A realidade de Toledo não difere do quadro médio nacional, não só nos percentuais de partos por cesáreas, mas também pela incidência maior entre as mulheres mais instruídas e atendidas nas redes particulares e conveniadas, enquanto a menor incidência ocorre no SUS.
A ginecologista e obstetra especialista em reprodução humana, Ionara Barcelos avalia que no Brasil tem se construído uma cultura de que a cesárea é mais segura. Ela acrescenta que é comum no final da gestação a mulher sentir-se mais ansiosa e com isso a cesárea acaba aparecendo como uma condição de conforto pelo agendamento do parto. “Desde que a Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia considerou que é possível fazer a cesárea a pedido da paciente e que isso não é uma atitude anti-ética do médico, óbvio observando as condições e a idade gestacional, a paciente acaba optando pela cesárea. Mas se pensarmos nas vantagens do parto normal é bom trabalhar para contornar isso... é preciso promover uma mudança cultural. As mulheres precisam ter mais contato com o parto normal”.
Ionara acredita que é preciso buscar a redução no percentual de cesáreas, mas que isso passa por ações efetivas que possibilitem o parto humanizado, que é possibilitar a paciente um ambiente para repouso, de preferência acompanhada pelo marido, se possível aplicar a analgesia de parto, oferecer o acompanhamento multiprofissional. “O parto humanizado não é uma atitude exclusiva do médico. É preciso ter uma fisioterapeuta acompanhando o pré e pós parto, uma equipe de enfermagem oferecendo todos os cuidados e o médico acompanhando todo este processo. Nós precisamos melhorar o ambiente hospitalar, humanizar este ambiente”.
Para atender o que a OMS preconiza é fundamental que haja políticas públicas que vão ao encontro deste objetivo, como investimento em estrutura física e humana, para o melhor atendimento da gestante e do bebê. “Tem que haver um investimento mais contundente. Se há interesse em humanizar o parto é preciso dizer quais as estratégias reais para melhorar e humanizar este parto. Nós vamos melhorar as salas de parto? Teremos um número maior de profissionais envolvidos ao longo do trabalho de parto? Como será a remuneração destes profissionais? Não só a questão da remuneração, mas da estrutura. Precisamos ter salas de parto equipadas”, finalizou.
Texto Selma Becker