A princípio, a população reivindicou o passe livre em São Paulo e posicionou-se contrária aos gastos com a Copa do Mundo em Brasília. Mas aos poucos, o movimento ganhou novos adeptos em outras partes do País e reivindicações municipais foram incluídas na pauta.
No Município, a Passeata Pacífica Nacional ‘Vem pra rua de Toledo’ acontece nesta sexta-feira (21), a partir das 18h. A doutora em Educação e mestre em História e Movimentos Sociais, Zenaide Gatti, explica que o movimento pacífico prima pela conservação do patrimônio público, tendo em vista que ele é de todos.
Zenaide afirma que uma manifestação coletiva de insatisfação social não acontece no Brasil há anos. Ela considera este movimento pertinente. “O País viveu um período de marasmo. A chamada democracia brasileira não atinge todas as questões sociais e, por isso, pode ser considerada como uma democracia de superfície”.
A doutora acrescenta que na maioria das situações não há democracia, e sim, imposição e violência. “Diante disso, os movimentos sociais são – em sua maioria no Brasil - tratados como casos de polícia, sendo assim há prisões, brutalidades e mortes”. Zenaide cita como exemplos a Confederação dos Tamoios, Quilombo dos Palmares, Revolta dos Alfaiates, Canudos e Contestado, Ditadura Militar ou Diretas Já. “É possível observar que ao longo da história os movimentos são tratados de maneira violenta, onde o Estado usa da repreensão para calar aqueles que lutam por melhores condições de vida”.
Zenaide explica que um país democrático garante a liberdade política individual e os direitos sociais que estão assegurados na Constituição. Contudo, ela observa que na maioria das vezes o cidadão luta para ter o seu direito reconhecido.
Ela enfatiza que hoje o Brasil vive um momento histórico diferente. Segundo Zenaide, há uma maior conquista de direitos econômicos e a miséria não é tão profunda em relação aos períodos citados. No entanto, ela afirma que existe uma insatisfação. “Os brasileiros alcançaram um patamar de vida considerado mínimo, mas eles buscam mais. Buscam por espaços de cultura; acesso a educação e a saúde, entre outros fatores”.
A doutora salienta que embora possa existir algum tipo de manipulação no movimento, ele não perderá a sua validade. “É um acordar! Sim, existem disputas políticas, pois determinados grupos de elite não estão conformados com esta abertura social e política da sociedade. Algumas pessoas argumentam que a aprovação da Copa aconteceu em 2007 e hoje que são realizadas as manifestações. Talvez levou-se muito tempo para acordar. Quantos anos tinha um jovem de 14 anos naquela época?”.
Zenaide enfatiza que o movimento é formado – essencialmente – por jovens. Segundo ela, esta geração ainda não teve uma experiência de luta. “É um movimento a frente do tempo. A geração anterior passou por diversas dificuldades para oferecer uma melhor qualidade de vida a atual. Se observar, os movimentos anteriores tiveram o cunho de expressão por mais participação econômica, política e um respeito individual. Eu não posso falar em direitos individuais na época do Brasil Colônia”. Ela afirma que é impossível parar a marcha da história.
Ordem Pública
A doutora Zenaide explica que a autoridade deve garantir o direito a liberdade de expressão, de manifestação e manter a ordem pública. “Não acredito que uma passeata perturbe a ordem pública. Ao longo dos anos, a passeata foi uma desculpa para o uso da violência. Cada autoridade deve fazer o seu papel, mas reprimir com violência determinadas manifestações ou provocar a reação violenta dos manifestantes em alguns momentos não é o papel das autoridades”.
De acordo com a socióloga, a radicalização - neste sentido de violência - não mostra a essência do movimento em si. “As autoridades e a mídia reconhecem que há um grupo dentro de um maior. No meio de tantas pessoas sempre há aqueles que radicalizam”.
Ela destaca que as conquistas sociais, trabalhistas e de direito não foram dádivas de quem estava no poder. “Elas são resultados de conquistas, de lutas, de disputas, de sangue, de muitas vidas que se perderam por resultado da violência”.