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SAÚDE

Como as novas variantes do coronavírus afetam a vacinação?

Os pesquisadores da UFPR esclarecem questões sobre a gravidade das novas variantes do vírus e explicam como elas afetam a situação atual da pandemia
29/06/2021 - 09:11
Por Assessoria de Imprensa UFPR


Em junho, o Brasil ultrapassou a marca de 500 mil mortos pela Covid-19. Um dos motivos do agravamento da pandemia neste ano foi a disseminação de novas variantes do coronavírus, em sua maioria mais transmissíveis e letais do que a cepa original, o que preocupa profissionais da saúde, autoridades e cientistas ao redor do mundo.Em respostas à sociedade, pesquisadores da Universidade Federal do Paraná (UFPR) esclarecem aspectos das novas linhagens do vírus – como surgem, quais seus efeitos para o organismo, como impactam na vacinação, entre outras questões.

As perguntas foram enviadas para a Agência Escola UFPR por meio da ação Pergunte aos Cientistas, que busca facilitar o acesso da população ao conhecimento científico.A solução apontada pelos cientistas para interromper a disseminação das variantes existentes, bem como evitar o surgimento de outras cepas, é impedir a circulação do vírus. “É essencial continuar com o bom senso e o esforço coletivos, mantendo as atitudes de prevenção, como o isolamento e o distanciamento social, o uso correto de máscaras e a higiene das mãos”, explica a professora Juliana Maurer, do Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular da UFPR, uma das pesquisadoras que respondeu às perguntas da sociedade.

Roseli Wassem, pesquisadora do Departamento de Genética da Universidade que também participou da ação, complementa que a vacinação é essencial para reduzir as infecções pelo coronavírus. “Vacinar é um ato de proteção individual e também coletivo, pois diminui a circulação do vírus. Enquanto poucos estiverem vacinados, as chances de contrair a doença ainda são muito grandes”, reforça.Além de Juliana e Roseli, colaboraram para esta edição do Pergunte aos Cientistas Emanuel Maltempi de Souza, professor do Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular e presidente da Comissão de Enfrentamento e Prevenção à Covid-19 da UFPR; Alexandra Acco (professora) e Maria Carolina Stipp (aluna de pós-graduação) do Departamento de Farmacologia da Universidade; Patrícia Dalzoto e Vânia Vicente, professoras do Departamento de Patologia Básica; Douglas Adamoski, do Departamento de Genética da UFPR; Ricardo Belmonte-Lopes, aluno do Programa de Pós-graduação em Microbiologia, Parasitologia e Patologia; e Bruno Lustosa, estudante do Programa de Pós-graduação em Engenharia de Bioprocessos e Biotecnologia da Universidade. Confira abaixo as respostas dos cientistas.

Vacinas e novas variantes


“As novas variantes contaminam as pessoas que já receberam as duas doses da vacina? Como isso afeta a vacinação?” (Ibere Dittert, 26 anos, publicitário, Curitiba-PR)
“Como as novas variantes afetam a vacinação?” (Felipe Moreira Matias, 21 anos, estudante, Curitiba-PR)
“As novas variantes podem responder de forma diferente às vacinas já desenvolvidas?” (Matheus Notelo)
“As vacinas atuais são eficazes para as novas variantes?” (Kátia Avelar, economista)
“Como fica a proteção das vacinas usadas no Brasil agora com as novas variantes?” (Helena Argolo, 43 anos, jornalista, Salvador-BA) 

