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SAÚDE

Prevenção em saúde do homem diminui a incidência de violência doméstica, transmissão de DST´s e mortalidade infantil, em Santa Catarina

A cada cinco óbitos registrados no Brasil – na faixa etária de 20 a 30 anos – quatro são homens e a principal causa destas mortes é a violência. Os homens jovens apresentam doenças características até então do público idoso. Estas informações foram apresentadas nesta quinta-feira (19), no 1º Seminário Macrorregional de Saúde do Homem promovido pela 20ª Regional de Saúde de Toledo. Durante o seminário ainda foi apresentada a experiência desenvolvida em Lages (SC), a qual demonstra que quando o Município intervém nas políticas públicas preventivas os resultados são amplos, como a diminuição da violência doméstica, transmissão de DST´s e mortalidade infantil.

19/04/2012 - 15:20


Em 27 de agosto de 2009, o Ministério da Saúde (MS) lançou a Política Integral de Saúde do Homem, conforme a Portaria 1.944. A partir disso, o MS definiu princípios e estratégias para a saúde masculina que possam ser aplicados no Brasil. As ações são em torno do planejamento familiar, acesso ao serviço com qualidade, organizar as unidades básicas de saúde para que estejam preparadas para acolherem os homens, entre outros fatores.
O coordenador Nacional da Saúde do Homem do Ministério da Saúde, Eduardo Schwarz, disse que o Ministério construiu estratégias que acolham a saúde desta população, desde morbidade e mortalidade até promoção e prevenção. “Desenvolvemos ações que incentivem os homens a terem hábitos de vida saudável. O nosso lema é que um homem que se cuida pode preservar sua saúde em todos os ciclos de vida e pode ter mais tempo para ficar com a família e os amigos”.
Schwarz argumenta que o homem que leva uma vida saudável e regrada pode onerar menos o caixa do SUS na média e alta complexidade. “Ainda há muitas barreiras a serem superadas. Uma delas é o fato do homem não ser prioridade no SUS. Enquanto isto não acontecer, o sistema não vai trabalhar de uma forma orgânica e sistêmica. É uma parte importante da população, a qual soma 53 milhões na faixa etária de 20 a 59 anos e não tinhamos um olhar específico para os seus cuidados”.
O chefe da 20ª regional de saúde de Toledo, Odacir Fiorentin, salienta que trabalhar com a saúde preventiva pode diminuir os investimentos na saúde curativa. Logo, este recurso poderia ser repassado para a educação primária. Para Fiorentin, outro ponto fundamental para que o Programa seja bem sucedido é trabalhar a educação com a sociedade. “As citações do livro da Política Integral de Atenção ao Homem colocam a educação como ponto fundamental para buscar o equilíbrio. Esta questão da resistência do homem, de não procurar o exame, de que ele é mais forte do que a doença é algo histórico. E isto é uma inverdade. Os indicadores mostram que o homem está mais vulnerável por não fazer os exames periódicos e não buscar a saúde preventiva”.
Enfermidades
O coordenador Nacional da Saúde do Homem do Ministério da Saúde, Eduardo Schwarz, cita que as doenças mais frequentes do homem são ligadas a causas externas (acidentes de transporte e trabalho, homicídios de suicídios), acidentes vasculares, encefálicos e cânceres, sobretudo, próstata, pulmão, brônquios, esôfago. “Cuidar da saúde não fere a masculinidade. Cuidado com a saúde não é somente para mulheres, mas também é para homens. A Unidade de Saúde Básica deve ser mais receptiva e os profissionais devem estar mais focados para fazer uma investigação clínica e criar horários alternativos para este homem”.
O coordenador Estadual de Políticas de Atenção ao Homem, Rubens Bendlin, afirma que muitos homens ainda vivem aquele mito de que comigo isto não vai acontecer. “São velhas desculpas e absolutamente esfarrapadas. A Política de Atenção ao Homem estuda esta questão de gênero e, principalmente visa quebrar tabus. Buscar saúde não é um mito, é algo necessário”.
Bendlin lembra que a Organização Mundial de Saúde (OMS) preconiza que o bom idoso tem uma vida ativa e saudável. Assim, a boa saúde deve começar no pré-natal. “Se a nossa mãe fizer um bom pré-natal já começamos a ter uma boa saúde. A partir daí se estivermos uma infância adequada com uma boa alimentação e educação e, sobretudo a prática de exercícios desde a primeira idade, nós seguramente seremos jovens e adultos saudáveis. O homem adulto se cuida menos do que deveria se cuidar e nós queremos homens saudáveis em todas as idades”.
Cultural
O fato de muitos homens não realizarem exames periódicos nas Unidades de Saúde Básica, para o coordenador Nacional da Saúde do Homem do Ministério da Saúde, Eduardo Schwarz, pode estar relacionado há aspectos sócio-culturais. “São modelos culturais incrustados no nosso imaginário social. Isso quer dizer que o homem é associado a força e ao serviço. Os homens têm medo de descobrirem as doenças, não seguem os tratamentos recomendados, não querem esperar o atendimento. Eles evitam o serviço, a não ser que sejam muito assintomáticos e vão acompanhados de alguém. Geralmente eles não tem esta iniciativa. Isto é algo que deve mudar”.
O enfermeiro coordenador da Saúde do homem do município de Lages – SC, Luciano Wolf da Silva comenta com os homens, que eles não morrem de doença, mas de vergonha. “Os homens têm muita vergonha de procurar o atendimento à saúde. Isto é uma questão propriamente cultural deles. O homem desde a pré-história se mostrou sempre forte, porque se mostrasse fraco outro tomava seu território e por mais que as coisas tenham evoluído, a questão da saúde ainda não evoluiu. O homem tem vergonha de discutir sintomas, em relação ao câncer de próstata e, consequentemente vidas se perdem por causa desta vergonha”.
Mortalidade
Para o enfermeiro em termos de políticas públicas, a saúde do homem acabou se tornando um problema, principalmente quando estudos mostraram que a cada cinco mortes na faixa etária de 20 a 30 anos quatro são homens. “Nós necessitamos cada vez mais o apoio dos Municípios para que implantem a política em suas cidades e revertam este quadro. A política é uma tentativa de conscientizar os homens a se preocuparem com a sua saúde. Para começarmos melhorar e reverter o quadro de índice de mortalidade”.
O coordenador Estadual de Políticas de Atenção ao Homem, Rubens Bendlin, disse que um estudo desenvolvido por 250 especialistas do Brasil mostra que devido o homem se cuidar menos de cada três mortes de adultos na faixa etária de 18 a 59 anos, duas mortes são de homens. Segundo Bedlin, na faixa etária, dos 18 a 30 o motivo de óbitos é devido a violência, seja agressão, no trânsito, uso de álcool e drogas. Dos 30 em diante até 59 anos o perfil deste homem adulto é quase similar ao perfil de um idoso. “Ele apresenta enfermidades ligadas ao coração, obesidade e pressão arterial, as quais tempos atrás aconteciam somente na terceira idade”.

