A intensidade da chuva, problemas com bueiros, poluição ambiental e falta de infraestrutura básica, como no caso do Fachini foi a combinação perfeita para que em menos de duas horas, famílias perdessem o patrimônio pessoal, que em alguns casos, ainda estão pagando o que foi reposto do último temporal.
O estrago foi geral, o cenário em pelo menos oito bairros da cidade, era de muita sujeira e lama. Em alguns pontos da cidade a camada asfáltica e calçadas foram arrancadas. O nível do rio subiu e alagou casas e ruas, derrubou muros, provocou deslizamentos, destruiu calçadas, interditou avenidas.
No loteamento Fachini ocorreram os maiores estragos. Os moradores deste loteamento relatam que há muito tempo procuram a prefeitura municipal para tomar providências. “Eles diziam que viriam resolver e nunca vieram. Há quinze dias estivemos na prefeitura e alertamos, mais uma vez, para esta situação. Veio o ouvidor até aqui e reconheceu que faltam manilhas, boca de lobo para escoar esta água e o que tem está entupido. Ele (o ouvidor) disse que viriam desentupir e não vieram. Fizemos o que podíamos em busca de ajuda, mas eles não estão nos ouvindo”, lamenta Francisca Peres Garcia.
A moradora lembra que tudo foi muito rápido e não houve tempo para reação. “A chuva foi intensa com muito vento. Foi tudo muito rápido, pegamos os documentos e as crianças e saímos. Além dos móveis o carro também ficou alagado”.
Francisca protesta contra as prioridades dadas pelos gestores no município. “A nossa cidade está linda! O nosso Lago novo é uma maravilha, é um espetáculo! Praças maravilhosas, rotatórias que até ajudam o trânsito, mas nós, como ficamos? E os moradores destes bairros que eles deram autorização para lotear e que fossem feitas as construções? Eles têm que fazer alguma coisa agora. Se não viram isto quando deram autorização para venda dos lotes e construção, então agora venham e façam o que for necessário para escoarem essa água!”, protestou a moradora.
Seu João Medina estava trabalhando quando a chuva começou e sabendo do problema de inundação no loteamento pediu uma carona ao patrão para chegar mais rápido até sua casa, mas chegou tarde. A água invadiu sua casa, chegou a quase um metro e meio de altura e destruiu tudo. A geladeira flutuava e os documentos se desmanchavam na água suja. Do lado de fora da casa, apenas o que sobrou colchões encharcados de lama, utensílios domésticos destruídos. “Cheguei tarde, a chuva veio muito forte e levou tudo, deu perda total. As outras vezes que isso aconteceu não foram tão fortes”.
O morador reclama que não é a primeira vez que isto ocorre e que diversas vezes os moradores têm reclamado junto à prefeitura, mas segundo ele, nada foi feito até agora. “Eles falam que vão ver, vão ver e nada. Agora perdemos tudo. As mercadorias que nós tínhamos foram tudo por água abaixo. Eu não sei o que vou fazer. Dá vontade até de desistir e voltar para a minha terra. Assim não dá, pois a gente trabalha duro para ter as coisas e aí vem a chuva e leva tudo”.
Até as 17h quando a reportagem ainda estava com estes moradores do Fachini, alguns carros oficiais da prefeitura circularam pela área, alguns agentes desceram olharam a situação na rua, mas, até aquele momento, segundo os moradores, ninguém representando a Prefeitura tinha conversado ou entrado nas suas casas para dizer qual seria a ação do poder público.
Uma nota informativa da Prefeitura Municipal do dia 21, dava conta que o prefeito em exercício, na época, Lúcio de Marchi, teria autorizado a execução de galerias de águas pluviais na rua Isolde Timm, no Loteamento Fachini.
O texto oficial reconhece que a obra é uma solicitação dos moradores daquela região, que reclamavam de alagamento nos dias de chuva. E que o pedido teria sido feito pelos moradores, durante o programa Agenda Aberta. A obra, segundo a Prefeitura, seria executada pela Empresa de Desenvolvimento Urbano e Rural de Toledo (Emdur) e teria um investimento de R$ 53.635,26. A nota afirma: “A obra será executada imediatamente”.
Por Selma Becker – veja vídeo com depoimento de moradores e avaliação do Corpo de Bombeiros
OPINIÃO, PARA PENSAR
Cada gestor elege suas prioridades. Elas refletem o que eles julgam mais importante para aquele momento.
Quando observamos o que houve no Fachini, nos perguntamos: se aqueles moradores esperam por uma obra básica, de tão baixo custo (pouco mais de R$ 50 mil), por quase dois anos, isto significa que as demandas daquelas famílias não foram eleitas como prioridade pela prefeitura?
Nestes dois últimos anos, ergueram tantas estátuas, com um custo tão superior a este, como a de Tiradentes que custou mais de R$ 70 mil. Isto significa que “embelezar”a cidade era a prioridade primeira, em detrimento as galerias de águas pluviais do Fachini?
Quanto custa a dignidade daqueles moradores? Quanto custa o patrimônio daquelas famílias que ficou mergulhado na lama? Quem vai pagar?
Tudo isso poderia não estar acontecendo, pelo custo, de um Tiradentes e sobraria troco!
Ah! Os leões alados deveriam ser advertidos afinal, eles não teriam a finalidade de proteger a cidade? Você pode conferir em:
Leões em rotatórias invocam proteção da cidade