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“É preciso ter inovação, arrojo, tecnologia, gestão, capacitação e decisão regional de não ter medo de diversificar, defende Poloni

Evidenciar as potencialidades que a região Oeste, o Estado e o Brasil têm em relação ao mundo, mostrando um pouco do cenário internacional e as oportunidades ou potencialidades que existem. Com esse objetivo Antonio Leonel Poloni, ex-secretário de agricultura, e agora membro da Federação de Agricultura do Estado do Paraná (Faep) veio a Toledo a convite do Sindicato Rural e Instituto de Pós - Graduação Qualittas. Poloni proferiu na última sexta-feira a palestra “Potencialidades e Oportunidades: Enfoque Regional, Nacional e Internacional”, mas antes da realização do evento conversou com a reportagem da Casa de Notícias e destacou a capacidade que o Brasil tem para atender a demanda crescente do consumo de alimentos.

20/03/2011 - 12:07


Poloni relatou que existem cinco região no Paraná que deixaram de crescer, destacando a necessidade de transformar o nosso produto em outros subprodutos que possam agregar e trazer mais renda visualizando novos mercados consumidores. Acompanhe a entrevista completa. 

Casa de Notícias - Poloni qual será a sua fala no evento promovido pelo Sindicato Rural?
Antonio Poloni - Primeiramente, vamos mostrar as potencialidades que a região, o Estado e o Brasil têm em relação ao mundo no minério e no alimento. Mostraremos um pouco do cenário internacional e as oportunidades ou potencialidades que existem. Na sequência, o que a região faz e o que ela pode mudar na realidade para que transforme em renda para o agricultor. Hoje, ao olhar o mundo tudo que se comercializa entre todos os países, o Brasil só participa de 1,5%. Desta porcentagem 6,7% é do agronegócio. Dentro disto, quanto podemos crescer? Possuo alguns parâmetros de 2010 – 2018 e 2010 – 2030 a necessidade que o mundo vai ter na produção de alimentos e a capacidade que o Brasil teria ou terá para atender estas necessidades mundiais. A partir disto, precisamos analisar o que a região precisa fazer para aumentar a economia regional. Nós temos um cenário que levantamos no ano passado que há regiões que estão decrescendo ou invés de estar crescendo. Isto acontece porque falta agregar valor. Temos a produção de cereais, mas ela também tem que ser transformada em proteína animal e esta proteína animal ser transformada em produtos diferenciados. Este é o grande gargalo. Os técnicos juntamente com os agricultores devem participar deste processo, transformar proteína vegetal em proteína animal, mas principalmente de animal em produtos diferenciados. Está é a linha mestre e aí a região define o que fazer.
Quais seriam as estratégias específicas para organizar as cadeias produtivas que são organizadas e aquelas que não são organizadas para estar atendendo esta demanda mundial?
Primeiro, as cadeias organizadas precisamos trabalhar o poder público com a iniciativa privada. Porque há ações públicas que fomentam o desenvolvimento juntamente com a iniciativa privada. Este tempo de agilização depende deste acordo dos poderes trabalharem juntos. Nós oferecemos ao Governo um projeto deste trabalho em conjunto. Agora, dentro deste prisma, você vai ter a produção de alimentos necessária e a opção de cada região. Se eu pegar uma cadeia organizada preciso verticalizar, porque se ela já está organizada dentro de sua linha de produção, preciso trabalhar somente a verticalização dela que é o caso do frango. Eu preciso industrializar e transformar fases maiores para vender coisas mais prontas que possam agregar. As outras cadeias que não estão organizadas, eu preciso concluir sua estruturação e aí tem anéis dentro dela que preciso trazer o Poder Público e trazer uma série de entidades que concluam a estrutura desta cadeia para depois ir para verticalização. Dentro disto, cada um vai encontrar o seu lugar e se por acaso tiver uma vacância dentro desta organização que as entidades não consigam, temos que buscar alguém que possa concluir isso, mas sempre no trabalho público e privado. A Federação da Agricultura e os Sindicatos do Paraná fizeram um trabalho magnífico, ofereceram ao Governo do Estado um projeto de desenvolvimento no Paraná, especialmente no Agronegócio. Recentemente, fizemos um seminário com toda a equipe do setor do Estado com as entidades privadas que se propõe em trabalhar em conjunto. Na sequência, as entidades que tem uma participação na complementação da estruturação das cadeias produtivas vão assinar um acordo em trabalhar em conjunto e cada um fazer a sua parte. Dentro deles está o agricultor numa ponta e o industrial na outra. Esta junção de esforços local é que vai avançar na verticalização das organizadas e estruturação e verticalização das não organizadas.
 
