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SAÚDE

Os planos de saúde interferem diretamente no trabalho do médico, afirma AMP

Os médicos de Toledo aderiram a paralisação convocada pela Associação Médica de Toledo e referendada pela Associação Médica Brasileira (AMB), Conselho Federal de Medicina (CFM) e Federação Nacional dos Médicos (FENAM). Nesta quinta-feira (7), eles deixaram de atender os planos e seguros de saúde.  O objetivo da paralisação é reajustar os honorários médicos, que segundo os organizadores do movimento, em 10 anos obteve um reajuste de 44%, enquanto o IPCA – Índices de Preços ao Consumidor acumulado na década foi de 106,33% e o reajuste ANS - Agência Reguladora dos Planos de Saúde no Brasil o acumulado foi de 132,97%. A Associação Médica do Paraná (AMP) adverte para ingerência das operadoras na atuação médica.

07/04/2011 - 20:26


No dia Nacional de Paralisação do Atendimento aos Planos de Saúde, o médico Sérgio Sória conversou com a reportagem e disse que a população precisa conhecer a saúde financeira da medicina no Brasil. Segundo ele, a população precisa saber que os reajustes pagos nas mensalidades dos planos de saúde pouco é repassado para os médicos. “Na verdade, a maioria dos planos, não reajusta o pagamento das consultas há vários anos. Por exemplo, se este ano um paciente pagar um valor X, no ano seguinte muda a faixa etária e paga o dobro, uma parcela muito pequena vai para o médico”.

Sória lembra que foi criada a tabela nacional CBHPM – Classificação Brasileira Hierarquizada de Procedimentos Médicos, onde estão listados todos os procedimentos médicos e também se preconiza um valor mínimo para as consultas de R$ 80. “Cada plano de saúde deveria se adequar a estes valores. Tem plano de saúde que paga R$20 a R$30. Eles esquecem que por muitos anos eles lucraram a custa do trabalho médico - deixando de reajustar os honorários  e isso gera um péssimo atendimento de saúde a população, porque os médicos tem gastos cada vez maiores, desde gastos com pessoas até deixarmos de comprar equipamentos novos e melhores. Sem aumento de receitas e com aumento de despesas ficamos muito limitados. Esta visão que os médicos ganham muito dinheiro e estão reclamando de barriga cheia é uma visão distorcida e que infelizmente, às vezes, a população enxerga desta forma”.

Repasse das sobras

A Unimed, uma das operadoras de planos de saúde no estado, emitiu nota sobre a paralisação dos médicos e um dos pontos destacados foi que a empresa não visa lucro, e que as sobras são distribuídas entre os cooperados. O médico Sérgio Sória, afirmou que todas as operadoras de planos de saúde têm déficit no pagamento das consultas. “Todos eles são organizados isoladamente e respondem a um órgão nacional, dependendo de como isso é administrado consegue aumentar ou não o valor dos honorários. Quanto aos repasses se houver lucro no final do ano haverá um pequeno repasse, é um repasse moderado ao passo de que se tiver prejuízo os médicos também serão cobrados, ou seja, se a cooperativa tiver prejuízo no final do ano, cada médico terá que pagar. Até é um paradoxo, pois o médico é um associado desta cooperativa de saúde e tem que estar lutando para que a cooperativa entenda e faça um repasse maior para os honorários”, lamentou Sória.

Problema de gestão

O médico pondera que é difícil afirmar que há má gestão nas operadoras. “Não estamos lá para saber como se administra um órgão tão grande. Gerir saúde é um pouco complicado, mas quando observamos que algumas sucursais podem pagar até mais que R$ 80 ou R$ 90, então acreditamos que isso é possível. Alguns planos de saúde dizem que não tem verba e aí surge alguns casos de desvio de dinheiro, como recentemente em Curitiba, vimos duas ONGs que gerenciavam dinheiro de OSCIP vinculadas a prefeitura de Curitiba – desvio absurdo de dinheiro. Observando este desvio de verba, ficamos até revoltados, porque este dinheiro poderia ser repassado para honorários e os médicos poderiam sentir-se melhor para atender melhor”.

Sória considera que o reajuste ou uma revisão nos valores que os usuários pagam e uma revisão nos gastos que ocorrem nas estruturas destes convênios de saúde pode possibilitar a correção nos honorários médicos. “Atualmente tem convênio que paga menos de R$10 por consulta, isto é menor do que o Ciscopar paga, quase menos que o SUS paga. Tem médico que fala: é melhor atender SUS do que convênio. Socialmente é uma consulta que dá um retorno maior, pois atende alguém que tem dificuldade, uma pessoa que precisa daquele atendimento e que não passa pela burocracia de um plano de saúde”.

Caos na saúde

O médico alerta que o caos na saúde visto pela mídia não é só no SUS. “O SUS é um pedaço da saúde brasileira. Nos convênios às vezes um paciente deixa de conseguir uma consulta, em função de um médico ter que atender cada vez mais, um número maior de consultas num tempo menor, para ter um rendimento mínimo para manter sua clínica. O maior prejudicado é o paciente e nós não queremos isso. Queremos melhorar nosso atendimento, queremos que o paciente sinta-se satisfeito, para que ele não precisar ir para outra cidade, porque podemos resolver tudo por aqui. Mas, para isso, precisamos que a população entenda e que os planos de saúde e convênios façam este repasse já combinado há algum tempo através da CBHPM”.

Em carta aberta à população a Associação Médica do Paraná e o Conselho Regional de Medicina – PR dá o tom do possível caos que o médico adverte. “O objetivo (da paralisação) é protestar contra a forma desrespeitosa com que os médicos e os pacientes são tratados pelas empresas que atuam no setor. Os planos de saúde interferem diretamente no trabalho do médico: criam obstáculos para solicitação de exames e internações, fazem pressão para a redução de procedimentos, a antecipação de altas e a transferência de pacientes. Os contratos entre as operadoras e os médicos também são irregulares, estão em desacordo com as normas estabelecidas pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS)”, diz a carta.

Espera para consultas

Sória confirma que a fila de espera para consultas via plano, também é provocada pelos preços pagos pelos honorários, mas aponta falha do usuário no uso dos planos. “Esta relacionada ao preço das consultas, mas também há uma falha eventual de algum usuário que quer consultar com um determinado médico de uma determinada especialidade, se não tem vaga com aquele médico ele já reclama com o convênio. Ele não vai à listinha do convênio ver se o próximo tem vaga, o outro tem vaga. Às vezes temos especialidades com 10 médicos em Toledo. O paciente liga para dois, não consegue vaga e já liga para o convênio reclamando. Ele não ligou para todos. E às vezes o paciente acaba indo para outra cidade, consegue vaga na hora porque tem médico sobrando, mas não é atendido por aquele que ele queria, aí fala mal da cidade que ele está para ser atendido em outra, por um médico recém chegado e sem experiência. O paciente precisa se programar: ‘Ah em abril eu preciso consultar com um determinado médico, então ligue em janeiro ou fevereiro’. Se antecipe, agende as consultas assim que o médico indicar o retorno”, aconselha.

A paralisação nacional de atendimento aos Planos de Saúde é de advertência, por isso, nesta sexta-feira (8) todos os profissionais atendem normalmente. Sérgio Sória finaliza pedindo a colaboração da população e a sensibilização dos operadores dos planos e convênios. “Gostaríamos que esta fosse a primeira e única paralisação. Gostaríamos que fossem atendidas as nossas solicitações e que a população entendesse as nossas razões. Caso for necessário, outras paralisações deverão ocorrer”.

Por Selma Becker

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