“Quando descobri que o meu filho é autista me senti sozinha. Imaginei ser o único caso no Município, mas jamais pensei em desistir”, afirma a mãe e presidente da Associação dos Familiares e Amigos dos Autistas Vida completa, Tânia Salete. Hoje, o Gabriel tem 8 anos, está na terceira série de uma escola regular e ganhou alta de diversos médicos.
Mas nem sempre foi assim...
Tânia lembra que quando o médico apresentou o diagnóstico ela não sabia o que fazer. “O primeiro pensamento é: o que vai ser do meu filho no futuro? Você se desespera. Eu chorei muito, mas nunca desisti. Não sabia como começar, porém tinha em mente que ia fazer algo”.
Ela relata que não tinha noção de como entrar em um banco, mas foi a luta. Tânia recorda que quando estava grávida do Gabriel teve vontade de tirar a habilitação e a fez. “Hoje, diariamente, levo o meu filho para a natação, taekwondo, musicalização e filosofia. Ele já ganhou alta de fonoaudióloga, hidroterapeuta, ecoterapia e psicologia. Ele nunca usou medicamento, somente terapias e paciência. A paciência é a mãe de toda a sabedoria, porque se não tiver paciência para tratar e cuidar do teu filho, você desmorona”.
Tânia buscou por informações na Secretaria de Educação, enviou cartas para pais com filhos autistas e promoveu reuniões. Para a sua surpresa em uma sessão de terapia, Tânia encontrou outra mãe que enfrentava a mesma situação. “Eu e ela iniciamos uma conversa e contei da minha vontade de fundar uma Associação para trocarmos experiências. É uma parceria que está dando certo há dois anos”.
Ela lembra que o médico diagnosticou pautas autistas com Síndrome de Asperger (é um transtorno do espectro autista). Na época, a criança tinha dois anos e três meses. “Hoje, a medicina trata a situação do meu filho como um milagre. Ele tinha todas as pautas de um autista, mas com o incentivo, a persistência da família e dos profissionais em realizarem um trabalho diário, ele apresentou muitas evoluções”.
Tânia destaca que a família tem papel fundamental no processo. “Se a família pensa que o profissional que acompanha a criança vai fazer milagre, isto não acontece. Quando levei o Gabriel para Curitiba o especialista me parabenizou e disse que eu não sabia o que tinha feito para o meu filho. Também disse que o meu filho era um verdadeiro milagre pela evolução”.
Segundo Tânia, ela fez o que qualquer mãe deveria fazer pelo seu filho. Um exemplo é que geralmente o autista não olha nos olhos das pessoas e Tânia ensinou o Gabriel a olhar. “Eu erguia ele acima da minha cabeça, falava que tinha um neném nos olhos da mamãe e pedia para ele procurar”.
Outro fator destacado por ela é que quando levava o Gabriel para a creche procurava novos caminhos. “Ele olhava para o chão e eu chamava a atenção para olhar os objetos do Mundo, como carro, árvore, enfim. O dia que o meu filho olhou para a parede, porque viu uma lagartixa e apontou falando o nome do bicho foi um dia muito importante para toda a família. Neste dia, ele voltou a falar, a construir frases. Mãe do autista é mãe três vezes ou mais. Há cada dia agradeço ao Senhor pela evolução do meu filho”.
Na Escola, Tânia disse que a professora auxiliar do Gabriel se empenhou e proporcionou diversos avanços a ele. “O Gabriel não parava sentado em sala e a professora percebeu que o meu filho balançava muito e, por isso, decidiu cantar e ele foi ficando calmo e começou a pintar. São pequenos detalhes que fazem a diferença para os autistas”.
Tânia destaca que toda a criança ou o adolescente autista – durante a aprendizagem na escola – necessita de um professor auxiliar. “O meu filho tem Síndrome de Asperger. Ele é superdotado, com o QI elevado em todas as áreas. Ele só perde, porque são pessoas verdadeiras, inocentes, algumas pessoas podem o manipular, entre outros fatores. Na socialização, eles tem dificuldades. Os Asperger entendem realmente o que é dito. Por exemplo: Se eu falar que está chovendo canivete, o meu filho vai se esconder debaixo de uma mesa, porque ele entende que o canivete vai cair em cima dele”.
Diagnóstico
O diagnóstico acontece a partir da observação do comportamento da criança. Normalmente, os pais detectam algum traço de indiferença ou isolamento excessivos, entre outros fatores. Estima-se que no Brasil o autismo é uma condição encontrada em 20 de cada 10 mil nascidos. Por isso, o quanto antes os pais identificarem as características e buscarem ajuda, melhor. O tratamento precoce traz resultados positivos no desenvolvimento da criança.
Desafios
A presidente da Associação, Tânia Salete, acredita que a principal dificuldade do grupo é o preconceito da sociedade, mas principalmente, o preconceito no seio familiar. Ela explica que muitas pessoas não entendem a síndrome de seus filhos, pois o comportamento de uma criança autista é diferenciado. “Às vezes, se a pessoa pega o papel da mão de um autista pode desencadear uma situação desagradável a ele. Muitas pessoas consideram uma manha incontrolável. Na verdade, o autista não consegue absorver o que está acontecendo. Tudo pode ser o fim para ele”.
Ela salienta que a sociedade deve entender o que é o autismo. “Se não for um grau elevado, o autismo não é visível. Parece ser uma criança normal, mas tem transtornos e muitas pessoas ainda não sabem respeitar”.
Outro fator destacado por Tânia é a área de saúde. “Nós temos dificuldades de encontrarmos profissionais especializados para atender o autista, desde neuropediatra, fonoaudiólogos, fisioterapeutas, entre outros”.
Programação
No sábado (06), a Secretaria Municipal de Educação (SMED) em parceria com a Associação de Familiares e Amigos dos Autistas (VIDA) realizará encontro, das 15h30 às 18h, no Parque Ecológico Diva Paim Barth para conscientização sobre o assunto.
Tânia comenta que a atitude da Secretaria de Educação em encaminhar um convite do evento no Lago para todos os alunos da rede agradou os associados, pois o convite é o símbolo do autismo que deve ser colorido e dentro está a programação de sábado. “É um avanço, porque esta criança vai mostrar o material para seus pais ou até ficar curiosa e procurar entender”.
De acordo com Tânia, a Associação busca ensinar as crianças a lidarem com as diferenças, pois infelizmente, as algumas pessoas não conseguem lidar com o diferente. “Acredito que se Deus manda algo diferente, Ele está testando o seu potencial, para não deixar no cômodo do dia a dia. Se Deus te manda uma prova nova é para você não ficar naquela mesmice pela vida inteira”.
Os acadêmicos da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), campus Toledo, estão distribuindo folders explicativos sobre o autismo nesta terça-feira (02). Na sexta-feira (05), a ação acontece na Faculdade Sul Brasil (Fasul).