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CIÊNCIA

Em estudo inédito no país, pesquisadoras da UFPR fazem levantamento sobre mulheres cientistas na Química

A pesquisa mapeou dados sobre a representação feminina nos diversos estágios da carreira científica na Química, desde o ingresso na graduação, até as que se encontram em posições de liderança

20/08/2020 - 16:28
Por Assessoria


Um estudo inédito no país, desenvolvido por pesquisadoras da Universidade Federal do Paraná (UFPR), mapeou dados sobre a representação feminina nos diversos estágios da carreira científica na Química, desde o ingresso na graduação, até as que se encontram em posições de liderança. Entre outras coisas, a pesquisa conclui que, quanto mais se ascende na carreira científica, menos mulheres se encontra. O artigo foi capa da revista Química Nova e utilizou fontes variadas de dados. 

A professora Elisa Orth, pesquisadora premiada por seu trabalho científico na área da Química, é uma das autoras do trabalho. “Falar sobre a representação feminina tem me motivado há muito tempo“, explica. Segundo ela, os números obtidos neste mapeamento eram necessários para que o cenário ficasse mais claro e se somasse a investigações semelhantes, sobre outras áreas da carreira científica. “O primeiro passo para as ações é ter o diagnóstico”, disse. O estudo também é assinado por Naiane Naidek, Yane H. Santos, Patricia Soares, Renata Hellinger e Thayna Hack

A pesquisa constatou que há uma representação feminina majoritária na pós-graduação em Química, com 52% de mulheres. No entanto, à medida que a carreira avança para a docência, os dados indicam que elas passam a ser minoria (42%). Além disso, das teses premiadas pela Capes, um dos principais órgãos de fomento à pesquisa no Brasil, apenas 33% são assinadas por mulheres.  

Gráfico apresentado no artigo ilustra percentual de mulheres docentes no Brasil, na graduação e na pós

Para Elisa, é preciso que as mulheres tenham uma espécie de vitrine para galgarem posições de destaque na carreira, e vejam outras colegas ocupando estes lugares. Ações de conscientização desde a graduação, quando ainda são maioria, podem contribuir, mas é preciso enfrentar desde cedo questões como o preconceito. “Se falava muito que temos poucas mulheres representadas como professoras porque não tinha meninas seguindo essa trajetória, mas nosso estudo mostra que não é isso. As meninas gostam e se interessam por Química. A gente tem é que ter uma vitrine para inspirar as futuras gerações a seguir esse sonho”, destaca. 

Outro dado levantado na pesquisa é sobre a baixa presença de mulheres entre os pesquisadores 1A do CNPq, outro órgão de fomento à pesquisa brasileira. Ser pesquisador 1A é chegar ao topo da carreira científica e atribui à cientista um papel de relevância em seu campo de estudo no país. Ocorre que apenas sete mulheres estão nessa posição na área da Química, o que corresponde a 12% do total. “É um número muito pequeno”, afirma Elisa. “Elas não são boas o suficiente para chegar lá? Não é verdade, e essa é uma vitrine de destaque na ciência brasileira”, reflete a professora, lembrando que a liderança alcançada por cientistas no topo da carreira tem influência em toda a sociedade. “Temos de ter diversidade não apenas de mulheres e homens, mas de todos os tipos de classes e pessoas. Isso enrique a ciência”.

Professora Elisa Orth é pesquisadora na UFPR e foi uma das autoras do estudo (Foto: Marcos Solivan/Sucom)

A produção científica dos artigos na área também fez parte do mapeamento. A pesquisa concluiu que, dentre os 20 mais citados com autores brasileiros entre 1969-2018, 80% não tinham mulheres como autoras. Nos últimos cinco anos, no entanto, a inserção das pesquisadoras passou a ser maior, o que pode ser um indicador otimista, mas ainda não representa paridade. “Mesmo assim, 55% dos artigos mais citados na área de Química nos últimos cinco anos não têm nenhuma mulher como autora”. 

O papel das mulheres na liderança de entidades de destaque também foi problematizado no estudo, que concluiu que algumas instituições brasileiras sequer tiveram mulher em sua presidência ao longo de toda a existência. Na Academia Brasileira de Ciências, por exemplo, foram apenas 18%. “Nós precisamos pensar em propostas de ações. Não é só uma questão de números, mas é preciso começar”, sintetiza. 

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