Quanto vale a vida?
Hoje eu recebi um orçamento. Vale 22 mil reais a diária. 10 são só pelo direito de reivindicá-la. Os outros 100 dão o direito a cinco dias de luta e nada mais.
Na foto que eu recebi por WhatsApp vi dois olhos entreabertos, emoldurados por olheiras profundas, feito luz no fim do túnel. Pedro Soares de Andrade quer viver.
Meu tio tem 64 anos. Desde que um vento atravessado deu a ele um diagnóstico de Covid-19 respirar ficou cada dia mais difícil. Trocou a máscara de pano pela de oxigênio. Depois a cama de casa por um leito improvisado. Foi intubado e só não faltou oxigênio, porque outro alguém melhorou e deu a ele um lugar no hospital. Mas na ala de UTI não cabe mais gente.
Quanto vale uma UTI?
No relatório da reportagem que entreguei ontem, pra televisão, um respirador e um monitor valem exatos 100 mil reais. Cada kit representa a esperança pra uma vida no Paraná. Foram 52 no total. Quem pagou a conta foram empresários. Os outros itens do orçamento são pagos pelo SUS.
Mas a 2.300 quilômetros do Paraná, os 100 mil do meu tio só valeriam o direito a cinco dias de luta. Não tem doação pra cidade de Colíder, no Mato Grosso.
Quanto vale o tempo?
O tempo vale a vida que se esvai. Indomável, na pandemia ele parece mais complacente com que tem dinheiro. Quem paga o preço da vida ganha uma UTI. Quem ganha uma UTI ganha tempo pra lutar.
Enquanto eu espero, meu tio luta.
Enquanto ele luta, me pergunto:
Quão justo é tudo isso?
