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SAÚDE

Em Toledo, em 2009, 50% dos casos de câncer de colo de útero estavam relacionados ao HPV, aponta pesquisa acadêmica

Conhecida desde a antiguidade, as infecções genitais pelo HPV chamaram atenção a partir da década de 80, quando se identificou a correlação destas lesões como câncer de colo uterino. HPV é a abreviatura de "Human Papilomavirus" também conhecido como verruga genital, crista de galo, entre outros. Segundo pesquisas mais de 150 tipos até o momento foram identificados, dos quais apenas 35 tipos podem infectar a região anogenital feminina e masculina. Conforme estudos, o HPV é um vírus universal, que não tem preferências, quer seja quanto ao sexo, idade, raça, localização. Este tema foi objeto da pesquisa das acadêmicas do curso de enfermagem da Pontifícia Universidade Católica (PUC), de Toledo,  Jussara Girardi e Camila Diana Beck, que investigaram o índice de HPV em mulheres jovens no Município de Toledo em 2009. Os estudos apontaram um baixo índice de exames preventivos e o diagnóstico de câncer de colo relacionado ao HPV chega a 50% dos casos. As acadêmicas contaram com a orientação da professora Ana Carla Hidalgo de Almeida.

14/12/2011 - 16:59


O HPV pode se instalar em qualquer região do corpo, bastando haver uma porta de entrada através de micro-traumas da pele ou mucosa. Já se detectou o vírus não só na região genital, mas também extragenital como olho, boca, faringe, vias respiratórias, ânus, reto e uretra. E ainda, sua presença foi encontrada no líquido amniótico (líquido que envolve o feto na vida intra-uterina). Os tipos de HPV podem ser classificados em vírus de baixo, intermediário ou alto risco, de acordo com o tipo de lesão a que estão mais associados.

No ano pesquisado, o Município tinha 55.738 mil mulheres. Deste número, apenas 4.833 coletaram o exame preventivo. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que cada cidade tenha até 80% de cobertura deste exame e Toledo atingiu somente 8,67% em uma faixa etária entre 19 e 35 anos. Desta porcentagem 20 mulheres estavam com câncer e 10 tinham o HPV associado, isto é, metade das mulheres tem o câncer por HPV. “Este índice é considerado baixo e preocupante. Os motivos das mulheres não fazerem o exame são vários, mas destaca-se a vergonha, porque eu conheço a enfermeira e ao fazer o exame o resultado pode ser um constrangimento para mim ou também a falta de informação”.

Jussara informou que o índice 8,67% é somente na sede. Os números do interior do Município não foram contabilizados. “É expressivo se for levado o parâmetro de qualidade de vida, porque a maioria destas mulheres tem famílias. Além que a faixa etária é uma idade em que a mulher está no auge de sua reprodução. São adolescentes solteiras ou mulheres casadas que tem relações sexuais com seus parceiros, que nem sempre é apenas um. Estas mulheres tem filhos e uma vida. E podem transmitir o vírus para outras pessoas”.

Outro fator relevante e preocupante diagnosticado no estudo é o HPV presente em mulheres de 13 e 14 anos de idade e entre 50 a 70 anos. “É um dado preocupante. Imediatamente, nós precisamos ter saúde pública como uma meta. Saúde pública não é somente ter postos de saúde pelo município, mas ter uma equipe qualificada para trabalhar com a população. Conhecer as suas necessidades, os seus limites e a sua cultura. Urgentemente é preciso desenvolver ações e projetos. Não adianta ter uma unidade e uma equipe se não tenho população para atender. Tenho que educar a população para buscar os serviços em prevenção. É o básico para a nossa vida para evitar estágios que nenhuma UTI resolve”.

HPV, afinal o que é?

De acordo com a enfermeira, o HPV é um estágio inicial de câncer de colo de útero. “Ele é um vírus e existem mais de 100 tipos de vírus de HPV. Alguns são oncogênicos e outros não. Quando são oncogênicos, o vírus está intimamente relacionado com o câncer de útero, porque sofre a mutação genética e desenvolve o câncer. Já, o não oncogênico causa lesão na pele”.

Jussara advertiu que até as pessoas que não tem relações sexuais podem desenvolver o HPV, o que é chamado de fator fômites. “Nestes casos, o vírus é transmitido por toalhas usadas, roupas íntimas usadas e compartilhadas, giletes. O HPV é um vírus e para se alocar no organismo, precisa de uma lesão ou imunidade baixa”.

Fatores de riscos

Ela explicou que a multiplicidade de parceiros somada com o não uso de preservativo é um dos principais fatores de risco. Ela comentou que uma doença causada pelo vírus pode ser desenvolvida em até 20 anos. “Alguns casos mostram que muitas mulheres que são casadas ao realizarem o exame nas Unidades Básicas de Saúde descobrem que possuem o HPV, porém nunca traíram os seus maridos e investigando descobrem que foi contraído antes do casamento”.

Prevenção

Jussara enfatizou que realizar o exame é a melhor forma de evitar a doença e diagnosticá-la em seu estágio inicial, onde é mais eficaz o tratamento. “Se não for feito o exame a mulher nem vai saber que tem alguma enfermidade. E ao descobrir, a equipe deve estar preparada para oferecer um bom trabalho psicológico com aquela mulher. A sensação é de dor e de perda”.

A enfermeira afirmou que o Município possui enfermeiros que desenvolvem um bom trabalho, mas ainda falta uma ligação com quem está em um patamar mais alto. “O elo é político. Ainda falta a humanização, o atender bem. O Código de Ética do enfermeiro prevê desenvolver bem o trabalho e buscar atrás de estratégias que atendam a população. Isto ainda falta em Toledo”.

Políticas Públicas

Jussara explicou que durante o estágio em saúde pública percebeu que o HPV não era tão discutido neste setor e, principalmente, a discussão acontece somente na mídia e na OMS.

Ela ainda relatou que em algumas Unidades Básicas de Saúde (UBS) de Toledo falta estratégias para sensibilizar o público. “Ainda falta informação. Por mais que a mídia fale sobre a prevenção, há algumas camadas da população que não tem este conhecimento. Faltam estratégias para lidar com a saúde pública e com as mulheres. É preciso conhecer os limites e as necessidades de cada uma”.

Para Jussara nada justifica o baixo índice de exames preventivos de câncer realizados. “Nada justifica este índice a não ser a falta de política pública direcionada às mulheres”.

Durante a pesquisa, Jussara relatou que as fontes de informações foram documentos oficiais. No entanto, em algumas unidades não foram encontrados o livro de registros, o chamado prontuário de saúde.

O TCC de Jussara está disponível na biblioteca e no site da PUC.

Confira a matéria completa em vídeo.

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