Se de um lado da moeda existe a droga ou o álcool. Do outro estão a melhoria do sistema de ensino; o fortalecimento do papel familiar; a inserção em atividades esportivas; lazer; entre outros. As comunidades terapêuticas ou os Centros de Atenção Psicossocial (Caps) são os dois principais equipamentos de saúde para tratamento de dependentes hoje no País. Apesar dos resultados semelhantes, a abordagem das instituições é diferente. Enquanto no Caps o tratamento dura cerca de quatro anos, em comunidades terapêuticas varia entre sete e dez meses. Entretanto, as recaídas são comuns entre os dependentes. O tratamento da dependência química é um processo que conta com várias ações. Contudo, não são todas as pessoas que necessitam de todas as ações.
Para o psiquiatra, José Ricardo Pinto da Silva, o principal desafio para a pessoa que deseja fazer um tratamento e se livrar da dependência química é a eficácia deste tratamento. Silva explica que o tratamento é um passo, porém o profissional acredita que não é eficaz. “Os resultados não são positivos. Os gestores devem compreender que não existe um tratamento específico para a dependência química”.
Silva esclarece que a dependência química acarreta consequências negativas ao dependente. Inclusive as chamadas comorbidades (doenças psiquiátricas associadas), como psicose, paranoia, esquizofrenia, manias, bipolaridade, entre outras. “Estas doenças tem tratamento e são curáveis, mas a dependência química, creio que não”.
O profissional salienta que é mais eficaz o gestor público investir em um trabalho preventivo do que na construção de novas clínicas. “Tratamento não tem eficácia, prevenção sim!”.
Silva enfatiza que apesar de acreditar que o tratamento não é eficaz, ele sabe que existe um índice de recuperação, trata-se o da recuperação espontânea. “A diferença é que o dependente consegue com a minha ajuda ou não. Neste caso, a abordagem da medicina psiquiatria não tem eficácia”.
Ele acrescenta que como psiquiatra tem a mesma eficácia que uma benzedeira. “Atualmente, o usuário de crack tem a vontade de parar e uma percentagem vai conseguir com tratamento ou sem tratamento. A relação de custo x benefício em investir em clínicas de recuperação é desfavorável. Seria mais eficaz mudar a legislação e seguir o exemplo dos EUA”.
O psiquiatra conta que por 20 anos, o EUA enfrentou um problema muito grave em função do crack e, por isso, as autoridades tomaram providências. “Se um traficante fosse preso com um determinado tipo de droga, ele tinha uma punição, mas se fosse pego por crack a punição seria maior. Crack passou a ser um mau negócio nos EUA”.
O psiquiatra cita ainda o exemplo em São Paulo. A Câmara de Vereadores aprovou um Projeto de Lei que estabelece que as bebidas alcoólicas não estejam expostas em alguns comércios. “Isto funciona a um custo zero e chama-se: Prevenção!”.