O domingo no Brasil terminou de forma trágica. Por volta das 19h30 de ontem (02) um incêndio tomou conta do Museu Nacional no Rio de Janeiro, a mais antiga instituição histórica do país. Fundado por dom João VI, em 1818, o museu possui nota elevada nos institutos de pesquisa por reunir peças raras, como esqueletos de animais pré-históricos e múmias.
De acordo com o Corpo de Bombeiros, o fogo foi controlado por volta das 3h de hoje (03), e os militares fazem o trabalho de rescaldo em pequenos focos de incêndio que ainda persistem, na tentativa de evitar o reinício das chamas. Não há previsão para o início da avaliação das condições do prédio nem da perícia, pois há locais ainda com focos de incêndio.
A previsão é que equipes de bombeiros entrem no prédio para avaliar as condições da estrutura. O trabalho de perícia e de investigação será conduzido por agentes da Polícia Federal da Delegacia de Repressão a Crimes Contra o Patrimônio.
O Museu Nacional do Rio reunia um acervo de mais de 20 milhões de itens dos mais variados temas, coleções de geologia, paleontologia, botânica, zoologia e arqueologia. No local, estava a maior coleção de múmias egípcias das Américas.
No local, também estava Luzia, o mais antigo fóssil humano encontrado nas Américas, que remete a 12 mil anos, e representa uma jovem de 20 a 24 anos. No museu, havia ainda o esqueleto do Maxakalisaurus topai, maior dinossauro encontrado no Brasil.
Hoje pela manhã foi possível verificar parte da extensão da tragédia. A fachada foi atingida pelo fogo, desabou o teto e o interior do edifício foi praticamente destruído. Os bombeiros tiveram dificuldades em controlar o fogo porque os hidrantes não funcionaram. Foi necessário recorrer à companhia de águas e saneamento do Rio e ainda buscar água no lago do parque nacional onde está o museu.
Manifestos
Um protesto de indignação e solidariedade após o incêndio no Museu Nacional no Rio reuniu uma multidão na porta da Quinta da Boa Vista na manhã de hoje. Com críticas ao poder público de modo geral e ao governo federal, o ato apontou descaso com a história do Brasil, com a ciência e instituições públicas de ensino e pesquisa.
Os manifestantes começaram a chegar pouco depois das 9h, mas foram impedidos de entrar na Quinta da Boa Vista por guardas municipais. O museu, que foi a residência da Família Real durante o Império, fica dentro do parque e guardava um acervo de história natural considerado o maior da América Latina, além de peças de importância antropológica vindas de diversas partes do mundo.
O protesto continuou do lado de fora do portão e houve momentos em que os manifestantes tentaram entrar, quando os portões tinham de ser abertos para a passagem de veículos. Em ao menos um desses momentos, houve uso de spray de pimenta, e o clima ficou tenso.
A servidora e pesquisadora da Fiocruz Márcia Valéria Morosini foi ao ato prestar solidariedade aos funcionários do museu e defendeu que era preciso liberar a entrada, porque o protesto era um gesto de abraço.
"Todos nós, brasileiros, tínhamos que estar aqui. O que se perdeu hoje é muito representativo e é muito simbólico das perdas acumuladas para a ciência do Brasil", disse ela. "O que perdemos é uma memória do mundo. Nós éramos guardiões de uma parte da memória da humanidade."
História
O local foi sede da primeira Assembleia Constituinte Republicana de 1889 a 1891, antes de ser destinado ao uso do museu, em 1892. O edifício é tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
O Museu Nacional do Rio oferece cursos de extensão e pós-graduação em várias áreas de conhecimento. Para esta semana, era esperado um debate sobre a independência do país. No próximo mês, estava previsto o IV Simpósio Brasileiro de Paleontoinvertebrados.
Universidades, professores e pesquisadores de todo o país se unem em protesto contra o incêndio que atingiu o Museu Nacional do Rio de Janeiro, destruindo a maior parte do acervo, que reunia 20 milhões de itens. Para todos, o dano é irreparável.
Em nota, o Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes) e universidades lamentaram o episódio. “O Andes vem a público denunciar o descaso para com as diversas manifestações dos curadore(a)s, pesquisadore(a)s e demais interessado(a)s sobre a manutenção e conservação do Museu Nacional.”
O Museu Nacional é vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), responsável por cursos livres e pós-graduação em distintas áreas. “Somos solidário(a)s e estaremos ombro a ombro na luta pela defesa deste espaço, acreditando que a restauração de sua estrutura celebre a repactuação da ciência, da tecnologia, da educação e das artes como vetores de combate à dependência tecnológica, bem como ao combate à pobreza e à miséria que assolam nossa nação”, diz a nota.
“Obras, documentos e incontáveis peças de valor arqueológico, antropológico, botânico, zoológico e cultural foram consumidas pelas chamas. Uma calamidade para a ciência brasileira e uma perda irreparável para a memória nacional”, diz outra nota da Universidade Federal Fluminense (UFF).