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SAÚDE

Cesariana sem indicação pode aumentar risco de óbito na infância

O Brasil é o segundo no ranking das cesarianas, 56% e na rede privada de saúde essa taxa atinge a marca de 89% do total de partos
13/10/2021 - 17:58
Por Antônio H. C. Laranjeira (Cidacs/Fiocruz Bahia)


Um estudo liderado pelo Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs/Fiocruz Bahia) sugere que partos cesáreos podem estar associados ao maior risco de mortalidade na infância, com exceção dos casos que uma indicação médica seja clara sobre o procedimento cirúrgico conhecido popularmente como "cesariana".

Utilizando dados coletados e cedidos pelo Ministério da Saúde sobre mais de 17 milhões de nascimentos ocorridos no Brasil entre 2012 e 2018, os pesquisadores do Brasil e do Reino Unido observaram que, no grupo com baixa indicação de cesariana, este procedimento foi associado a um risco aumentado em 25% na mortalidade na infância - até cinco anos - na comparação com as crianças que nasceram de parto vaginal.

Por outro lado, nos nascimentos de crianças com indicação médica este procedimento foi associado com redução dos óbitos, evidenciando a importância da cesárea quando devidamente indicada por um médico.

Estas descobertas foram publicadas na revista científica internacional PLOS Medicine (EUA). O estudo foi conduzido pelo em parceria com a London School of Hygiene & Tropical Medicine (LSHTM), sob a liderança da epidemiologista Enny Paixão, pesquisadora associada ao Cidacs e professora assistente da LSHTM.


Metodologia do novo estudo


A análise partiu da primeira hipótese que em grupos com baixa indicação do cesáreo, esse procedimento estaria associado a maior mortalidade infantil. Já em grupos com uma indicação médica, a segunda hipótese é de que a cirurgia provavelmente melhoraria as chances de sobrevivência na infância, ou seja, até cinco anos de vida.

Para separar esses grupos, todos os nascimentos foram classificados utilizando o sistema de classificação recomendado pela Organização Mundial da Saúde - grupos de Robson, uma classificação utilizada por obstetras para relatar a rotina em todas as maternidades registradas no Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos (Sinasc) do Brasil.

Em seguida, foram identificadas as taxas relativas de mortalidade nos primeiros cinco anos de vida, comparando primeiro parto cesáreo com o parto vaginal e depois comparando os partos cesáreos eletivos e não eletivos.


Recomendação médica da cesariana


O estudo utilizou do sistema de classificação de Robson, uma escala que agrupa as mulheres em uma das dez categorias mutuamente exclusivas, com base em seis características obstétricas.

Nos grupos de Robson 1 a 4, onde se espera baixas taxas de propensão cesárea, este procedimento cirúrgico foi associado a um aumento de 25% na taxa de mortalidade na infância em comparação com os nascidos por parto vaginal, o que comprova a primeira hipótese.

Em casos de mães com uma cesárea anterior (grupo 5), não houve diferença na mortalidade infantil entre aqueles nascidos por via cesariana em comparação com o parto vaginal.

Para os grupos 6 a 10 (bebês com apresentação não cefálica, gemelares e prematuros) o risco de morte se paridos pelo procedimento cirúrgico é reduzido em comparação com o parto normal, o que também comprova a segunda hipótese.

Realidade e expectativa no Brasil


Para a epidemiologista e líder da pesquisa, Enny Paixão, este estudo aponta para necessidade de novas pesquisas que somadas podem ajudar as grávidas, seus familiares e profissionais de saúde a tomarem decisões informadas sobre o tipo de parto ideal junto a um obstetra, com base científica do grupos de Robson.

Apesar da taxa recomendada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) ser de 15%, a especialista alerta que o Brasil é o segundo no ranking das cesarianas. “Temos uma das taxas mais altas do mundo (56%) e na rede privada de saúde essa taxa atinge a marca de quase nove entre dez partos (89%)", alerta Enny.

Considerando que a cesariana é um procedimento cirúrgico muito recorrido por conveniência das mães, todos os riscos para o bebê e a gestante precisam ser levados em conta pelo médico obstetra. Porém, especialistas alertam que a lógica da saúde suplementar, diferente da saúde pública, vem reforçando uma “cultura cesariana” e a posição do Brasil como vice-líder no ranking mundial.

Em muitos países, as taxas de parto cesáreo têm aumentado, porém as pesquisas ainda não chegaram a um consenso científico se este aumento tem sido impulsionado pela preferência materna ou por indicações médicas. E mais importante, ainda não se tem clareza sobre o impacto que esse procedimento pode ter na saúde da criança.

“É necessário que sejam realizadas novas investigações na área considerando os ambientes de baixa e média renda para confirmar os resultados. Se confirmada, as intervenções dirigidas às grávidas, profissionais de saúde e sistemas de saúde do Brasil devem ser reforçadas pelas políticas públicas de Saúde para reduzir as taxas de parto cesáreo não indicado e assim os riscos de mortalidade em bebês”, recomenda Enny.
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