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No reverso da medalha: a proximidade do caso japonês

Os olhos do mundo voltaram-se especialmente para o outro lado do globo. A tônica deste artigo não é uma reprodução dos fatos no Japão, mas um convite ao exercício reflexivo de trazer o Japão até aqui! Olhar o Japão e olharmos para nós mesmos. Aquela máxima tão familiar – em tempos de globalização – de que o global e o local estão intimamente conectados. Nesse caso, os acontecimentos de lá ecoam até aqui. Apresentaremos três perspectivas de análise desses fatos recentes: a) a tecnológica; b) a ambiental; c) a cultural.

04/04/2011 - 14:40


a) A inovação e a imaginação tecnológicas sempre foram ícones da cultura japonesa. Movidos, em grande medida, pela necessidade de potencialização do uso dos escassos recursos naturais e do desenvolvimento sócio-econômico do país. O avanço do conhecimento humano em diversidade tecnológica atravessa o mundo e atinge em todos os sentidos nossas vidas. Das estruturas arquitetônicas ao remédio que consumimos. Da energia – elétrica, eólica, nuclear, biodiesel – que salva inúmeras vidas e que faz o país desenvolver, mas que também merecem um conjunto de reflexões. A recepção tecnológica deve vir acompanhada de questionamentos. Dentre as muitas possibilidades para se gerar reflexividade acerca do tema, temos em particular: a) o uso dos meios de comunicação – em bem esclarecer – tanto na impressa científica como na imprensa popular – o acesso à tecnologia e os cuidados no seu gerenciamento e da sua real necessidade em cada caso. E, o olhar atento para as formações profissionais – em especial, técnicas e tecnológicas – em haver um debate e disciplinas que conduza a um conhecimento do humano e a pensar os efeitos que suas criações podem gerar no convívio social e nas vidas humanas. Temos uma tendência a uma recepção excessivamente naturalizada da tecnologia, sem ao menos questionar os efeitos e a necessidade imediata de seu uso. A informação e a formação são importantes aliadas nesse processo.

b) O meio-ambiente tem sido – há pelo menos nos últimos 30 anos – o cenário constante de debates. A cada nova década, um novo modo da questão voltar à tona. O uso racional dos recursos naturais, a biodiversidade atingida, uma economia alternativa, e, mais recentemente, a resposta da natureza que tem sido mais direta e incisiva: o conjunto de incidentes naturais alarmantes – causa de destruição em massa. A tragédia no Japão deixa o planeta em estado de alerta. Os terremotos e o tsunamis não poderiam chegar até aqui? As nossas enchentes constantes também não seria um sinal de que a agenda pública voltada às questões ambientais é uma necessidade emergencial? Aqui a receptividade ambiental – diferente da tecnológica – nos parece estranha demais àquilo que nos rodeia e que nos oferece o aspecto vital de sobrevivência – desde o ar que respiramos até os alimentos que nos sustentam. Nossa “natural” apatia deve ser despertada ao repensar os velhos hábitos de consumo, de conhecimento e de ações que paralisem os efeitos degradantes sobre os ambientes naturais aos quais vivemos. Mais uma vez informação e educação serão convocadas para o encontro de soluções urgentes – que, em grande medida, estarão dentro de nós mesmos!

c) Quanto à questão cultural, vemos que a transferência do uso tradicional da disciplina japonesa, em situações de risco como a de um terremoto, movem uma prática comunitária constante de treinamentos e do conhecimento do seu espaço e de organização de todos. Seremos continuamente convidados a viver em situações de risco e incertezas – não apenas diluídos na sociabilidade, mas inscritos inclusive no meio ambiente. Estaríamos preparados para uma situação de abalo sísmico como ocorreu no Japão? Temos o hábito trocar de ideias, experiências e angústias a esse respeito? Um elemento novo a ser incorporado a nossa maneira de viver em grupos, compartilhando alegrias e problemas em comum. Os fatos aconteceram no Japão, mas poderiam ter ocorrido em qualquer lugar do globo. Paramos e nos sensibilizamos, pensamos o Japão aqui, pois nossa filiação primeira deve ser a de cidadãos do planeta terra.

 

 

[1] LÍGIA WILHELMS ERAS Doutoranda em Sociologia (UFPR); Mestre em Linguagem e Sociedade (Unioeste). Graduada em Ciências Sociais (Unioeste).

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