A resposta à pergunta é dada pelo Presidente da Associação Brasileira de Nanotecnologia – BRASILNANO e CEO da FIBER INOVA, Leandro Antunes Berti no artigo “A guerra contra Covid-19 - potencial solução para saúde e economia”, publicado no site StatNano. O mesmo artigo inspirou a formação de uma rede de pesquisadores, Instituições de Pesquisa e empresas parceiras a desenvolverem um nanofiltro anti-COVID para máscaras por eletrofiação. A Unioeste, campus Toledo, é parceira do Projeto, que será financiado pela Finep – Inovação e Pesquisa.
Berti descreve no seu artigo de forma alegórica como a nanotecnologia, uma partícula que pode ter de 1 a 100 nanômetros: um nanômetro que equivale a um bilionésimo de metro (1000 vezes menor que um fio de cabelo), pode vencer este inimigo invisível e nos devolver os territórios públicos ou privados, que perdemos durante a Pandemia.
Ele escreve:
O Brasil não tem tradição na indústria de tecnologia, foi pego de surpresa nesta guerra. A Pandemia desnudou nossas fragilidades e dependências. “O Brasil, por essa falta de tradição, acabou resumindo tecnologia como TI, no entanto, tecnologia é muito mais, é um espectro muito maior. A pandemia desnudou a nossa realidade! Somos dependentes tecnologicamente, em processos de industrialização e materiais, mas por outro lado, existe um movimento de pessoas habilitadas que reuniram suas competências, o espírito inovador e querem virar este jogo”, defendeu o CEO da Fiber Inova.
E é este espectro que os pesquisadores, empresas e financiadores desejam explorar para virar o jogo. O Projeto que envolve a iniciativa privada e pública, quer desenvolver um nanofiltro anti-Covid, para aplicar em máscaras visando a retenção e inativação do SARS-CoV2, causador da COVID-19. Faz parte também do Projeto o desenvolvimento de um protocolo de testes, para validar a eficiência do nanofitro no combate ao vírus, para isso a FIOCRUZ e o CNEN são parceiros do Projeto.
A Universidade Estadual do Oeste do Paraná, campus Toledo, que é parceira no Projeto será responsável por produzir o filtro eletrofiado com os nanomateriais concebidos. A produção dos filtros acontecerá nos laboratórios de química da Unioeste, Campus de Toledo, sob a supervisão do Prof. Dr. Douglas Dragunski e uma equipe de professores e mestrandos em química.
Dragunski, explica como as nanopartículas podem inativar o SARS-CoV2. “A redução da possibilidade de contaminação é proporcionada pela diminuição da quantidade de vírus na atmosfera circundante ao usuário da máscara, contribuindo para a segurança sanitária da população. O objetivo do projeto é a incorporação de agentes nanoparticulados com atividades virucida: cério, prata, cobre, zinco/titânio, grafeno em matrizes poliméricas para testagem como filtro em máscaras faciais para retenção e inativação do SARS-CoV2, causador da COVID-19”, esclarece o pesquisador.
Os respiradores N95 ou FFP2 são recomendados para profissionais de saúde que realizam procedimentos de geração de aerossóis durante os cuidados clínicos de pacientes com COVID-19, durante a pandemia eles se tornaram escassos. “Os tamanhos de partícula para fala são da ordem de 1 um, enquanto as definições típicas de tamanho de gota são de 5 um 10 um. Geralmente, materiais domésticos disponíveis apresentam entre 49% e 86% de taxa de filtração para partículas expiradas de 0,02 um, enquanto as máscaras cirúrgicas filtravam 89% dessas partículas. Quando alguém está respirando, falando ou tossindo, apenas uma pequena quantidade do que sai da boca já está na forma de aerossol. Quase tudo o que está sendo emitido são gotículas, as quais evaporam e se transformam em partículas em aerossol que são 3 a 5 vezes menores. O objetivo ao usar uma máscara é impedir, em grande parte, que esse processo ocorra, uma vez que grandes gotículas se desidratam para partículas menores de aerossol que podem flutuar por mais tempo no ar”, explica Dragunski.
