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SAÚDE

Oncofertilidade: Superando o câncer a vida continua...

A Oncofertilidade é uma nova subespecialidade médica que cuida da preservação da fertilidade dos pacientes que são acometidos por um câncer, pois é preciso lembrar familiares, médicos e o paciente que as chances de cura do câncer estão cada vez maiores, e a superação da doença traz novamente a vontade de ter filhos, seja a médio ou longo prazo.

15/03/2016 - 13:23
Dra. Tânia Balcewicz

Dra. Tânia Balcewicz

Médica graduada pela Universidade Federal do Paraná em 1989. Residência médica em Ginecologia e Obstetrícia no Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná. Pós-graduação lato sensu em Reprodução Humana pelo Instituto Sapientiae, reconhecida pelo Conselho Nacional e Conselho Estadual de Educação. Pós-graduação lato sensu em Pesquisa Clínica pela PUC-PR. Especialização com certificado de habilitação em Ultrassonografia pela Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO). Título de Especialista em Ginecologia e Obstetrícia (TEGO) pela FEBRASGO. Membro da Sociedade Brasileira de Reprodução Assistida e da Sociedade Brasileira de Reprodução Humana. Participante da diretoria da SOGIPA - Sociedade Paranaense de Ginecologia e Obstetrícia na Comissão de Reprodução Humana 2010-2011. Atua em Reprodução Humana, Ginecologia, Obstetrícia e Ultrassonografia em Toledo, Paraná.


É muito difícil falar sobre fertilidade no momento em que a vida está em jogo, mas isso deve ocorrer no exato momento em que o tratamento contra o câncer está sendo planejado. O doente tende a pensar que a vida acabou ali e esse sentimento contagia todos ao seu redor. A Oncofertilidade é uma nova subespecialidade médica que cuida da preservação da fertilidade dos pacientes que são acometidos por um câncer, pois é preciso lembrar familiares, médicos e o paciente que as chances de cura do câncer estão cada vez maiores, e a superação da doença traz novamente a vontade de ter filhos, seja a médio ou longo prazo.

As mudanças no comportamento social, adiando a chegada do primeiro filho para depois dos 30 anos, tem chamado atenção dos especialistas em reprodução humana, ginecologistas e oncologistas, que muitas vezes trabalham em conjunto, face à alta incidência de casos de câncer em pessoas mais jovens, e a necessidade de preservar a fertilidade destes pacientes, permitindo a eles que futuramente possam realizar o sonho de ter um filho.

Dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca) mostram que o diagnóstico de câncer de mama em mulheres abaixo de 40 anos subiu de 3% para 17% do total de casos nos últimos anos.  No caso de melanoma, Câncer de pele dos mais agressivos, 15% foram detectados antes dos 26 anos. Nas crianças os tipos de câncer mais frequentes são as leucemias, os tumores de SNC-Sistema Nervoso Central e os linfomas.

Diante do diagnóstico de câncer, o desafio é salvar a própria vida. Se décadas atrás sobreviver ao câncer era “TUDO”, inúmeras as batalhas e raras as vitórias, atualmente sabemos que a situação é outra, aproximadamente 75% das crianças e jovens que têm câncer sobrevivem com uma ótima qualidade de vida. Parte considerável deste sucesso se deve aos novos tratamentos cirúrgicos, associados à radioterapia e/ou quimioterapia.

Poucos pacientes que receberam o diagnóstico de câncer sabem, mas o tratamento contra a doença pode prejudicar as chances de ter um filho no futuro. Estudos mostram que a perda da fertilidade pode afetar as mulheres em 40% a 80% e os homens em 35% a 75%. Isso ocorre porque as alternativas de combate à doença, como a quimioterapia, a radioterapia e até a cirurgia, podem prejudicar a produção de espermatozoides e causar falência ovariana. Também há possibilidade de causar alterações no útero, em especial nos casos de radioterapia. Em alguns casos, a mudança é transitória; em outras, permanente.

Nos Estados Unidos, recentemente, o nascimento de uma menina graças à conservação do sêmen de seu pai, Chris Biblis, congelado há 21 anos, foi um marco desse avanço. Antes de iniciar sua luta contra a leucemia, tumor que afeta as células sanguíneas, quando ainda era um adolescente, o americano, de 38 anos, guardou os espermatozoides numa clínica de reprodução assistida.

O efeito devastador das terapias contra o câncer sobre a fertilidade tem explicação simples: as células tumorais se multiplicam de forma acelerada, e os remédios, em especial os mais antigos, atacam toda célula que mostre o mesmo comportamento. É o caso das células dos ovários e dos testículos, que têm uma multiplicação acelerada para produzir os óvulos e os espermatozoides, isso as torna alvo dos quimioterápicos também. A chance de perder a fertilidade varia conforme a idade do paciente e a agressividade do tratamento.

Os métodos da reprodução assistida disponíveis possibilitam ao paciente aumentar a chance de proteger seu corpo desse prejuízo. Eles têm como finalidade guardar tecidos e células saudáveis existentes antes do bombardeio químico de remédios, para usá-los depois. Opções como a maturação de óvulos (a maturidade dessas células é atingida em laboratório) e o congelamento de tecido ovariano ou testicular são oferecidas, embora o congelamento de gametas (óvulos e espermatozoides) ou de embriões sejam preferíveis, devido as taxas elevadas de bons resultados já comprovadas.

Já existem também medicamentos capazes de preservar o ovário provocando um estado de menopausa precoce, algo como uma “hibernação”. A vantagem do método é diminuir sua sensibilidade aos quimioterápicos. Com o metabolismo mais baixo e sem produzir óvulos, a divisão celular no órgão diminui. Com isso, há maior possibilidade de ser poupado dos efeitos da medicação. Após a quimioterapia, o medicamento é suspenso e, em alguns casos, a fertilidade é preservada.

Antes de mais nada, enfatizamos que cuidar da fertilidade não é prejudicar e nem retardar o tratamento do câncer, mas sim permitir que, uma vez curado do câncer, a sua fertilidade seja restaurada e a qualidade de vida seja a melhor possível. É preciso esperar a cura do câncer, pelo oncologista, e a paciente pode tentar a gravidez depois de seis meses, no mínimo, do fim do tratamento, porque existem riscos de resíduos do medicamento quimioterápico causar má-formação no bebê.

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