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Ciência x política

Em coluna anterior, citei uma estória sobre resolver um problema ou adquirir status. Nesta, conto outra estória, agora sobre política. Na década de 1970, a então União Soviética queria construir telescópios. Havia o plano A e o plano B. O plano A consistia em construir seis observatórios modernos em localidades com condições ideais de visibilidade. Teriam dois metros e meio de espelho coletor.

17/09/2011 - 10:12


Já havia um do tipo em Biurakan, na Armênia Soviética. Contudo, prevaleceu o plano B, que era a construção do maior telescópio do mundo à época, com espelho de seis metros de diâmetro. A execução foi entregue a uma fábrica de maquinaria pesada de Leningrado, que nunca havia construído um telescópio. Demorou mais de vinte anos para ser construído. Atrasou a astronomia soviética em anos e uma geração de jovens astrônomos se perdeu. Além disso, o local onde ele foi construído (Zelentchukskaia) permanece com tempo ruim a maior parte do ano. O local é próximo demais dos altos picos caucasianos, que regularmente acumulam nuvens e tempestades. Não dá para ver o céu. Não dá para fazer ciência astronômica. Por que então foi adotado o plano B? Primeiro, porque construir um telescópio com espelho de seis metros de diâmetro significava ser maior que o telescópio de Monte Palomar, nos EUA, com cinco metros de diâmetro. Com a Guerra Fria de então, queriam ter um telescópio maior. Além disso, o local no qual está o telescópio, também é uma estação de esqui. É péssimo para quem trabalha no telescópio, mas ótimo para os turistas. O que interessava então era os visitantes, que pudessem ver aquela “maravilha soviética”, que pagassem a entrada e assinassem em uma parede localizada atrás da galeria de visitantes. Em 1977, já não havia mais espaço para assinaturas. O plano B fornecia às autoridades políticas de Moscou o que desejavam: um símbolo tangível da grandeza soviética. O plano A teria sido melhor para a Ciência. E o Brasil? Prevaleceu o plano A ou o plano B?

Fonte: Dyson, F. De Eros a Gaia. Tradução de Luiz Fernando Martins Estevez. São Paulo: Editora Best Seller, 1992.

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