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GERAL

Destruição da gruta abre caminho para loteamento na Vila Becker

Nem mesmo a noite gelada de segunda-feira (22) impediu que a comunidade da Vila Becker se reunisse na Associação de Moradores. O objetivo: buscar meios para que a Gruta Nossa Senhora de Lourdes do Seminário Verbo Divino não fosse destruída. O que aquela comunidade não sabia é que a reunião, a indicação de uma Comissão, as mais de 200 assinaturas do baixo-assinado e várias que estavam espalhadas em outras comunidades não impediriam que a gruta fosse ao chão. Mas a quem interessava a destruição da gruta? Por que a comunidade não foi ouvida? A Casa de Notícias apurou que houve um acordo judicial com a Prefeitura Municipal para desapropriação de parte da área, no entanto, o local onde estava a gruta ficou liberado para comercialização e o município receberia parte desta área onde se pretendia construir a sede do Museu e a ordem para destruição teria vindo do Seminário do Verbo Divino (SVERDI).

23/08/2011 - 21:03


Nesta terça-feira (23), aos poucos as pessoas chegavam ao local e não acreditavam no que viam. Alguns choravam, outros buscavam por explicações de tal ato e há aqueles que olhavam e se resguardavam em silêncio. Da gruta construída por pioneiros só restou as pedras, as flores, as lembranças e as lágrimas. O espaço – de oração, devoção e união de muitas famílias toledanas – deve se transformar no que chamam de progresso: o loteamento da área. Mas será que este progresso era necessário neste local?

O vice-prefeito, Lúcio de Marchi, afirmou que teve conhecimento da destruição pela imprensa. “Estive no local e fiquei muito triste pelo fato. É um desrespeito do Seminário Verbo Divino, dos seus diretores, com a sociedade de Toledo, porque receberam esta área em doação há muitos anos e agora afrontam a comunidade. Se reuniram de madrugada e foram derrubar a gruta”.

Lúcio de Marchi disse que só soube do acordo judicial entre a Ordem e o Município no dia de hoje (22) e que na Prefeitura não há o pedido de transformação da área em loteamento. No entanto, no processo que gerou o acordo judicial está incluso um mapa que determina a área destinada a utilidade pública, bem como a área liberada para comercialização, a qual estava a gruta.

O diretor da imobiliária parceira do SVERDI no processo de loteamento da área, João Luiz Seimetz afirmou que a prefeitura, no acordo judicial, pode escolher a área de utilidade pública e então optou pela esquina.

O vice prefeito confirmou o interesse da administração de construir o Museu na esquina da avenida Cristo Rei com a avenida Guarani. “Se o Município soubesse que havia interesse do Seminário em derrubar a gruta jamais iria admitir até porque se os projetos tivessem entrado na Prefeitura aquele patrimônio seria protegido, pois é um patrimônio cultural e envolve a fé da sociedade de Toledo”.

Para Seimetz o SVERDI é uma entidade respeitada e contribuiu pelo progresso religioso, econômico e social da região Oeste. “Foi graças o SVERDI foi autorizado a desapropriação de uma área para a construção da PUC por valores ínfimos. O mesmo fato se repetiu para a edificação da Universidade Tecnológica do Paraná (UTFPR). O SVERDI, no mundo, precisa continuar a sua missão. Ele deu muito mais para a nossa região, para o Município do que nós contribuímos com Verbo Divino”.

Seimetz confirma a existência do acordo. “Neste momento – existe sim – um acordo judicial com o Município de Toledo, onde ficou convencionado que parte daquela área que ainda pertence o SVERDI, a parte da frente será loteada, parte existe um decreto de utilidade pública do Município e a outra parte, os 14 mil metros quadrados, onde o SVERDI vai construir o novo seminário, localizado ao lado do atual”.

