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OPINIÃO: UM PRÓXIMO PASSO

A polícia e as Forças Armadas vêem ocupando diversos morros cariocas com o objetivo de fazer com que estes não sejam mais território do tráfico. A ação merece apoio, o que não deve impedir um olhar mais crítico sobre ela.

29/11/2010 - 14:44


Em primeiro lugar é necessário marcar seu caráter tardio, afinal, há muito tempo se sabe deste problema, e foi exatamente o neglicenciamento de todas as suas dimensões que fez com que adquirisse vulto. Cumpre dizer que não basta que as forças de segurança subam o morro. Esta ação deve ser complementada pelo resgate daquela população para o Estado de Direito, exatamente provendo-a de direitos, e fazendo com que se sinta segura e amparada agora que seus “benfeitores” foram expulsos. Esta é a ocupação mais demorada e significativa: tirar o tráfico não de seu território físico, mas de seu terreno simbólico.

Outro aspecto a ser observado é que é preciso impedir que o tráfico construa outro ponto de exportação! Dificilmente esta atividade ilícita encontrará em outro lugar condições tão favoráveis como um litoral protegido (e relativamente próximo dos centros consumidores), uma sociedade exposta, um Estado ineficiente e uma classe média endinheirada o suficiente para consumir “no asfalto” em suas festinhas de embalo o excedente não exportado, o que não significa que o tráfico não irá se reorganizar e buscar novos feudos. Isto sem falar no aspecto financeiro que também deve ser enfrentado.

Mais do que a ação espetacular de blindados subindo morros, e a instalação de bases policiais, o que se deve exigir é a ação coordenada de todo o aparato Estatal não apenas no Rio de Janeiro, mas em todos os locais onde o tráfico está presente, o que requer nova capacidade de ação, pois se conforme analisa o sociólogo espanhol Manuel Castels, a sociedade e o crime estão organizados em rede, o que se coloca para o Estado é superar o paradigma de sua atuação na forma Nacional e adquirir mecanismos para atuar assim também.

Do ponto de vista imediato, algumas ações devem ser tomadas: 1) estabelecer formas de trabalho em conjunto com outros estados nacionais, afinal, o Brasil não produz a cocaína que exporta, tão pouco a maioria das armas nas mãos dos criminosos. Estas vem do Paraguai, da Bolívia, pelo Norte, e entram e saem via portos e aeroportos, ou seja, há a necessidade de cuidarmos da nossa fronteira, e de estabelecermos com outros países diálogo e cooperação no combate ao crime, num esforço diplomático que deve inclusive levar a estudar e compreender os diferentes processos sociais e políticos de todos estes países. 2) Outro aspecto é assumir que a rede do tráfico não está apenas nos morros do Rio, mas espalha-se por toda a sociedade e por todo o país, ou seja, a ação deverá dirigir-se também a desterritorializar todos os envolvidos com o crime onde quer que eles estejam e resgatar a população como um todo.

Bastaria haver vontade de fazer isto se houvessem recursos, entretanto, não parece ser esta a tônica dos próximos anos, portanto, se não se tiver em mira a questão do Estado, há o risco de que novamente se tenha que recorrer aos últimos recursos que este tem para ser fazer presente e remover o que ineficiência, a corrupção e o descaso criaram!

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