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ECONOMIA

Setor do agronegócio já sente reflexos do apagão de mão de obra; IPEA diz que em 2011 a indústria terá um déficit de 18,5 mil profissionais

O setor da agroindústria continua sendo a principal fornecedora de vagas em aberto na Agência do Trabalhador em Toledo. Das mais de 400 vagas abertas por mês na agência, cerca de 50% são vagas operacionais para esse setor, especificamente para frigoríficos e cooperativas da região de Toledo, Cascavel, Marechal Cândido Rondon e Palotina. De acordo com o gerente da agência, Jozimar Polasso o Sine a grande fatia das vagas operacionais é preenchida imediatamente e a outra metade fica no cadastro de reserva. Esta situação pode ser vista de dois modos: de um lado favorece a rotatividade e do outro a questão do apagão de mão de obra – falta trabalhadores para suprir a demanda.

03/05/2011 - 09:11


Essa grande demanda vem ao encontro do crescimento do setor da agroindústria que para suprir as necessidades de produtividade cada vez mais aumenta o número de vagas disponíveis. Polasso informa que um frigorífico da região ampliou seus lotes de exportação e que por isso vai aumentar o número de trabalhadores contratados para dar conta da produtividade exigida. Ele analisa ainda que por haver uma grande oferta de vagas esse fator contribui para a rotatividade no setor. “A rotatividade existe justamente pela quantidade de vagas abertas. Hoje o candidato vai até uma empresa e observa a situação e se ele vai se adaptar e se a proposta de salário é atraente. Se ele sai da empresa sabe que existem outras vagas na mesa área. Atualmente existe essa flexibilidade, pois as pessoas procuram melhores salários e propostas”, analisa o gerente do Sine/Toledo.

Os trabalhadores do setor operacional recebem em média de R$690 a R$715 mais os benefícios. Apesar do salário não ser considerado alto, estas vagas atraem uma grande massa de trabalhadores, pela grande oferta como também por exigir pouca escolaridade. Deste modo, este setor das vagas operacionais acaba sendo uma saída para quem precisa de emprego imediato e não possui muita qualificação.

A menor parte das vagas oferecidas no Sine são aquelas que exigem no mínimo ensino médio incompleto ou graduação incompleta. Estas vagas que são para área administrativas possuem critérios mais seletivos e oferecem uma remuneração um pouco melhor com salários que variam de R$800 a R$1200.  

No contra peso da fartura de ofertas de vagas, Polasso afirma que existem setores que vem sofrendo com o apagão de mão de obra. Na região, ele afirma que o setor de construção civil e confecção já sentem dificuldades para contratar, por não encontrar mão de obra qualificada e disponível o suficiente que possa suprir as demandas de trabalho do setor.

Apagão de mão de obra

Apesar do Paraná ser o terceiro estado em geração de empregos em março segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged),foram 13.927 novos empregos formais em março de 2011, o estado já é afetado pela falta de mão de obra qualficada segundo o pesquisa do Instituto de Pesquisas Econômica Aplicada (Ipea). O Instituto projeta que haverá um saldo de 18,4 mil profissionais em falta no Estado. A indústria de transformação deve ser o setor mais afetado.

A falta de pessoas interessadas em trabalhar é uma realidade que compromete setores estratégicos da economia da região Oeste, em especial um dos principais pilares do agronegócio, a avicultura, bem como a construção civil, a indústria moveleira e setor metalmecânico.

Os dados são do escritório regional de Cascavel da Setp (Secretaria Estadual de Emprego, Trabalho e Promoção Social), que elencou os empregos que mais são ofertados nos 28 municípios de sua área de abrangência. Segundo a chefe da Setep, Lizmari Fontana, os efeitos são sentidos também no setor de prestação de serviços. “É grande a procura por empresas em mão de obra especializada e até mesmo as funções mais simples”, afirma.

De acordo com informações divulgadas pelo Ipea (Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas), até o fim do ano haverá um saldo de 18,4 mil profissionais em falta no Estado. A avicultura, segundo o mesmo estudo, tem carência de mão de obra de duas mil vagas. Seis das oito maiores empresas do ramo localizadas no Estado e que possuem grandes frigoríficos estão localizadas na região Oeste.  Tendência essa que é confirmada pelo gerente do Sine de Toledo que informou que há mais vagas do que trabalhadores para suprir a demanda do agronegócio.

O setor da construção civil também tem sentido o apagão de mão de obra. Segundo o Sinduscon Oeste pelo menos 120 vagas estão disponíveis na construção civil de Cascavel e região. São vagas que oferecem bons salários, atingindo valores médios de R$ 1,2 mil.

Segundo o Governo Federal o índice de desemprego da construção civil é de 2,9%. Contudo, 30% da mão de obra da construção civil está na informalidade.

Um levantamento divulgado na semana passada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) confirma o problema. Segundo o estudo, nove em cada dez empresas da construção civil sofrem com a falta de trabalhadores qualificados. De acordo com a Sondagem Especial da Construção Civil, que ouviu 385 empresas entre os dias 3 e 20 de janeiro, 89% das empresas enfrentam dificuldades por causa da falta de trabalhador qualificado.

Indústria

De acordo com o levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), em 2011 a indústria deverá ter um déficit de 18,5 mil profissionais qualificados. A área de transportes, armazenagem e comunicação (logística), por sua vez, vai apresentar o maior índice de falta de trabalhadores com experiência no Brasil: serão 3,4 mil vagas não preenchidas por falta de pessoal preparado. Segundo o estudo “Emprego e Oferta Qualificada de Mão de Obra no Brasil: Projeções para 2011”, enquanto sobram vagas nestes dois setores, outros 12,4 mil paranaenses com qualificação e experiência ficarão desempregados porque as demais áreas da economia não conseguem absorver tantos profissionais.

Mesmo com a alta demanda por novas vagas, o Ipea calcula que mais de 1 milhão de trabalhadores com experiência e qualificação profissional permanecerão desempregados no país, mesmo com o incremento dos postos de trabalho durante o ano. Isso porque o Brasil terá no fim do ano 22 milhões de trabalhadores qualificados mas a estimativa é que sejam contratados 21 milhões de novos trabalhadores.

O Ipea chega a este número somando as 19,3 milhões de contratações que devem ser feitas em razão da rotatividade no mercado de trabalho com os empregos gerados no ano. “Quando se contrasta a demanda potencial de mão de obra com a oferta disponível de trabalhadores qualificados e com experiência profissional conclui-se que poderá haver um excesso de mais de 1 milhão de trabalhadores”, informa o estudo.

O estudo do Ipea chama atenção para estas áreas deficitárias e analisa que esta é uma tendência regional. “A Região Sul poderá apresentar mais problemas de escassez de mão de obra, com três setores de atividade econômica com déficit de trabalhadores (comércio e reparação, indústria e transporte, armazenagem e comunicação)”, diz o levantamento.

 

 

 

 

 

 

Por Rosselane Giordani

Confira ainda reportagem em vídeo.

 

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