Experiências locais em pecuária leiteira fizeram parte, na manhã desta quarta-feira (3), das discussões do painel "Tendência do mercado de leite: apresentação de dados”, uma das atrações da Arena Lácteos, do 3º Inovameat, evento que está sendo realizado nesta semana no Centro de Eventos Ismael Sperafico. Na ocasião, um dos palestrantes, o engenheiro agrônomo Lucas Turquino Gomes, apresentou dados de dez propriedades de Toledo que foram acompanhadas por um projeto da Coopermais (cooperativa da qual é presidente) e que contou com o apoio do governo municipal, por meio da Secretaria do Agronegócio, de Inovação, Turismo e Desenvolvimento Econômico (AgroDesenvolvimento), e do Serviço Brasileiro de Apoio à Micro e Pequena Empresa (Sebrae).
Neste levantamento vários fatores foram analisados, mas a apresentação de Lucas focou em três: custo operacional efetivo (envolve despesas do dia a dia), custo operacional total (inclui os pró-labores e a depreciação dos equipamentos) e o custo total do leite (faz uma comparação entre a rentabilidade nesta atividade com a obtida por meio de outras aplicações).
Em média, as 10 propriedades analisadas tiveram rendimento de 13,4% em um ano, acima da maioria dos investimentos disponíveis no mercado financeiro. A produtividade média em cada uma foi de 520 litros de leite por dia, com custo médio de R$ 2,48 e valor de venda de R$ 2,65 o litro.
Inspirado na frase "Controle seus custos ou esqueça os lucros", do especialista em gestão de mercado Nelio Wanderley, o palestrante encerrou sua fala fazendo uma defesa da necessidade de se anotar todas as despesas que são feitas em uma propriedade. "Se você não sabe como está gastando, não vai saber da onde cortar quando for necessário aumentar a margem de lucro", comenta.
Cenário mais amplo – Antes da fala de Lucas, o painel teve a palestra do pesquisador especialista em pecuária leiteira da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Glauco Carvalho. Ele apresentou um panorama global e nacional do mercado de lácteos, desde a queda na produção mundial, custos estáveis para aquisição de insumos (milho e soja, por exemplo) até as políticas de importação de leite.
O crescimento econômico no Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil de 2,9% em 2023 fez o consumo per capita de leite crescer 6%. “Não houve problema de vendas, mas de margem de lucro, pois não foi possível comercializar a produção por um preço melhor em virtude da maior oferta do produto no mercado”, analisa o pesquisador, que observa a estagnação que o setor vive há 10 anos, com níveis de produção e renda da população semelhantes aos de 2013.
Glauco apontou os desafios para o setor: qualidade de matéria-prima, carência de políticas públicas focadas, baixa coordenação setorial e preços pouco competitivos. Outro ponto para o qual ele chamou a atenção foi em relação à diferença de custos de produção e de venda entre pequenos e grandes proprietários, chegando, em alguns momentos, a 30%. “O ideal seria que as propriedades menores aumentassem o volume, mas isso não sendo possível, é necessário agregar valor ao produto. Um dos caminhos é focar em produtos destinados a faixas específicas de uma população que cresce em ritmo mais lento e está vivendo mais”, sugere.