O proprietário da Imobiliária afirmou que na rua da UTFPR foi doada cinco metros para o Município para alargar a via. Da mesma forma, na rua Guarani e cedeu na mesma esquina em torno de 4 ou 5 mil metros, o qual o município deverá pagar R$ 200 mil. “O restante será loteado para o sustento deles para dar continuidade a sua missão”.

Ele comentou a parceria da empresa com a Entidade. “A Gruta está dentro de uma propriedade privada que é do SVERDI e, consequentemente, fará a parceria conosco. A gruta vai ser transferida para o novo seminário. A nossa Senhora de Lourdes está dentro do Seminário Verbo Divino e vai ser colocada de volta na futura gruta”.

João Seimetz afirmou que a ordem da demolição da gruta veio o SVERDI. A Casa de Notícias tentou contato com a Ordem, mas não encontrou o responsável em nenhuma das tentativas, mas se mantém aberta para ouvi-los.

A comunidade da Vila Becker, entende que antes de qualquer atitude tanto a Ordem quanto o município deveriam garantir aos moradores a possibilidade de apontar outros caminhos que não a destruição da gruta.

O morador Pedro de Almeida lembrou que na segunda quinta-feira de cada mês, um grupo se reunia na Gruta para orar. “Estávamos contentes que as pessoas viam para este local para nos encontrarmos neste ambiente de fé... Eles nos surpreenderam e desmancharam. Olha o que fizeram? Nem o respeito com a imagem. É algo da gente. É algo que nos afeta. Temos sentimentos”.

A arquiteta Andréia Becker esteve no local destruído e lamentou o descaso com a história, a fé e a vontade da comunidade. “Infelizmente é um momento muito triste, porque vemos que o dinheiro fala mais alto do que qualquer coisa. A gruta tem a história de mais de 40 anos, você imagine quanta gente já veio orar, pedir e foi abençoado dentro desta gruta. Você tirar a imagem de dentro da Gruta de Nossa Senhora de Lourdes e pegar um trator e passar por cima destas pedras, como se isso aqui não tivesse história, como se isso não tivesse significado”.

Andréia lembra que o Verbo Divino é uma área de doação. “A Maripá e vários outros moradores antigos da cidade doaram parte de chácaras e sítios para os Seminaristas. Isto começou a mais de 40 anos atrás. Foi um dos primeiros ou o primeiro Seminário de Toledo. A construção dela foi feita com a mão deste povo daqui. Doação de gente como o meu pai, moradores, cada um dava o que podia e foi construído este seminário para o povo. Meu pai construiu esta gruta com moradores, pedra sobre pedra”.

Ela ainda desabafa. “Eu sou arquiteta e sou a favor do progresso, mas o mundo inteiro está progredindo junto com a natureza e nós aqui estamos fazendo o contrário estamos derrubando para construir. Tenho certeza que meu pai, onde estiver, neste momento, esta muito triste”.

Andréia lembra que os moradores sugeriram que o município optasse como área institucional o local onde estava a gruta ao invés da área na esquina. “Daí poderiamos manter o bosque, a gruta e construir o museu que é intenção do Prefeito. Assim poderíamos preservar a memória da cidade, porque museu é preservar a memória, então a gente começava preservando a memória com o que a gente já tem. Nós podemos construir um museu a partir daquilo que temos e é a nossa história. O que vamos fazer agora? Nós vamos pegar um pedaço de pedra e colocar no museu para contar a história de uma das primeiras grutas de Toledo? Vamos ficar a mercê da especulação imobiliária”, lamentou.

Reunião com a comunidade

As informações apresentadas na reunião de segunda-feira são que: A gruta foi construída pelos pioneiros há mais de 40 anos. Ela está localizada em uma área privada pertencente ao Seminário Verbo Divino (Sverdi), com matriz em Curitiba. Atualmente, segundo informações, a mantenedora tinha o desejo de vender a área para uma imobiliária, a qual pretende lotear o espaço. Para isso, a gruta e a mata seriam destruídas. No ano de 2006, o Município decretou a área de utilidade pública, porém a Sverdi entrou com uma ação judicial para questionar e foi realizado um acordo decretando novas áreas, nas quais, uma parte seria desapropriada para finalidade educacional; outra para o Seminário; loteamento e a área institucional que seria destinada ao Município. No encontro foi comentado que será para a edificação de um Museu ou Conservatório.

