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Educar é persuasão através de valores que devem ser vivenciados pelos pais, defendeu o promotor Roberto Tardelli

A Câmara dos Deputados começou a analisar, no mês passado, o projeto de lei conhecido como Lei da Palmada (nº7.672/10), que proíbe usar a força física para disciplinar ou punir crianças e adolescentes. Até dezembro, serão promovidas reuniões em todas as regiões do país, para ouvir diversos segmentos da população, inclusive as crianças. O Promotor Roberto Tardelli – conhecido pelo caso Suzane Von Richtoffen – esteve em Toledo nesta quarta-feira (29) e proferiu palestra sobre a eficácia da agressão física na educação dos filhos, o papel das Leis na legitimação da violência. Tardelli defende que a educação é persuasão através de valores morais, éticos, filosóficos e sociais e individuais, mas o convencimento deve ser pautado no exemplo. É preciso que os pais vivam estes valores. “Nós perdemos muitas vezes os nossos filhos pela nossa própria estupidez, não adianta culpá-los depois”.

30/11/2011 - 21:23


O promotor Roberto Tardelli destacou que muitas vezes, as pessoas podem ter a impressão que o Estatuto da Criança e do Adolescente ou a Lei da Palmada vieram para atrapalhar a educação doméstica. Ele explica que a sociedade precisa entender e debater se a violência é um meio de correção. E ainda questionou: A violência física é um meio pedagógico? “Eu posso bater no meu filho por que ele não come beterraba? Eu posso bater no meu filho por que ele não toma banho sozinho? Eu posso bater no meu filho por que ele não dorme a noite? Eu posso bater na boca do meu filho porque ele fala palavrão? Eu posso bater no meu filho por que ele pegou a chave do meu carro? Eu posso bater na minha filha por que ela usou uma saia um pouco mais curta?”.

Tardelli questiona: Este mecanismo de relacionamento familiar é aceitável em um padrão do século XXI civilizatório? O promotor defende que os pais tentem educar os seus filhos sem haver a necessidade do recurso brutal primitivo e vingativo. “Não conheço uma única pessoa que bata no seu filho para educar. Eu conheço várias pessoas que batem nos filhos, porque estão irritadas, porque se sentiram desafiadas e como são mais fortes exercem o poder de opressão. Eu bato no meu filho para que ele coma beterraba, porque estou dando uma ordem e não é porque ela faz bem a ele”.

Para o promotor, os pais devem aceitar o desafio de educar, porque educação é a persuasão. “Eu tenho que convencer o meu filho que há valores morais, éticos, espirituais, filosóficos, sociológicos, familiares e individuais, mas tenho que fazer isso praticando estes valores. Como posso pregar a paz ao meu filho dando pancada nele. Como passar falar para o meu filho que ele não pode brigar na escola se eu bato nele. Como posso exigir que o meu filho respeite o professor gritando com ele. Nós não podemos criminalizar a criança, porque ela “não nos entende”. Nós que devemos entendê-la, porque ela está se desenvolvendo e nós somos adultos. Não é possível que se bata em uma criança – as grandes causas de espancamento são porque sujou a fralda, porque não amarra o sapato, porque não se veste, porque não atendeu o chamado, porque não foi para o quarto, porque não desligou a televisão ou o computador”.

Tardelli ainda destacou que se os pais recorrerem sempre a violência para educar, um dia ela pode passar do limite e, provavelmente, pode acontecer uma tragédia familiar irreversível. “Nós perdemos muitas vezes os nossos filhos pela nossa própria estupidez, não adianta nós culpá-los depois”.

Caso Suzane

O Promotor Roberto Tardelli considera o caso da Suzane algo completamente peculiar dela, pois ela apresentou um quadro psicológico completamente fora do que se tem estatisticamente como dominante. “Ela praticou um crime planejado por uma conformação psicológica dela. A prova disso é que os familiares, amigos e conhecidos não perceberam isso. Ela soube levar isso em um segredo muito bem guardado. O que demonstra que é uma pessoa muito diferente das outras”.

Tardelli exemplificou citando que a maioria dos filhos - comumente – gritam na rua. Ele considera isso positivo, porque demonstra que eles aprenderam a pedir socorro e acrescentou que os pais devem criar condições para que seus filhos não precisem pedir socorro aos outros. “A sociedade brasileira é considerada mundialmente como uma sociedade violenta, porque nós temos quadro de espancamentos infantis que nos colocam na ponta estatística do mundo, o que é muito preocupante. No entanto, ninguém está querendo que as crianças cresçam sem limites. Não se fala isso. Porém não podemos associar a pancada à educação”.

Exemplo vindo da televisão

Tardelli ainda criticou o entretenimento de muitas famílias brasileiras, como a novela das oito. O promotor citou algumas características de umas das principais personagens, a Griselda vivida pela atriz Lilía Cabral “Ela bate nos filhos; tentou comprar o neto da própria mãe; é autoritária; não tem nenhum momento de carinho ou de ternura com alguém; não sabe ser acolhedora. Ela só não é ladrona. Ela é absolutamente honesta naquilo que tange o ponto de vista patrimonial. No entanto, infelizmente, a Griselda é a mãe brasileira”.

A palestra foi promovida pelo curso de Direito da Fasul em parceria com a LFG e o apoio dos colégios La Salle, Incomar, e Slavel (Hyundai). E foi realizada na noite de quarta-feira (29), no Auditório do Colégio La Salle.

Reportagem Selma Becker

Texto Graciela Souza

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