Zenaide salienta que a ideia de herói é complexa. A disciplina de história sempre ensinou a história dos heróis e não do povo. “Hoje ensinamos a luta e resistência social de negros, sem terras, de homossexuais e de todas as classes sociais. A ideia de herói é uma visão positivista da história e bastante criticada. Contudo, desconhecemos as figuras da história do Brasil, seja Tiradentes ou qualquer outro herói ou líder”. Ela inda argumenta que se questiona quem foi João de Deus ou Vinagre muitos vão dizer que nunca ouviram falar e são pessoas que deram suas vidas para que o povo brasileiro tivesse alguns direitos. “Os próprios movimentos. Exemplo: a população conhece o Movimento Sem-Terra pela mídia, mas quando são presos; ou algum indígena que lidera um movimento e, que atualmente, a polícia tem criminalizado os movimentos indígenas por formação de quadrilha. Isto é criminalizar os movimentos sociais, a grande mídia faz isso. Desta forma, muitas vezes, o aluno fica com a ideia da grande mídia”.
Conhecer a história
Para Zenaide conhecer a história do Brasil é uma questão cultural. “Não existe no Brasil uma visão histórica de conhecermos quem nós somos, qual é a nossa identidade social, como o povo se organiza e batalha pelos seus direitos, nós temos a visão da mídia - a visão das classes dominantes. “Ninguém falou de indígena na terça-feira. São 220 povos e aproximadamente 188 línguas que são faladas no Brasil. Muitos chamam o índio de vagabundo e esta é uma triste realidade. Não é somente a culpa da mídia. No entanto, ela possui um poder muito forte no dia a dia das pessoas, pois percebo que ela acaba determinando a formação de opinião, porque o que se discute nas rodas é o que passou na TV à noite anterior, como se aquela informação fosse a verdade de um grupo”.
Movimentos sociais
Zenaide enfatiza que a maioria das pessoas desconhece a sua própria história e, consequentemente, não se reconhece no grupo. “Os movimentos sociais já foram mais ativos, mas atualmente o que se tem é um boicote restrito da mídia de não mostrar o Movimento dos Sem-Terra; o movimento das mulheres pela implantação da Lei Maria da Penha; como se não existisse o movimento da Associação de Moradores, os Movimentos Ecológicos, os Movimentos dos Direitos Humanos pela Criança, Eles estão aí, porém não são divulgados, porque não interessa a mídia”. Ela ainda explica que os movimentos sociais acontecem por duas razões: miséria absoluta ou falta absoluta de liberdade. “O povo brasileiro está sendo mantido um pouco acima da linha da miséria, isto faz com que ele não se organize. O povo está dentro de um nível mínimo de contentamento”.
Quem são os heróis?
Atualmente, para a educadora, os heróis são o povo brasileiro que trabalha todo o dia e em um determinado horário ainda vai para a escola. “É aquele que ganha um salário mínimo e paga o aluguel, o transporte e ainda compra comida. Os professores que lidam contra toda esta maré; os médicos nesta situação que esta a saúde. Enfim, aquele que em algum órgão continua lutando pela cidadania. Enquanto muitos nomeiam heróis devem lembrar que os verdadeiros heróis são os trabalhadores que lutam por melhores condições de trabalho. Nós somos os verdadeiros heróis”.
Leitura
A professora Zenaide sugere “a todos que leiam e conheçam a nossa história para saber quem somos, porque a partir do momento que nos conhecemos e nos reconhecemos aprendemos a lutar mais pelos nossos direitos”.
Por Graciela Souza