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GERAL

Jovem que comete o ato infracional tem mais possibilidades em Toledo em comparação com aquele que nunca cometeu algum tipo de crime, afirma Dias

O requerimento nº 162 da Câmara de Vereadores de Toledo debate a situação do tráfico e uso indevido de drogas na cidade. Diante disso, na noite de quinta-feira (09), foi realizada uma audiência pública para debater “a adoção de providências de combate ao tráfico ilícito e uso indevido de drogas”. Autoridades e representantes de diversos segmentos estiveram presentes na reunião e apresentaram as ações preventivas realizadas por cada órgão. Algumas pessoas solicitaram que o tema seja ampliado e também se discuta as drogas lícitas (tabaco e etílico). A maioria dos adolescentes infratores pertence aos bairros: Europa e Coopagro. O juiz da Vara da Infância e da Juventude de Toledo, Dr. Rodrigo Rodrigues Dias, destaca que diariamente aplica medidas, no entanto, ele se sente como se tivesse “secando gelo”. O presidente da comissão, Ademar Dorfschmidt, disse que nos próximos dias serão realizadas novas reuniões com os segmentos para discutir o assunto e formar uma comissão.

10/08/2012 - 16:31


O juiz da Vara da Infância e da Juventude, Dr. Rodrigo Rodrigues Dias, durante a audiência pode perceber que é pontual qualquer tipo de trabalho de prevenção a droga realizado em Toledo, seja na assistência social, educação, saúde e outros setores. “Cada profissional manifesta o que faz em sua área e eu fico com a sensação que – diariamente – estou enxugando gelo, porque construo o processo, ouço as testemunhas, aplico a medida, o adolescente é encaminhado para o Cense e, posteriormente ao CREAS, mas alguns voltam para o mundo do crime quando encerra o período da medida”.
Dias relata que os adolescentes participam das atividades propostas por ele e até gosta de praticá-las, porém muitos destes jovens contam que ao sair do Cense voltarão para a mesma casa, ciclo de amizades e comunidade. Ele salienta que no Cense, o adolescente possui acesso a uma série de serviços, nunca visto por ele antes. O juiz declara que esta situação chega a ser contraditória. Segundo Dias, o jovem que comete o ato infracional tem muitas possibilidades de quem nunca cometeu algum tipo de crime. “Eles me contam que não vão aguentar segurar a ‘onda’ quando retornarem para as suas casas. O que adianta aplicar medida se o adolescente tem medo de voltar para a sua casa?”.
Dias afirma que muitos jovens possuem problemas sérios de comportamento. Contudo, ele acredita que para alguns – infelizmente – a vida é injusta. “Não podemos fechar o olho, porque há fatores sociais que não ajudam o adolescente a se recuperar e se ressocializar. O trabalho é realizado com o adolescente, mas como fica família? A comunidade?”, questiona Dias.
O juiz complementa que em muitos casos o adolescente evolui, aprende a dialogar, começa a estudar, entretanto, tudo ‘cai por água abaixo’ quando retorna para a sua comunidade. “Ele está inserido numa estrutura que é difícil resistir. Ou ele se isola em casa ou procura os amigos que vão pressioná-lo. A droga é algo cultural. Eu posso falar que a droga é ruim, mas para o adolescente isto não é verdade. Exemplo: O adolescente tímido vai usar droga, ele fica super ‘solto’ e se duvidar vai conseguir namorar a menina que ele tanto queria. Será que este jovem realmente acha a droga ruim? Acredito que não”.
Ele aponta que um trabalho também deve ser realizado com a família. “Não adianta aplicar a medida ao adolescente, colocá-lo no cense e a família permanecer na mesma estrutura. Por que estamos com a maior concentração de adolescente infrator no Europa e Coopagro. O que falta? Reflexão e reavaliar ações. Não tenho a solução e nem a responsabilidade de inventar políticas públicas. Gostaria que entedesse a minha angústia de ter uma obrigação com este adolescente e fingir que o sistema está funcionando”.
Dias disse que o melhor caminho é a prevenção, no entanto, a repreensão não pode ser perdida de vista. Ele também destaca que o papel da escola não é somente passar o conteúdo, ela também tem responsabilidades sociais. “As ações devem ser articuladas entre todos e devemos ouvir toda a sociedade organizada”.
Droga lícita
