O rosto fica afogueado como se a palavra não dita, aprisionada na garganta, irradiasse o seu calor através da face. No peito, há uma sensação de aperto semelhante a uma garra espremendo os tecidos, as veias, o grande músculo. Uma impressão de finitude, e um medo desmedido e constante. A respiração fica curta e pesada tal como ocorre durante uma luta com adversário desproporcionalmente mais forte.
Você busca uma direção como se estivesse presa, acuada, num labirinto precisando encontrar uma saída. Mas essa busca é contínua, porque a saída não é permanente, e logo mais, você vai precisar encontrar outra e mais outra e mais outra.
Agora você sente que está se afogando, mas não vê a água, nem o vento. Está ficando sem ar, e olha para todo lado buscando um escape. Você então nota o medo. Não é de agora. É um medo que existe há muito tempo. Antes mesmo de você dar-lhe um nome ou aprender a descrevê-lo.
O medo existe desde que o mundo é mundo e sempre aparece quando não há mais nada. É o fim de tudo, da agonia de sentir essas sensações que, mesmo quando descritas, mal se descreve uma parcial de toda sua enormidade.
Você se pergunta se algum dia vai conseguir vencer esse medo, esse respirar forçado, a falta de um caminho, o peito queimando, o olhar embaçado. Não tem resposta ou a resposta que tem não responde esse assombro. Alguns dias, não é capaz sequer de descrever estas sensações. Agora consegue nominá-las. No entanto, ainda fica sem chão, girando num espaço sem gravidade.
Você pensa tanto tentando encontrar solução que sente a exaustão de um exército. O segundo cérebro sofre muito funcionando em ritmo desequilibrado. Você recorre ao sono como à muleta em que se firma uma pessoa incapacitada. Dorme por descanso e como um subterfúgio que alivia esse pesadelo que não termina.
O que fazer é o grande questionamento. Você fica entre estar petrificada e estar pronta para a fuga. Por mais que descarte um enfrentamento, ele ocorre mesmo que você não escolha. Entre ter o que não pede e não conseguir saber o que precisa querer, essas crises te açoitam e te arrastam numa câmara fria, vazia, escura.
Todas essas sensações não se medem, nem mesmo se consegue medir a refração que emitem. São de uma proporção descabida, assim como o impacto da luz do sol na retina. A desmedida é justamente a impossibilidade de tabelar o que se sente; de dar números à sombra que se instala. Os outros, porém, insistem na balança e no cálculo. Ainda assim, há quem as meça em refração, matizes e duração. É o olhar do mundo que busca a régua e o compasso, insistindo em tabelar o sofrimento. O seu, no entanto, permanece infinito.
Aquela sensação de que tudo isso se perpetua sem que você consiga imaginar um fim. Ela existe e frequenta sua mente se esticando toda para parecer costume.
Você se sente a protagonista em uma série de suspense e drama. Os episódios têm enredos parecidos e duram um tempo que cansa tentar acompanhar. É uma série com algumas temporadas muito longas.
Você atenua o monólogo com interações com seres outros que habitam esse local. São seres imaginários que podem ser vistos por todos os cômodos. Convivem com os latidos e rosnados que vêm de fora. Muitas vezes são os únicos ecos que adentram o apertado espaço em que você submerge.
Os latidos que te acordam para a vida, são os mesmos que te despertam para o compromisso. Nem só de pensamentos vivem todos os seres.
Estas peludas de quatro patas requerem alimento convencional, mas também a voz, o toque e o olhar que as reconheçam. Esta exigência de afeto é a única que te reconduz ao concreto e te impõe o dever de lhes providenciar o sustento. Porque, no ato de lhes devolver a atenção e receber o olhar recíproco, você se ancora no chão, se expõe ao sol e cumpre o mínimo cuidado com a própria existência.