Patrícia Dalzoto, cientista UFPR – As novas variantes podem infectar pessoas já vacinadas e elas podem ser transmissoras do vírus, embora, na maioria das vezes, passem pela infecção de forma assintomática ou com sintomas leves.O surgimento de novas variantes ocorre por mutações no material genético do vírus (RNA). Quanto mais o vírus multiplica, maior a chance de surgirem novas mutações. Por isso, as variantes costumam surgir em locais onde a epidemia ainda não está controlada, uma vez que o vírus está circulando e se multiplicando muito.As vacinas contra a Covid-19 existentes até o momento apresentam diferentes mecanismos. A CoronaVac (Butantan/Sinovac) utiliza o vírus inativado (morto) e, neste caso, o próprio vírus é capaz de estimular a produção de anticorpos pelo nosso organismo. Assim, quando em contato com o vírus SARS-CoV-2, ele é neutralizado pelos anticorpos.A vacina Oxford/AstraZeneca/Fiocruz emprega uma tecnologia que usa um vetor viral não replicante, ou seja, um adenovírus (vírus de resfriado comum) que não tem capacidade de se multiplicar. Esse adenovírus é modificado geneticamente para expressar uma proteína do SARS-CoV-2, a proteína S (spike), presente na superfície do vírus. Essa proteína estimula o sistema imune do hospedeiro e esse passa a produzir anticorpos contra essa proteína.A vacina Pfizer/BioNTech utiliza a tecnologia do RNA mensageiro (mRNA). Ela contém a informação genética para a proteína S do vírus na forma de mRNA e essa molécula é capaz de estimular fortemente o nosso sistema imune, levando à produção de anticorpos. O imunizante da Moderna também utiliza a tecnologia do mRNA.
A vacina Sputnik-V também emprega vetores virais não replicantes para estimular a produção de anticorpos, mas no caso dessa vacina, são dois adenovírus diferentes, em cada uma das doses.
O imunizante da Janssen/Johnson & Johnson também utiliza um adenovírus modificado com material genético de SARS-CoV-2, mas, ao contrário das vacinas citadas anteriormente, é necessária apenas uma dose para alcançar a imunidade desejada.
No caso das novas variantes, as vacinas continuam efetivas, a menos que ocorra uma alteração significativa nas proteínas de superfície do vírus, de modo que os anticorpos produzidos não reconheçam mais essas proteínas e não sejam mais capazes de neutralizar o vírus.
Portanto, é importante controlar a disseminação viral, fazer com que o vírus diminua a circulação e, em consequência, reduza sua multiplicação. Isso limitará o surgimento de novas variantes e diminuirá o risco de surgirem modificações que não sejam contempladas pelas vacinas utilizadas até o momento. Até que 70% a 80% da população seja vacinada, devemos continuar mantendo o distanciamento social, usando máscaras e fazendo a higiene das mãos.

Sintomas e gravidade

“Nós, pessoas leigas, podemos, pelos sintomas, reconhecer a variante de alguma maneira?” (Maria de Fátima Lira, 61 anos, aposentada, Mossoró-RN)

Douglas Adamoski, cientista UFPR – Olá, Maria de Fátima. Infelizmente, para a identificação das variantes são necessários testes laboratoriais, sendo dois os principais tipos. Um deles consiste no sequenciamento do genoma do vírus, que é o processo de conhecer toda a informação presente na “receita” que o vírus SARS-CoV-2 utiliza para fazer cópias de si mesmo, processo bem mais demorado que o exame tradicional de diagnóstico (a RT-PCR) e com custo elevado. A outra estratégia envolve utilizar justamente modificações da RT-PCR que permitam separar grosseiramente variantes já conhecidas. Como vantagens, a segunda estratégia é mais rápida e barata, mas não permite descobrir com segurança novas variantes, somente avaliar a presença das já conhecidas.

“Existe a possibilidade de surgir uma nova variante em que os mais afetados serão crianças e menores de 18 anos? E se sim, como será tratada, visto que as vacinas ainda não podem ser aplicadas neste grupo?” (Julia Cetnarsky, 21 anos, São José dos Pinhais-PR)

Douglas Adamoski, cientista UFPR – Olá, Julia. O processo evolutivo tem um grande conjunto de possibilidades e, sim, seria possível uma variante que afetasse mais crianças e menores de 18 anos. Entretanto, mesmo sem o surgimento de uma nova variante, vamos observar esse efeito com o avançar da vacinação: com as populações de maior idade reduzindo a circulação do vírus, a tendência é que, proporcionalmente, vamos observar mais casos entre pessoas jovens. O ponto positivo é que várias vacinas já estão em teste para a aplicação nesses grupos específicos. Por exemplo, a vacina ComiRNAty (Pfizer) já recebeu liberação em alguns países para aplicação acima de 12 anos e a CoronaVac (Sinovac) já pode ser aplicada em maiores de três anos na China. Assim, a vacinação também vai alcançar esses grupos.

Situação da pandemia


“Alguma dessas variantes pode piorar a situação atual da pandemia?” (Giovanna Paola Barbosa de Santana, 22 anos, autônoma, Curitiba-PR)
“Apesar do aparecimento de novas variantes, tem como a pandemia acabar em breve?” (Gabriela Gnoatto Paiz, 21 anos, estudante, Curitiba-PR)

