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CULTURA

Documentário com Téssera Companhia de Dança é selecionado para festival internacional de cinema

A Alma do Gesto é o encontro de duas artes – o cinema e a dança – e uma parceria entre UFPR e a Universidade Estadual do Paraná (Unespar)

28/08/2020 - 10:23
Por Assessoria


Antes que as cortinas se abram para o espetáculo, um longo caminho é percorrido. De onde surge a inspiração? Como se constrói uma obra artística? É possível captar em imagens esse momento de criação? Esse desafio norteou o longa-metragem documental “A alma do gesto”, que retrata o processo de criação da Téssera Companhia de Dança da Universidade Federal do Paraná. O filme, que tem direção de Eduardo Baggio e Juslaine Abreu-Nogueira, foi selecionado para o Olhar de Cinema, Festival Internacional de Curitiba, que será realizado em outubro.

A Alma do Gesto é o encontro de duas artes – o cinema e a dança – e uma parceria entre UFPR e a Universidade Estadual do Paraná (Unespar), através dos grupos de pesquisa Cinecriare e Kinedária, que pesquisam processos criativos artísticos. Eduardo Baggio, que é coordenador do mestrado em Cinema e Artes do Vídeo na Unespar e egresso do curso de Comunicação Social da UFPR, como aluno e professor substituto, já conhecia o trabalho da Téssera e decidiu convidar o grupo para o projeto.

A proposta de Baggio para realizar o documentário coincidiu com um momento especial para a Téssera. Perto de comemorar 40 anos ininterruptos em atividade, em 2021, a companhia de dança da UFPR é única no Brasil. “Nesses 40 anos, uma das questões sempre foi a identidade da companhia. A Téssera trabalha com emoção, temas fortes e polêmicos. Através dessa emoção, a companhia conseguiu ter uma identidade própria. As pessoas identificam o trabalho da companhia. O filme é importante para mostrar essa identidade”, conta Rafael Pacheco, diretor e coreógrafo da companhia.

Filmagen durante passagem de palco Crédito: Christian Alves

Baggio e Juslaine – que é professora do curso de Cinema da Unespar – explicam que o personagem central do filme é o processo criativo. A grande questão era traduzir algo tão abstrato para a linguagem do cinema. “Foi um grande desafio. Nosso objetivo não era mostrar o espetáculo, mas entender e mostrar o processo criativo para o espetáculo. Fomos nos guiando por filmagens que pudessem apresentar tal processo, entendê-lo e conceber um filme no qual esse processo fosse protagonista”, explica o diretor do filme.

As filmagens duraram cerca de cinco meses, de fevereiro a julho de 2017. “Filmamos desde o processo seletivo de bailarinos e bailarinas até a apresentação do Teatro da Reitoria”, lembra Baggio. Cerca de 40 pessoas, entre criadores, equipe técnica e integrantes da companhia passaram muito tempo juntos, enquanto nascia o espetáculo “Black Dog”. Pacheco lembra que a equipe do filme não interferiu no processo de criação e nem nos ensaios. “Os bailarinos são ensinados a não deixar as câmeras interferirem. Estão sempre focados no trabalho, na coreografia”.

A coreografia de Black Dog foi construída a partir de uma pesquisa sobre a depressão, tendo como disparador criativo seis sintomas marcantes desse transtorno que atinge grande parte da sociedade. “Black Dog é um dos mais significativos balés, pela identidade e maturidade estética da companhia”, explica Pacheco.

Rafael Pacheco durante criação do espetáculo “Black Dog”
Crédito: Christian Alves

O diretor da Téssera – que só vai assistir ao documentário na estreia, no festival Olhar de Cinema – imagina que o filme vai mostrar todo o processo de trabalho do coreógrafo, como a ideia do espetáculo é transmitida e como se consegue tirar a emoção dos bailarinos para se chegar ao resultado no palco. “É a magia da arte sendo processada que se conseguiu colocar na tela”, resume Pacheco. Baggio complementa: “Em muitas cenas a transposição de ideias, sentimentos e vontades aparece em processo, daquilo que é mental para a fisicalidade dos corpos”.

O processo de edição do documentário foi interrompido no segundo semestre de 2017, por problemas de falta de equipe e até de apoio, pois o filme foi realizado sem nenhum financiamento. A edição foi retomada no início de 2019 e a montagem terminou entre os meses de março e abril deste ano. Atualmente, está em fase de pós-produção, com trabalhos como legenda em outras línguas, trailer e divulgação.

“A Alma do Gesto” é o único longa na mostra Mirada Paranaense

O Festival

Até agora, o filme “A Alma do Gesto” foi enviado apenas para o festival internacional Olhar de Cinema. Foi o único longa-metragem documental selecionado para a 9ª edição da Mirada Paranaense, mostra do festival que apresenta as produções recentes do estado. Baggio explica que a escolha se deu porque é um evento que ocorre em Curitiba e tem grande relevância nacional e internacional. “Também pensamos que, caso selecionado, seria um grande momento a primeira exibição pública em um cinema com toda a equipe do filme e da Téssera, além de colegas e amigos”, diz.

Com a pandemia, as sessões do festival serão todas online. Isso abre a possibilidade para que mais pessoas, de fora de Curitiba, possam assistir ao filme e conhecer os trabalhos das duas instituições. Para a diretora Juslaine, “mais do que nunca, urge visibilizar as ações de nossas universidades públicas, as realizações artísticas que fazemos nas mais diversas linguagens e, sobretudo, o vigor do cinema brasileiro”.

O Olhar de Cinema, Festival Internacional de Curitiba será realizado de 7 a 15 de outubro. O evento tem como objetivo celebrar o cinema independente realizado no mundo. Os ingressos começarão a ser vendidos no dia 23 de setembro. É possível se cadastrar e concorrer a ingressos gratuitos com o Passaporte Acesso Livre até o dia 02 de setembro.

Uma companhia única

Bailarinos da Téssera trabalham energia, emoção e técnica
Crédito: Christian Alves

“A Téssera é um projeto único em uma instituição de ensino, com identidade e estética incrível. Não existe nada parecido dentro das universidades no Brasil”, define Pacheco. À frente da companhia desde 1981, quando ainda era o Grupo de Danças da UFPR, o diretor conta que a proposta mudou muito, de uma reunião de alunos interessados em dança para um núcleo de pesquisa e trabalho em dança moderna.

A companhia é vinculada à Coordenadoria de Cultura da Pró-Reitoria de Extensão e Cultura da UFPR. Passou a se chamar Téssera Companhia de Dança em março de 2000. Téssera é uma palavra de origem grega que significa “quatro”, em alusão aos quatro fatores utilizados nas aulas e processos criativos da companhia: espaço, tempo, forma e movimento.

Muito da “alma do gesto” da Téssera vem da bagagem de seu diretor. Além da dança, Pacheco foi esgrimista, ator de teatro e cinema – tem cinco filmes no currículo – professor de teatro e interpretação no curso superior de dança. “A Téssera é uma companhia de dança moderna com elementos do teatro, que fornece padrões para a construção da personagem. Acredito que meu caminho com a arte e a dança contribuiu para o diferencial estético da companhia”.

“Mas, quando os bailarinos entendem o que é a identidade da Téssera, não importa quem é o coreógrafo, a estética não muda. A energia, a emoção a relação com a personagem é sempre Téssera, o mérito é da companhia”, reflete Pacheco.

Assista a vídeos da Téssera nas redes sociais

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