Em seu pronunciamento, o promotor de justiça, Dr. Hugo Urbano, destaca que no Município de Toledo há um consumo excessivo de bebida alcoólica. “As pessoas podem beber, mas devem fazer de forma responsável e socialmente adequada. Eu vejo um problema com o uso excessivo de bebida alcoólica em público. Isto cria um ambiente que atrai outros tipos de pessoas com intenções ruins. É preciso pensar uma forma de combater este tipo de situação, porque no Município há lugares apropriados para isto e não no meio da rua causando tumulto ou confusão”.
Com relação a droga, o Dr. Urbano afirma que é necessário combater o tráfico de drogas. “O papel da polícia é tratar a questão dos viciados, que é uma questão de política pública. É preciso investir nesta área, principalmente na educação. As famílias devem dar limites e construírem que o consumo de drogas lícitas e ilícitas é ruim”.
Ações
A secretária da Assistência Social, Marisa Cardoso, disse que é preciso avançar da discussão para ação. “Muitas ações tem sido feitas de forma isolada em Toledo. É necessário romper paradigmas. A droga é algo que vai além de políticas públicas. É preicso pensar de uma forma mais incisiva para discutir o tema. O jovem quer dinheiro fácil, rápido, sem trabalho e a droga é o meio”.
A secretária de Educação, Maria Eva, informa que a rede desenvolve ações de prevenções com os alunos, como o trabalho do PROERD, da Ficha do FICA, entre outros. “As políticas devem ser eficazes em todos os segmentos”.
O presidente do COMAD, Celso Lagnin, entende que combater o crime ou uso indevido é porque alguém errou na prevenção. “O Conselho está preocupado com prevenir. O combate deixamos para o Poder Público e as polícias. Nós procuramos desenvolver políticas para que os jovens não tenham acesso as drogas”.
O delegado da 20ª Subdivisão Policial (SDB), Donizete Botelho, disse que a prevenção deve ser realizada com a junção de todos os segmentos. Ele disse que a polícia realizou 131 autuações em flagrante em delito por tráfico de drogas, sendo que 45 destes casos havia o envolvimento de adolescentes. “Ao combatermos o tráfico de drogas percebemos que diminui qualquer tipo de criminalidade na cidade”.
O bombeiro, o sargento Apolinário, disse que “a droga tem causados problemas a sociedade e para amenizar o problema é preciso trabalhar a prevenção aliado com o tratamento e repreensão”.
O deputado estadual, Elton Welter, disse que participava de audiência não como uma pessoa pública, mas como um cidadão preocupado com o tema. Ele sugere que o poder público deve dialogar com os órgãos para ser construído um diagnóstico do problema. “O Poder Público deve ter um caráter proativo e instrutor. Isso ajuda identificar e dar lucidez a situação”.
Para o técnico em segurança, o pastor Carlos Magno, a síntese do problema é que a sociedade se distanciou de Deus. “Dobramos o homem, mas não o espírito”. O pastor Valdir Fabrício dos Santos complementa que o trabalho preventivo deve ser realizado em três linhas: biológica, psicológica e espiritual.
O representante da Paróquia São Francisco de Assis, Neudi Mosconi, disse que não há um projeto estratégico de combate as drogas em Toledo. “Devemos ouvir a sociedade, saber das pessoas o que elas querem, o que pensam do assunto. Como vamos realizar o combate se não temos um diagnóstico? Quem são os adolescentes? Onde eles estão? Por que entraram neste mundo? Não há respostas para isto. Planejamento se faz com seriedade”.
O presidente da OAB, Adir Colombo, destaca que falta sintonia entre os segmentos. “Cada um tenta fazer algo no seu canto, mas tudo muito descoordenado. Acredito que deveria ser construído um fórum periódico de discussão de assuntos com todos os envolvidos”.
Encaminhamentos
O presidente da comissão, Ademar Dorfschmidt, avaliou a audiência pública como positiva e disse que o próximo encaminhamento é realizar – nos próximos dias – reuniões com todos os segmentos da sociedade, desde segurança, saúde, educação, judiciário, religioso, entre outros. Segundo ele, o objetivo é discutir o assunto mais detalhados nos grupos e tirar representantes para formar uma comissão de combate. “É um trabalho que darei continuidade e não vou deixar cair no esquecimento. A Câmara vai fazer um trabalho elaborado, minucioso para que venha dar efeito a frente. Percebo que podemos desenvolver muitas ações que darão bons resultados”.

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