Alexandra Acco, cientista UFPR – Olá, Gabriela e Giovana. Sua dúvida sobre as variantes e a continuidade ou finalização da pandemia é pertinente, pois algumas mudanças podem afetar as propriedades do vírus, como a facilidade com que ele se espalha, a gravidade da doença ou o desempenho de vacinas, medicamentos, ferramentas de diagnóstico ou outras medidas sociais e de saúde pública. A Organização Mundial da Saúde (OMS), em colaboração com instituições de pesquisa, tem monitorado a evolução do SARS-CoV-2 desde janeiro de 2020. No final de 2020, o surgimento de variantes que representavam um risco maior para a saúde pública global, dentre elas a P.1 (Manaus), aceleraram uma nova classificação: Variantes de Interesse (VOIs) e Variantes de Preocupação (VOCs), a fim de priorizar o monitoramento e informar os países e o público sobre quaisquer alterações necessárias para reagir à variante e prevenir sua disseminação. Até o momento, são cinco as VOCs, identificadas em diferentes países (Reino Unido, África do Sul, Brasil e Índia) e que exigem maior cuidado.Apesar dessas variantes, as vacinas contra a Covid-19 que estão sendo utilizadas devem fornecer alguma proteção contra novas variantes do vírus, porque todas as vacinas levam à ampla resposta imunológica.O que está bem claro é que a vacinação mundial em massa é a forma mais eficiente de controlar a pandemia, e até que isso não avance, os cuidados individuais e coletivos são fundamentais (máscaras, distanciamento social e higienização de mãos e ambientes), pois precisamos continuar reduzindo a chance de propagação do vírus, reduzindo o risco de sermos expostos e de expor outras pessoas ao vírus. Essas medidas funcionam contra todas as variantes, reduzindo a quantidade de transmissão viral e diminuindo as chances de o vírus sofrer mais mutações. À medida que mais pessoas são vacinadas, espera-se que a circulação do vírus diminua, o que também levará a menos mutações e variantes, e consequentemente, ao controle da pandemia. Porém, não sabemos se o tempo para isso será “breve” como a Gabriela mencionou na pergunta, pois dependerá da velocidade de vacinação em nosso país e no mundo todo.

Prevenção


“O uso de máscaras ainda protege contra as novas variantes?” (Valéria Silva, 38 anos, assistente administrativa, Curitiba-PR)

Emanuel Maltempi, cientista UFPR – Obrigado pela pergunta, Valéria. Fala-se tanto das diferenças das variantes que é comum se achar que se trata de outro vírus. Na verdade, todas as variantes do coronavírus têm o mesmo tamanho e são transmitidas pelas gotículas e aerossóis que emitimos quando falamos, tossimos ou espirramos. Assim, os meios de impedir a transmissão são eficientes para todas as variantes. As máscaras do tipo PFF2, N95 ou KN95 conferem o mesmo nível de proteção. O distanciamento social também. As variantes de preocupação são mais transmissíveis porque têm mais vírus nas gotículas e, principalmente, essas variantes são capazes de grudar com muito mais eficiência nas nossas células.

Mais sobre novas variantes


“Qual o fator gerador das variantes do coronavírus?” (Kátia Avelar, economista)
Juliana Maurer, cientista UFPR – Olá, Kátia, agradecemos pela sua participação. De forma simplificada, pode-se dizer que quanto maior o número de pessoas infectadas, maior a oportunidade para o aparecimento de novas variantes. Quanto maior o número de casos ativos, ou seja, pessoas com o vírus, maior será a possibilidade para o aparecimento das variantes. Vamos explicar, simplificadamente, sobre a biologia do vírus e como as variantes podem ser geradas para tentar esclarecer melhor. O vírus é um organismo intracelular obrigatório, que significa que o vírus depende da célula hospedeira para se multiplicar. Então, após entrar dentro da célula, ele começa o processo de replicação e expressão gênica, e é nessa etapa que são feitas cópias do material genético do vírus para formar novos vírus. Como esse processo é muito rápido, podem ocorrer mutações ou mudanças no material genético durante essa etapa. Assim, as variantes virais são aquelas que apresentam qualquer alteração do material genético comparando com o material genético do vírus original. Nem toda mutação será benéfica para o vírus. Porém, se as mutações resultarem em um vírus mais transmissível, que provoque agravamento dos sintomas, que escape da resposta imunológica, ou que diminua a eficácia de terapêuticas e vacinas, essas mutações vão tornar os vírus mais eficazes “no propósito de ser um agente infeccioso”. Desta forma, para impedir o surgimento de novas variantes, é essencial continuar com o bom senso e o esforço coletivos, mantendo as atitudes de prevenção (isolamento e o distanciamento social, uso correto de máscaras e a higiene das mãos). Aliada a essas medidas, a vacinação em massa é uma medida eficaz e necessária para diminuir a taxa de infecção e assim o surgimento de novas variantes.


Mais perguntas da sociedade e respostas dos cientistas da UFPR podem ser conferidas neste link.
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