Quais são os desafios, especificamente para a região Oeste na questão da inovação?
Acho que é preciso inovar. Não dá para ficar no trivial. Se produz bem cereais tudo bem, vender commodities é bom e não é tão difícil assim. Agora se questiona: quantos produtos são exportados por Toledo? Quantos produtos saem daqui? Soja, milho, frango, carne bovina, suíno. Quantos produtos podem ser produzidos neste município que possam ser exportados? Ninguém pensa nisso. Se eu pegar a lista de importação da Alemanha vou encontrar mais de 10 mil itens que eles importam. Desde número quanto que posso produzir aqui? Quais deles tenho competitividade de produzir aqui. Por isso, se tem uma reunião com um grupo de produtores e grupo técnico, conciliando os dois e trazendo o poder público tem que começar a perceber que o problema é a economia. E se é a economia, eu tenho que descobrir onde estão os mercados.
Como por exemplo...
Aparentemente o Chile é um país que não tem muita relação com o Brasil. O Chile importa mais de 100 mil toneladas de carne bovina, sabe quanto que o Brasil exporta para o Chile? Acho que não chega 20 mil toneladas. As outras quem exporta é o Paraguai. Alguém acredita que o Paraguai é mais competente que o Brasil para exportar para o Chile a carne bovina? É, porque eles montaram um sistema de rastreabilidade, os técnicos trabalharam bem. Eu vi isto lá. Então é preciso ter inovação, arrojo, tecnologia, gestão, capacitação e decisão regional de não ter medo de diversificar. Comoddities é muito bom, é necessário, e nós vamos crescer na maioria delas. Até 2030 nós teremos que duplicar a capacidade de produção e exportação do País. E as não comoddities onde ficarão? As não comoddities são produtos diferenciados no mercado. Nesta criação de produtos diferenciados de mercado é que a região precisa crescer e aí precisa conhecimento técnico.
 
Atualmente, o produtor ainda está ‘acomodado’. Está pensando em produzir in natura e não industrializar?
Não. Tudo que se faz está bom é elogiável. Só que temos um dado que mostra que a região Oeste do Paraná na economia ao invés de estar crescendo está decrescendo. No Paraná, de dez regiões, cinco estão decrescentes. Isto porque não possuem a visualização de produzir um produto com um valor maior agregado. Nas commodities os preços sobem e descem, porém os preços são estabilizados internacionais. Eles não vão trazer mais renda. O Paraná crescia, porque ele ampliava a área de produção. Agora não temos como aumentar a área de produção. Então temos que aumentar a produtividade. Analisando-se a questão da soja, temos tecnologias com produtividade igual a qualquer país do mundo. Esta questão não é o nosso crescimento. O nosso crescimento será transformar o nosso produto em outros subprodutos que possam agregar e trazer mais renda. É esta a discussão. Quantos derivados pode se ter do milho? Talvez 50, 60 ou 70 produtos. Quantos nós fazemos?
Lembro que uma ocasião estive no Japão falando com o secretário da Agricultura e ele me perguntou o que queria vender para eles. Eu falei que não queria vender nada. Gostaria que fizesse uma parceria com o Brasil, com o Paraná, para poder transformar produtos nossos em subprodutos que eles têm a tecnologia. Tem oportunidades no mercado brasileiro em ‘n’ cadeias produtivas. O peixe, por exemplo, tem ‘n’ oportunidade.
A nova postura do produtor da região Oeste seria desenvolver uma visão empreendedora?
Sim. A região é uma escola brasileira de desenvolvimento de tecnologias. Só que o problema está na relação dos produtos que exportamos. Quantos produtos têm condições de exportar? E outra, quantos produtos temos na região que tem certificado de origem controlada? Eu quando morei na Europa no início não entendia o que era isso. Hoje quando vou comprar um produto se tem o certificado de origem controlada eu sei que é um produto diferenciado e me dá certa segurança para consumir este produto. Este produto tem um diferencial de qualidade e de preço. Quantos produtos têm de origem controlada nas regiões do Paraná ou Brasil? Quase não existe. É preciso trabalhar produtos diferenciados com o certificado de origem.
Confira ainda a entrevista em vídeo.
 
Por Rosselane Giordani
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