A morte simbólica do meu eu
tem ocorrido com mais frequência
do que os dramas ficcionais me ensinaram a ver
Essa diferença entre a ficção e a realidade real
me faz algumas vezes
não dar crédito à arte literária
A ficção tem número de páginas e tempo de duração
A realidade não permite
distanciamento temporal suficiente
para distinguir isso
Enquanto vivencio meus dramas
minhas violências e meus lutos
não faço ideia se algum dia isso vai terminar
tampouco quanto tempo passarei
nesse morrer em vida
A vida já me matou muitas vezes
a morte ainda não encontrou meu rumo
fica só me olhando de esguelha
como quem me espreita pela fresta da porta
Não fujo dela
também não lhe faço convites
ela fica na sua e eu na minha
mas o que fazer quando ficar na minha
parece mais morte do que vida?