Neste ano, o drama do setor começou com o embargo da Rússia e, na sequência da Argentina. Estes fatos auxiliaram com a queda dos preços. Há excesso de oferta de carne no mercado e os preços dos insumos (proteínas milho e soja) estão em elevação, o que caracteriza um quadro de custos de produção em alta e preços da matéria prima e baixa.
Nesta semana, para piorar a situação o preço do farelo de soja chegou a R$ 1.420 a tonelada (considerada a commodity mais valorizada ao longo de 2012, superando índices do petróleo e o ouro). O valor do custo da produção já totaliza em média R$ 2,82. Por sua vez, o suíno é comercializado por aproximadamente R$ 1,92. O Deral sinaliza que a tendência é de aumento para os custos. Contudo, a principal preocupação do produtor é se daqui três meses o farelo ainda estará disponível no mercado.
O especialista em agronegócio e técnico do Deral, João Nogueira, explica que o Município possui dois setores (suinocultura e avicultura) cruciais para a economia agropecuária, sendo que as atividades dependem dos grãos, principalmente a suinocultura que passa por uma crise sem precedentes. Nogueira lembra que o setor já viveu estes momentos no passado, mas as proporções aumentaram neste ano, quando há o excesso de oferta. “A suinocultura sempre foi dependente de exportação, principalmente da Rússia e, atualmente, o Brasil sofre com o embargo, mas tenta conquistar outros mercados na Europa Oriental”.
Ele lembra que o segmento vive um momento de baixa liquidez enquanto que os grãos vivem um momento de extrema liquidez, o que traz mais preocupação para o setor. “Um setor crucial não pode passar por uma crise tão aguda. Temos que nos preparar melhor para as crises. Para melhorar a liquidez do produto, algumas estratégias devem ser formatadas. Há uma falha e devemos resolvê-la. É interessante produzir e exportar os grãos, porém ele é um produto básico para a produção de carnes”.
Mercado interno
Outra sugestão apontada por Nogueira é que já existem vários estudos para ampliar o mercado interno e, desta forma, ser menos dependente do mercado externo. “Nós produzimos suínos, mas infelizmente as indústrias exportam para outros Estados e Países os embutidos. Quando se trata de mercado interno, a carne de suíno deveria chegar aos grandes centros consumidores do Brasil da forma como o brasileiro gosta de consumir: por pedaço. Isto é um problema sério. Cabe ao produtor de suíno criar mecanismo para que este produto chegue ao consumidor. O suinocultor precisa encontrar no Brasil mercados mais estáveis, porque ficar dependente do mercado externo tem sido um grande entrave para a evolução da suinocultura. Não concordo com muitas opiniões que brasileiro não gosta de carne suína. O que percebo é a reclamação das pessoas com relação ao valor que este produto chega à sua mesa. Para isso, é preciso criar uma logística que não existe e o Brasil ainda não dispõe de uma malha ferroviária, de uma infraestrutura boa”.
Produtores independentes
Em entrevista neste mês, o presidente da Associação Paranaense de Suinocultura (APS), Carlos Francisco Geesdorf, disse que neste momento de crise, os produtores independentes são os que mais enfrentam dificuldades. O Paraná tem aproximadamente 33 mil produtores, sendo que destes em média 9 são independentes. Isto significa que estes produtores têm mais dificuldades de enfrentar a crise.
Nogueira comenta que algumas iniciativas começam a ser tomadas pelas associações de produtores. Exemplo. Como o preço do milho está em alta e o grão é crucial no custo do suinocultor é importante que este milho chegue na mão do produtor com um preço mais acessível. A CONAB – neste momento – tem que agir para equilibrar um pouco este mercado favorável ao produtor. Segundo ele, a CONAB está sinalizando com transferência de produtos das regiões para apoiar os suinocultores no preço até R$ 21, porque já ultrapassou a casa dos R$ 25. “Os preços dos grãos estão altos, sobretudo, porque estão fundamentados no quadro de oferta e demanda. Existe uma demanda de grãos no mundo que é superior a possibilidade de oferta. A produção não consegue evoluir na forma que evolui a demanda. Com isso, os estoques - a cada ano - são menores. Os produtores de grãos estão felizes, mas isto representa custos para um setor importante: o de carnes. Você vai dizer para o produtor de suíno, milho e soja que devem diminuir os preços? Não. Nós devemos resolver um problema localizado na suinocultura que tem haver com distribuição”.
**Reflexão**
Nogueira salienta que os governos: municipal, estadual e federal induzem a economia para o bom caminho. Diante disso, a decisão técnica de buscar mercados é de quem produz. Para ele, se os produtores não assumirem isso e ficar tentando achar um culpado, este quadro não vai se reverter. “Nesta semana comemoramos o dia do produtor rural. Toda a vez que faz aniversário é preciso fazer um momento de reflexão. Imagino que o evento em Toledo não seja de comemoração, mas de reflexão. O Brasil tem uma condição ruim que é de olhar para todos os mercados: que estão lá fora. O suinocultor não pode ficar dependente de mercados da Rússia ou outros países. Deve se entender e assimilar que o Brasil está se desenvolvendo e possui uma das taxas de desemprego menor. A renda das classes C e D melhoram gradativamente e, por isso, as pessoas tem uma condição de consumo melhor. É preciso criar estratégias para buscar este consumidor novo no Brasil”.
Nogueira relata que os gestores tem um bom exemplo que é o da carne de aves. “O frango chega a todos os cantos do país. A carne atingiu o mesmo nível de bovino, porque chegou ao consumidor a um preço acessível”.
Ele salienta que a saída é começar a entender que o Brasil está se desenvolvendo. “É notável buscar mercados internacionais, porém é mais interessante produzir carne e crescer internamente. Ex. O grande poder dos EUA está no mercado interno, o PIB vive e sobrevive do mercado interno. Neste momento, eles vivem uma crise, porque parte das famílias americanas está endividada. No Brasil, não conquistamos o mercado interno e devemos ir a luta para conquistar com o apoio dos governos, mas a estratégia é a de quem quer vender”.
Neste sábado (28), o Município de Toledo comemora 1 bilhão do VBP. Nogueira diz que antes mesmo de comemorar é preciso saber o quanto deste valor está na mão do produtor. “A suinocultura é a principal responsável pelo VBP, mas ela está crise. O que devemos comemorar? O VBP – em geral - tem que subir, porque é correção monetária e é lógico que o valor vai sempre aumentar”.
Nogueira destaca que é importante saber que nesta produção há setores que estão pagando para produzir, no caso: a suinocultura. “Temos que refletir sobre o que está acontecendo. Nós temos problemas de liquidez e aumento de custo. O que faremos nos próximos meses?”.
PECUÁRIA
Crise na suinocultura deixa em xeque a produção do setor agropecuário em Toledo e região
A suinocultura é o setor primordial na economia agropecuária dos Municípios. O Paraná é o terceiro maior produtor de suínos, com um rebanho de 5.096 milhões de cabeças. A produção do Estado juntamente com Santa Catarina e Rio Grande do Sul representa 70% do volume de produção de carne suína brasileira. Em Toledo, a produção representa 36,9% do Valor Bruto de Produção (VBP). O setor juntamente com avicultura representa mais de 66% do VBP toledano. No entanto, apesar da produção elevada, o consumo ainda não é suficiente para absorver toda a carne interna.
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