O CEO da FIBER INOVA, Leandro Antunes Berti explica que o produto em desenvolvimento é biodegradável, para evitar o impacto ambiental que as máscaras ao serem descartas, podem provocar. E que os pesquisadores estão agindo com cautela para que o produto ofereça maior segurança possível e atenda a demanda do Brasil. “As cepas são diferentes ao redor do mundo, nosso objetivo é olhar para cepas que têm aqui no Brasil. Nós queremos partir do protocolo da ISO, que é usado para o vírus da influenza, a partir daí vamos desenvolver um protocolo especificamente para Covid, juntos com a Fiocruz”.
Berti explica a diferença da tecnologia desenvolvida para o filtro e os tecidos que já estão no mercado. “A maioria dos tecidos que estão no mercado é baseada em nanopartículas de prata, ou seja, são íons de prata. A nanopartícula de prata ela já vem sendo usada há muito tempo na questão bactericida, mas o novo é a comprovação da virucida, por isso o protocolo é muito importante, pois queremos que a eficácia seja testada para o SARS-CoV2”, defendeu o CEO.
Mercado
O objetivo é vencer todas as etapas de pesquisa e desenvolvimento do produto no prazo máximo de doze meses, mas a aplicação da tecnologia pode ir além das máscaras. “Este material poderá ser aplicado em máscaras, aventais, ou aplicar em filtro de ar condicionado, pode ser usado em outros tipos de substrato. Estamos falando em polímero (macromoléculas formadas a partir de unidades estruturais menores que a partir das reações de polimerização, podem gerar outros produtos), portanto pode se transformar em diversas coisas, como por exemplo, em tinta, revestimentos, material plástico, impressão 3D. Ou seja, o filtro para Covid é o gatilho, a possibilidade de aplicar de forma mais abrangente é nossa aposta”, defende Berti.
Respostas aos desafios
O Presidente da Associação Brasileira de Nanotecnologia – BRASILNANO e CEO da FIBER INOVA, acredita que a crise epidemiológica despertou diversos setores para virar o jogo e ganhar a guerra contra o vírus, mas também a favor de um novo paradigma econômico. “Nós estamos diante da oportunidade de virar esta chave, o Brasil fala muito em industrializar, mas fica muito no discurso. Precisamos ter um movimento de industrialização de verdade. Nós queremos que a nossa indústria no momento de crise possa dar as respostas para os problemas que estão diante dela. Temos talentos, competência e conhecimento, só precisamos de estímulo para que possamos dar este passo. A princípio, estamos de picareta, como as pessoas antigamente que precisavam cavar buracos, nós estamos cavando incentivos para fazer tecnologia no Brasil”, defende Leandro Antunes Berti.
A Pandemia revelou o volume de pesquisa e inovação que é gerada pela Universidade. “Pesquisamos o tempo todo, temos muitas patentes, projetos prontos para se tornar inovação, e com a Pandemia a pesquisa não pode parar. Temos que devolver à sociedade tudo aquilo que é investido em nós, em forma de soluções e melhora da qualidade de vida”, destaca o professor coordenador do Projeto etapa Unioeste, Douglas Dragunski
Quem são os parceiros
A FIBER INOVA será responsável pela gestão geral do projeto, que contará com a participação das instituições de ciência e tecnologia: Associação Beneficente da Indústria Carbonífera de Santa Catarina (SATC), Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE) e Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Centro de Desenvolvimento Tecnológico em Saúde (CDTS) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e o Laboratório de Nanorradiofármacos, do Instituto de Biologia Molecular do Paraná (IBMP) da Fiocruz, e do Laboratório de Nanorradiofármacos e Síntese de Novos Radiofármacos do Instituto de Energia Nuclear (IEN) da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN). Financiamento da Finep.