integrante do corpo técnico da Regional, Jurandir Alves de Oliveira, acrescenta que existe um trabalho sendo realizado com hospitais microrregionais no sentido de que se defina o papel de cada um. Ele explica que desta forma cada região terá um prestador com característica para realizar um determinado procedimento eletivo e, consequentemente, sendo referência para a região.
Na ortopedia, o hospital Bom Jesus é referência no atendimento de média e alta complexidade. No entanto, de acordo com os gestores, o hospital tem atendido mais situações relacionadas a urgência/emergência.
Com relação a especialidade eletroneuromiografia, o exame é realizado somente na Clínica Da Vinci com o neurologista, Carlos Rocha. Até agosto deste ano foram 399 solicitações em espera sendo que o primeiro da fila foi encaminhado em setembro de 2011. A demora no atendimento, de acordo com a Clínica, é problema nos agendamentos, mas que o atendimento voltaria a ser realizado neste mês.
O integrante do corpo técnico da Regional, Jurandir Alves de Oliveira, relata que o Estado repassou um equipamento para realizar este exame ao Município de Terra Roxa. Contudo, a cidade não possui um profissional habilitado para manusear o aparelho. Com isso, o equipamento será disponibilizado ao Ciscopar que irá atender a região.
Na tomografia, atualmente há dois prestadores de serviços credenciados: o Ciscopar e o Centro de Diagnostico Ultra Ray. Ainda há um processo tramitando para o credenciamento de um novo serviço. Conforme Oliveira, até maio, o Estado disponibilizava cem cotas por mês aos 18 municípios. Após este mês houve um aumento de mais cem cotas.
De acordo com o número de habitantes, o Município de Toledo tem direito a 36 cotas/mês. A fila de espera fica com os Municípios, os quais são responsáveis pela administração do atendimento.