O alto nível de endividamento dos EUA ainda reflete, entre outros fatores, efeitos da "ressaca" da crise financeira desencadeada em 2008 pela quebra do banco Lehman Brothers. Isso porque, em tempos de recessão, um país precisa de mais dinheiro para estimular a economia. No caso dos EUA, o país emitiu mais papéis para ter dinheiro para evitar a falência de empresas e bancos em dificuldades, isentar e reduzir alguns impostos, e pagar benefícios sociais como seguro-desemprego, mais necessários em épocas de demissões e cortes de pessoal. A decisão de socorrer setores da economia que estavam em risco de falência endividou não só os EUA, mas de outros países que hoje enfrentam problemas com a dívida: Grécia, Irlanda e Itália, por exemplo. O técnico do Deral, João Luís Nogueira, reforçou que a crise interna dos EUA está relacionada com os baixos salários, desemprego, renda das famílias, entre outros fatores. “As dívidas americanas estão comprometidas devido problemas no mercado imobiliário desde o ano de 2008”. Ele acrescentou que estes fatores preocupam a comunidade econômica mundial, pois países, como a China, o maior importador de produtos do agronegócio brasileiro tem o mercado americano como o seu maior mercado. “A crise impacta as exportações da China e, consequentemente, as nossas exportações para aquele país”, afirma Nogueira.
Nogueira acredita os fundos de investimentos que atuam no mercado dos comodditties em virtude do risco recuaram. Diante disso, segundo Nogueira, nos últimos dias, os preços do milho, soja e, principalmente trigo, tem oscilado com viés de quebra. No entanto, isto deve ocorrer em curto prazo, pois os preços dos mercados reagem automaticamente com a mudança dos fundos de investimentos. “Quando olhamos os preços para março e maio do próximo ano, eles continuam sustentados. Existe uma confiança dos fundamentos de oferta e demanda que foram importantes para que os preços se mantivessem bom no primeiro semestre. A oferta tem sido menor que a demanda devido o aumento do consumo principalmente da China e do Brasil, que vem dando sustentação aos preços dos grãos”, comenta.
Outro fator destacado por Nogueira que está afetando o mercado de grãos é o clima. Até uma semana atrás as lavouras nos EUA sofriam com a seca e trabalhava-se com redução de produtividade. Neste momento, o clima mudou e, com isso, altera o mercado. “É interessante que o agricultor brasileiro fique de olho nos mercados climático e ações. Com a colheita do milho safrinha avançando no Paraná, o Deral aponta uma redução de 3 milhões de toneladas. Acredito que esta redução vai impactar na questão da oferta”.
Cinco commodities garantem 43% da exportação do Brasil
O processo de concentração da pauta de exportações brasileira em poucos produtos primários avança rapidamente. Em 2010, as vendas de cinco commodities – minério de ferro, petróleo em bruto, soja (grão, farelo e óleo), açúcar (bruto e refinado) e complexo carnes – responderam por 43,4% do valor total exportado pelo Brasil, uma fatia bastante superior aos 27% de 2004. O maior destaque é o minério de ferro, cuja participação subiu de pouco menos de 5% para mais de 14%. Outra alta considerável foi a da fatia do petróleo em bruto, de 2,6% em 2004 para 8% em 2010, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (Mdic).
O boom dos preços de commodities nos últimos anos, puxado pela demanda de países asiáticos, é fundamental para explicar esse movimento, assim como o desempenho mais fraco no pós-crise dos países que normalmente compram mais produtos manufaturados brasileiros, como os EUA, num quadro de câmbio valorizado.
Para o economista-chefe do setor de integração e comércio do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Mauricio Mesquita Moreira, há um inequívoco “efeito China” nos números. Mesmo depois da crise, o país asiático continuou a crescer a taxas elevadas.
O perfil das exportações totais ficou mais parecido com a pauta para a China”, afirma ele, citando especialmente o apetite chinês pelo minério de ferro e pela soja. Além disso, o aumento da importância do petróleo em bruto nas exportações totais se deve em parte à demanda chinesa. De janeiro a novembro (último dado disponível), o país asiático comprou US$ 3,9 bilhões do produto, alta de 214% sobre igual período de 2009.
A fatia do complexo soja, formado pelas vendas de grão, farelo e óleo, equivaleu a 8,5% do total exportado pelo Brasil em 2010, depois de ter atingido 11,3% em 2009. No ano passado, o complexo soja foi superado pelo minério de ferro como o item mais exportado por causa da combinação de forte alta dos preços e, em menor medida, dos volumes. Com isso, o valor exportado do produto atingiu US$ 28,9 bilhões em 2010, 117,4% a mais que em igual período de 2009. A Vale aumentou o preço do minério em mais de 100% no ano passado.
A pesquisadora Lia Valls Pereira, do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas (FGV), ressalta o avanço da China como o principal destino das exportações do Brasil, o que se acentuou depois da crise, dado o diferencial de crescimento entre o país asiático e o resto do mundo. Em 2010, a China ficou com 15,3% das vendas externas brasileiras, bem acima dos 9,6% dos EUA e dos 9,2% da Argentina.
As vendas de petróleo bruto também se beneficiaram do aumento dos preços em 2010. De janeiro a novembro do ano passado, os preços de exportação do setor de extração de petróleo subiram 50,5% em relação ao mesmo período de 2009, de acordo com números da Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex).
Entre as commodities, o Brasil exporta a maior parte delas sem agregar valor. No caso do açúcar, cujas exportações totalizaram US$ 12,1 bilhões em 2010, apenas 29% foram do produto refinado. No complexo soja, dos US$ 17,1 bilhões destinados ao exterior, 64,5% foram em grão. Para Moreira, um passo importante seria agregar valor à exportação de produtos primários, como vender menos minério de ferro e mais aço, assim como mais petróleo refinado do que bruto.
Confira entrevista completa em vídeo.
Por Rosselane Giordani com informações das agências
ECONOMIA
Crise econômica dos EUA afeta mercado dos comoddities
Nesta última semana, os olhos do Brasil e dos demais países do mundo ficaram voltados à crise econômica dos Estados Unidos. A negociação do Governo Obama com o Congresso sobre o pagamento da dívida do País poderá impactar a exportação de produtos dos demais países. Isto porque o Governo americano vai elevar o teto da sua dívida pública, conforme aprovação no Congresso. O projeto de lei eleva o limite legal de endividamento do governo do país e reduz o déficit orçamentário em US$ 2,7 trilhões em dez anos. Com a elevação do teto de endividamento, os EUA cumprem com as suas obrigações e evitam o calote aos seus credores. Os EUA devem somente ao Brasil a quantia de US$ 187 bilhões. O maior credor do país é a China, com US$ 1,1 trilhão, seguida pelo Japão com US$ 882,3 bilhões, o Reino Unido com US$ 272,1 bilhões e os exportadores de petróleo com US$ 211,9 bilhões.
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