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SAÚDE

A dolorosa espera da ortopedia, mais uma vez, leva o MP agir

Definitivamente a saúde pública não vai bem. O tempo de quem sente dor não é o mesmo tempo do Estado. Uma passada pela Promotoria Pública e a Casa de Notícias encontrou dois casos que escancaram a ineficiência do Estado. A dona Hildergard Kirsch e o seu Geraldo de Souza buscavam o socorro para sua dor no Ministério Público. Ela espera por uma cirurgia e ele aguarda há um ano uma consulta com ortopedista. Geraldo saiu do MP com uma consulta agendada, mas dona Hildergard, por enquanto, terá que aguardar os 499 outros pacientes na fila do Estado para cirurgia.

27/04/2012 - 20:47


Dona Hildergard Kirsch, moradora do Jardim Careli, foi até Curitiba para fazer uma cirurgia que não aconteceu e enquanto isso ela convive com as limitações físicas e a dor. Ela faz tratamento há dois anos contra a doença chamada coxartrose bilateral com indicação de tratamento cirúrgico com colocação de prótese total de quadril. Dona Hildergard foi a Curitiba há quatro meses, porém não conseguiu realizar a cirurgia, porque segundo ela, não foi encaminhado para o Hospital os encaminhamento necessário, chegando lá o profissional teria declarado que desconhecia a sua situação. “Eu disse que não tinha culpa. Então, ele fez o raio-x e me disse que o meu quadro era urgente e necessitava de operação. Ele me passou um papel e voltei para a minha casa”.

No dia 23 de janeiro, ela foi novamente para Curitiba e fez nova consulta, raio-x e a encaminharam para a cirurgia. “Está piorando a minha situação, não consigo mais caminhar, não posso me abaixar, não consigo mais me deitar sozinha na cama. Eu não aguento mais as dores. Por isso, que vim aqui par ver se alguém me ajuda. Estou esperando há muito tempo e estes remédios estão começando a me fazer mal e, mesmo assim, não tira a dor”.

O Promotor de Justiça, José Roberto Moreira, lembrou que a paciente procurou a promotoria recentemente e, de imediato, o Ministério Público tomou providências. “Trabalhamos a fim de trazer para a investigação documentos necessários para a propositura de alguma ação judicial em favor da paciente. Documentos estes que são: a negativa do Poder Público em satisfazer o direito da paciente. Além disso, a Promotoria investigou para saber a situação de urgência e emergência da paciente, ou seja, se era um caso que deveria ser tratado como prioridade em relação aos demais que aguardavam na fila ou não”.

Moreira relatou que a Promotoria verificou que há 499 pessoas na frente da paciente em todo o Estado aguardando o mesmo procedimento e o MP notificou o médico da paciente para que informasse ao MP se o caso dela era um caso que necessitava o regime de urgência ou não. “O médico atestou em resposta a este ofício que o caso da paciente não é um caso de urgência e que o caso dela é similar ao caso das outras pessoas que aguardam na fila de espera”.

Ele advertiu que o Promotor de Justiça não pode ser usado para que um determinado paciente fure a fila. “Isso fere ao senso comum e a moralidade pública. Imagina o Promotor de Justiça trabalhando para que alguém fure a fila? Só há furo a fila, por intervenção do MP quando há alguma justificativa médica ou nos casos legais (o idoso e a criança e o adolescente tem prioridades). Diante da doença dela imagino que a maioria que aguardam nas filas também são pessoas idosas. E teria uma fila entre as próprias pessoas idosas”.

Com relação ao exame médico realizado em Curitiba que, segundo a idosa, atestava a urgência da cirurgia, Moreira disse que a Promotoria precisa deste documento para tomar providência, mas enquanto isso o MP pedirá uma nova avaliação da paciente em um prazo breve. “E este ou outro médico deverá dizer se é de urgência ou não. O médico informará a Promotoria de Justiça e, na sequência, tomaremos as medidas necessárias. Se este laudo aparecer, obviamente iremos judicializar em favor da paciente para que seja atendida com prioridade, porque aí tenho uma justificativa para que ela fure a fila. A condição da fila é uma condição de escolha, pois não é possível dizer quem tem mais ou menos dor para passar ou não frente de outra pessoa”.

Em Toledo, Moreira acredita que chegou o momento de fazer um movimento similar ao da neurologia na ortopedia e cardiologia. “Afim de que seja possível sensibilizar a Secretaria Estadual de Saúde para que tome providências para adequar os serviços em Toledo. É de conhecimento de todos que estas especialidades enfrentam problemas”.

O caso do Seu Geraldo o Ministério Público conseguiu resolver de imediato, bastou um telefonema e o atendimento foi agendado.

“Doí a minha coluna, o meu nervo ciático, tenho uma hérnia no pescoço e a sensação que as minhas pernas congelam. Também estou com a pressão alta”, queixa-se seu Geraldo. Ele está doente desde 2003. Na época do acidente, ele trabalhava em uma empresa do setor de construção civil. No momento em que estava trabalhando fez um esforço e sentiu sua coluna ‘estralar’ e suas pernas começaram a formigar. “No outro dia quando acordei para ir trabalhar percebi que estava arrastando uma perna e comuniquei a minha mãe que iria consultar. No posto de saúde encaminhei a consulta”.

Quando Geraldo foi consultar, a médica explicou a ele que havia tirado o nervo ciático do lugar. Com isso, ele ficou por seis meses “encostado”. Tempo depois o INSS deu alta, mas ele trabalhou por um período curto, pois não aguentou a dor.

O operário lembra que o INSS lhe deu alta e ele então recorreu e conseguiu se aposentar. “No entanto, agora tenho que realizar uma nova consulta tenho que mostrar um exame”.

Ele contou à Casa de Notícias que agendou a consulta com um ortopedista no dia 27 de abril de 2011. “Na primeira vez, demorou dois meses para consultar, pois busquei auxílio na Promotoria da Justiça. Há alguns dias participei da Agenda Aberta e tive a informação que não havia previsão para realizar a minha consulta. Eu pensei em pedir emprestado R$ 80 para fazer uma consulta particular, mas vou tirar da boca das minhas crianças para consultar? Está fazendo um ano e nada. Desta forma que a ‘turma’ quer voto? Agora chegou a hora de eu falar a verdade. Quando chega a época de eleição, eles gritam de porta em porta pedindo voto, mas prometem e não fazem nada. Isto não tem cabimento. No deles (políticos) caí o dinheiro todo o mês e no dos pobres? Nada”.

Após um ano, com o auxílio da Promotoria da Justiça, Geraldo teve a sua consulta marcada para o dia 02 de maio (quarta-feira). “Conversei com uma moça aqui (no MP) e ela conseguiu marcar a consulta. Preciso de provar para o INSS que estou sendo acompanhado pelo ortopedista, caso contrário vão cortar o meu benefício. Falo francamente se não fosse vocês não teria conseguido a consulta para a próxima semana. Depois de um ano de espera, mas consegui, graças a Deus”.

 

Reportagem Selma Becker

Texto Graciela Souza

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