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O Festival de Aparências

A internet construiu a sociedade do simulacro, onde o ser humano quer ser notado de qualquer forma

08/02/2019 - 18:02
Daniel Felício

Daniel Felício

Jornalista, sonhador, amante de literatura e cinema clássicos. Quer conhecer o mundo. Seu humor ácido, melancólico e sarcástico é um de seus pontos fortes.


Enquanto eu lia Fernando Pessoa, um amigo me contou de seus problemas e perguntou se eu estava feliz. Eu nunca sei responder quando alguém faz uma pergunta deste cacife. É cruel.

- Olha, eu não estou feliz, mas também não estou triste. Talvez apenas um pouco perdido.

Foi então que comecei a pensar em como a internet é uma ferramenta que, com o passar dos anos, construiu a sociedade do simulacro. Em qualquer lugar podemos ver pessoas que apenas representam um sentimento de pertencer àquela realidade quando ficam expostas a uma câmera. É um festival de aparências.

De um lado há meninas usando vestidos e sorrindo como debutantes. De outro há pessoas contando suas vidas como se fosse um jardim de felicidade em que podemos ver apenas pela janela da frente. Entretanto, se elas nos permitissem entrar na casa, veríamos a grande poeira que encobre o chão.

Nesta nova realidade virtual é possível ver casais de mãos dadas apenas esperando por aplausos. Há ainda garrafas que ficam como sentinelas aguardando o momento de entreter um garoto para que ele esqueça a sua realidade medíocre. Tudo isso faz parte de uma nova evolução que está cada vez mais em alta. É algo moderno que nasce de uma confusão de ilusões.

Durante o dia nós postamos fotos e vídeos de momentos em troca de likes apenas para afirmar e reafirmar aos outros que estamos tendo o momento de nossas vidas. Mas ao anoitecer, os monstros continuam debaixo de nossas camas e nós jamais seremos capazes de enfrentá-los enquanto não resolvermos os conflitos internos que insistimos em ignorar. Afinal, acredito que essa colisão de sentimentos é o que faz o ser humano querer ser notado de alguma forma.

Mas longe de mim defender que as pessoas troquem a divulgação de suas felicidades momentâneas por dores, aflições, paranóias e rejeições. Isso cabe a nós, meros escritores, que registramos nossas palavras com sangue nas paredes da nossa alma porque a tinta da caneta não fica tão bem em um simples papel. Se isso nos faz feliz ou triste, eu não sei. Talvez sejamos apenas um pouco perdidos. É cruel.

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