Um espaço para acolher, criar e fazer cultura resgatando e valorizando a identidade cultural brasileira. Com essa filosofia nasceu a Casa de Cultura kilombo Tekoha em Toledo idealizada por um grupo de artistas e agentes culturais que defendem a educação e a cultura como agentes transformadores nas comunidades e territórios da cidade. O projeto já está em funcionamento em um espaço próprio localizado na Vila Operária em Toledo, mas terá sua inauguração oficial no dia 14 de março quando abre as portas para a comunidade e passa a ofertar diversas atividades e oficinas de forma gratuita.
Segundo Henrique Laurentino, um dos idealizadores e coordenador do espaço, o objetivo da casa de cultura é unir artistas, oficineiros e agentes culturais que já desenvolvem suas atividades na cidade e trazer ações para dentro desse espaço que irá atender toda a comunidade. Ele conta que o projeto é um sonho coletivo e que se formou uma rede de agentes culturais envolvidos no desenvolvimento das atividades e oficinas que serão ofertadas de forma gratuita à comunidade. “Nós temos diversas pessoas que estão trabalhando de forma voluntária para oferecer atividades e oficinas que vão desde a arte terapia, capoeira, dança, aulas de violão, inglês e hip hop. Henrique conta que a ideia é atender a comunidade, envolvendo também as mães e pais das crianças em atividades. “Queremos ser um centro de formação, mas também um elemento agregador da comunidade”, frisou.
A professora Jaqueline Parmigiane, que também é uma das idealizadoras do projeto, reforça que a ideia do espaço tem relação com a ideia de pertencimento, de acolhimento e identificação. “Queremos que as pessoas se sintam bem ali, a vontade, se sintam acolhidas como se estivessem em suas casas. Esse sentimento de pertencimento que queremos estabelecer tem relação direta com o nome que usamos para nosso espaço”, afirma Jaque que vai explicar que o nome da associação foi criado a partir da junção de duas palavras de matriz africana (kilombo) e matriz indígena (Tekoha) que tem um significado cultural para espaço, lugar, território, atribuindo-lhe um sentido de pertencimento e de identidade para as pessoas que ocupam aquele lugar. Ela explica que a ideia do nome afro-indígena tem como objetivo um resgate e uma reafirmação da identidade cultural brasileira que tem nesses povos uma relação cultural e histórica profunda. “Queremos resgatar e dar visibilidade a aspectos da nossa cultura que muitas vezes são invisibilizados. Pois precisamos ir além da cultura do homem branco de descendência alemã, italiana, europeia. Precisamos de um espaço que olhe também para a origem da nossa cultura que vem do índio, do negro, que fazem parte da nossa identidade cultural”. Jaque explica que além da intenção do resgate cultural, o nome também carrega um sentido simbólico, pois as duas palavras expressam não somente uma ideia de identidade cultural, mas também tem o sentido de ocupação de espaço. “Kilombo e Tekoha expressam uma ideia de apropriação coletiva do espaço. O kilombo é um espaço comunitário dos quilombolas. A comunidade que a é dona do kilombo, do território. E o Tekoha traz a ideia de casa, de uma aldeia, um espaço que não é uma propriedade privada, mas se tem uma comunidade e um lugar onde é possível ser você. Um lugar cultural, onde o Povo Guarani aprende a ser guarani. E os nossos projetos têm muito a ver com isso, queremos produzir cultura a partir da comunidade, e uma cultura que tem a ver com nossa tradição e matriz étnica que também é indígena e africana”. O professor Henrique complementa salientando que a memória histórica da palavra kilombo nos remete a ideia de resistência, de luta, de liberdade e tekoha significa morada, lugar de cultura, de identidade guarani, por isso a casa de cultura tem também quer ter essa conotação de resistência cultural. “Temos esses dois nomes por nos remeterem a duas bases da cultura brasileira que historicamente foram espaços de resistência. Lugar onde a cultura resiste. E nós queremos ser também um espaço onde a cultura, a arte e a educação resistem ainda mais nesse momento político em que vivemos que a cultura e a educação vêm sendo atacadas”.
COMO SURGIU
O professor de capoeira Henrique Laurentino conta que a ideia de criar uma casa de cultura popular na cidade surgiu há mais ou menos dois anos atrás quando realizavam um projeto de Maracatu. “Tínhamos a ideia de ocupar os espaços públicos para ensaiar com nosso grupo e víamos a necessidade de ter um espaço de cultura, uma associação para desenvolver atividades e oficinas direcionadas a comunidade. Desse sonho nasceu o Kilombo Tekoha”, conta Henrique que afirma que a Associação é a concretização do sonho de um grupo de pessoas que acreditam que a cultura e a educação têm o poder de despertar e potencializar sonhos. “A cultura e educação são elementos transformadores, elas podem oferecer novas perspectivas de vida. Eu mesmo participei de um projeto social que mudou minha vida e graças a esse projeto eu sou uma pessoa melhor, pois a cultura me ajudou num processo de autoconhecimento, e a me expressar e socializar. Por isso acredito que a casa de cultura tenha essa função de fazer com que os adolescentes e crianças possam se tornar protagonistas de suas histórias”, afirma Henrique.
INAUGURAÇÃO
A inauguração do kilombo Tekoha acontecerá no próximo dia 14 de março a partir das 16 horas e contará com a realização de Feira Cultural com diversas atividades e apresentações artísticas e roda de capoeira.
A sede da Associação Cultural kilombo Tekoha está localizada na Rua Primeiro de Janeiro, número 101, Jardim Paulista.