O diretor do Departamento de Patrimônio, Norisvaldo de Souza, explicou que no decreto 22/2009, o Município determinou de utilidade pública a área de 83 mil metros quadrados que é de propriedade da Sverdi. A Entidade entrou com uma ação e o juiz anulou este decreto e um acordo judicial foi firmado com o Município. “Ele refez os cálculos, mas com um processo menor, onde o Município através do decreto 325 de maio de 2010 considerou a área de 37.065,70 mil metros quadrados, ou seja, onde estão localizadas a estrutura física das edificações do Seminário e da Igreja, no entanto, a gruta não esta nesta área. “O decreto evita que outro grupo compre e destrua o local. Com este decreto, a Sverdi oficializou o desmembramento da área total. A gruta está numa área que pertence a outra matrícula, a qual há um estudo de um loteamento deste local”. Ele ainda comentou que o Município não tem autonomia para fazer um loteamento de venda comercial, porém é ele que expede as diretrizes para todo o empreendimento que será construído em Toledo. “O Município expediu uma diretriz, onde uma empresa trabalha em cima do loteamento, a qual deve dar entrada ao Município para apreciação e aprovação. O estudo ainda não foi encaminhado para ser apreciado e aprovado”.

Na reunião, Souza afirmou que - como representante do Município - ouviu os apelos da comunidade por esta gruta e uma análise deveria ser realizada em prol da comunidade.

Muitos moradores acreditavam que a área já pertencia a Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). Para isso, o diretor geral do campus, Carlos Roberto Juschen, foi convidado para fazer o seu relato. Ele contou que em meados de 2004, a Universidade instalou-se na antiga Funet – um local que deveria ser devolvido ao Governo Federal. O Município foi contemplado com a construção de um campus. Assim, o espaço foi considerado insuficiente e por meio do intermédio da prefeitura foi estabelecido um acordo e a área da Funet foi repassada a Prefeitura no valor de R$ 900 mil. Com este valor foi comprado um terreno na Vila Becker. “Não temos nem a metade do que precisamos para investir como desejamos em Toledo. Há dois anos entreguei um projeto da construção de um Parque Tecnológico, mas para isso, a Prefeitura teria que decretar toda a área de utilidade pública (como fez), no entanto, não tive notícia alguma”.

Ele lembrou que no início quando a Universidade mudou para o terreno, a ideia era comprar toda a área do Seminário. No entanto, isto não aconteceu. “O que foi realizado foi o desmembramento de três partes, uma das partes é uma área institucional para a Prefeitura construir um museu. E para universidade não restou nada. A minha presença nesta reunião é no sentido de reivindicar uma área para a Universidade e ser solidário a comunidade. Uma área que possamos colocar o administrativo e fazer o nosso projeto de crescimento da Universidade, principalmente na área de empreendedorismo, o Parque Tecnológico em Toledo, ou seja, todo o trabalho científico construído na Universidade retornasse em forma de novas empresas e conhecimentos e isso pudesse gerar novos empregos e uma renda para o Município. Enfim não temos este projeto efetivado”.

Boletim de Ocorrência

No final da tarde desta terça-feira, um morador da Vila Becker representando a comunidade registrou um Boletim de Ocorrência na 20a SDP informando que na noite de segunda-feira uma pessoa destruiu a Gruta que estava construída na área do Verbo Divino. O registro consta que antes da destruição foi arrombada a porta onde se encontravam objetos de propriedade da gruta.

 

 

Por Selma Becker e Graciela Souza

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