Resultados de políticas públicas
O Município de Lajes, em Santa Catarina, é considerado exemplo na execução de Políticas de Saúde para o homem. Ações são desenvolvidas desde junho de 2009. A partir desta data, o número de atendimento de homens na atenção básica aumentou em 40%. No ano passado, o Município realizou 65 mil atendimentos a homens na faixa etária de 20 a 59 anos. O Ministério de Saúde considera bom este número de atendimentos, pois se analisar que Lages é uma cidade de porte médio com 60 mil habitantes, sendo 42,5 mil homens entre 20 e 59 anos.
O enfermeiro coordenador da Saúde do Homem de Lajes (SC), Luciano Wolf da Silva, salienta que o Município está estudando para aumentar a demanda e favorecer o acesso de mais homens para trabalhar a Promoção de Saúde a Família. Silva disse que uma das estratégias utilizadas pela Secretaria de Saúde foi a formatação do projeto chamado Horário de Saúde do Trabalhador. Ele explica que uma vez por mês, as Unidades de Saúde atuam das 18h às 22h com atendimento médico, de enfermagem, odontológico, entre outros. “A partir do momento que os homens começam a entrar na unidade de saúde, este local se torna referência para eles. Muitas vezes, os homens não procuram as unidades de saúde por não conhecer o local ou não conhecerem os serviços prestados pela unidade”.
Outro projeto desenvolvido em Lages - SC é o Saúde na Empresa. Os profissionais da Secretaria de Saúde visitam as empresas e realizam ações, como aplicações de vacinas, triagem de doenças e orientações. E, por último, o Município está fortalecendo o pré-natal masculino. Para o enfermeiro, o pré-natal masculino é uma atenção em conjunto: parceiro x gestante. “O nosso principal objetivo no pré-natal masculino é unir o casal. São diversas consultas, nas quais o homem fica ciente sobre o contexto da gestação da mulher, que é um momento mais delicado para ela e, muitas vezes, o homem não entende o que ela está passando pelo fato de estar ausente do processo. Os profissionais realizam uma triagem sobre qualquer doença, inclusive as DST’s, pois ao tratarmos destas doenças tanto no homem como na mulher evitamos uma proliferação vertical delas”.
Luciano Silva demonstra como a política de prevenção tem resultados amplos. Ele comenta  que o pré-natal masculino fortaleceu o vínculo do casal, diminuiu a violência doméstica, a taxa de transmissão vertical de doenças e a mortalidade infantil. “Um casal mais unido tem um bebê com uma saúde melhor”.

**Campanha**
Em agosto, o Ministério da Saúde (MS) vai realizar uma campanha nacional focada no mote ‘que não importa que tipo de homem seja, mas que cuida de sua saúde’. O MS vai distribuir folders e cartazes para os Municípios de todo o País. Um material educativo será formatado e terá como finalidade trabalhar com as principais necessidades da rede do Sistema Único de Saúde (SUS).

Por Graciela Souza

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