O evento marca mais uma etapa do trabalho em prol da construção de uma nova matriz energética, a partir do aproveitamento da agroenergia, produzida nas propriedades rurais por meio do aproveitamento da biomassa residual (dejetos suínos, principalmente). “Em Toledo estamos desenvolvendo diversos projetos visando à melhoria das condições para o homem do campo e o projeto do biogás vem ao encontro desta proposta, permitindo a geração de emprego e renda no campo, além de promover a sucessão nas propriedades”, comentou o prefeito Beto Lunitti. O grande plantel de suínos e gado de leite, em Toledo, gera um volume considerável de matéria prima para os biodigestores, principal ferramenta para o início deste processo.
Segundo informações da Assessoria para Captação de Recursos e Relações Institucionais, o potencial de produção de biometano no território toledano é superior de 110 mil metros cúbicos diários e o projeto do Condomínio de Agroenergia do Lajeado Grande que representa 2,5% do potencial produtivo do município, o que é um indicador do elevado potencial dessa fonte de energia. Visando gerenciar todo este processo, o município de Toledo criou o Programa Municipal de Desenvolvimento e Incentivo ao Uso de Energias Renováveis – ênfase em Biogás – para Toledo (PMER-BIOTOL), que segundo o assessor Luiz Carlos Balcewicz, a partir do programa, a Prefeitura poderá custear as despesas dos projetos individuais dos biodigestores e do processo de produção de biogás de cada propriedade rural. “Além disso, também poderemos vir a investir em unidades de tratamento de biogás, que é uma central purificadora e enriquecedora do biogás, para transformá-la de acordo com as normas da Agência Nacional de Petróleo (ANP)”, comentou.
Para Beto Lunitti, a assinatura do Termo de Cooperação é um passo importante para a continuidade dos trabalhos, que representam a transformação de um problema ambiental, num incremento econômico para os produtores e, consequentemente, para o município. “A partir desta parceria com a COMPAGAS, a Prefeitura e a Cooperativa Primato, estabelecem um marco legal desse processo que está sendo estudado e, daqui para frente, ele tem um norte que baliza as ações de cada ator nesse contexto, sempre buscando um respeito ao produtor, que agora a Primato, neste contexto, representa”. Beto Lunitti ainda disse que os produtores de suínos e bovinos de leite estão desejosos em fazer história. “Gerar energia, renda e junto com outros programas que o governo municipal tem em prol dos agricultores, como o Rodovias Rurais – Caminhos para o Desenvolvimento e o da Agricultura de Precisão fazer a sucessão das propriedades. Isto é o mais importante para os produtores e, consequentemente, para nós”, comentou.
O documento é um passo importante para ampliar o desenvolvimento deste potencial energético. O presidente da COMPAGAS, Luciano Pizzato, lembrou que a autarquia, a partir da assinatura, poderá complementar o trabalho desenvolvido em Toledo oferecendo uma estrutura permanente para auxiliar na distribuição do gás produzido de forma natural em Toledo. “Vamos auxiliar no complemento de um ciclo, dando garantia do fornecimento do gás que será produzido em Toledo. Se distribuirmos, o produtor rural terá a certeza do retorno”, explicou.
Para os produtores rurais, o evento é início de uma nova era. O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais, Delvo Baldin, lembrou que o momento é um marco histórico. “Eu que vivo aqui em Toledo, sou filho de pioneiros, acompanhei toda essa evolução e essa transformação lá na agricultura. A gente sempre venceu todos os desafios e agora temos mais um. O que era um problema, o dejeto suíno, agora vai agregar valor à propriedade. A agroenergia vai resolver problemas ambientais e eu acho que isto é progresso, isto é avançar”. Baldin ainda enalteceu o trabalho realizado pelo município de Toledo, da COMPAGAS, da Itaipu e demais atores envolvidos com o processo de formação do Condomínio de Agroenergia do Lajeado Grande.
Representando os produtores rurais neste ação, o presidente da Primato, Ilmo Werle Welter, afirmou que o momento é diferenciado e é uma honra para a Cooperativa participar deste processo. “É um fator de desenvolvimento muito grande nas propriedades onde se desenvolvem o biogás. A partir dessa assinatura de hoje, isso se torna um fator de ganho, valores de recurso para a sustentabilidade da propriedade no dia a dia. E nada mais justo que o produtor que tem o problema instalado na propriedade, consiga se organizar, se desenvolver e agregar valor à sua produção, no caso, do no nosso associado”, salientou.
Presidente do Centro Internacional de Energias Renováveis – Biogás (CIBiogás), formado pela associação de 17 instituições e que busca incentivar o uso e o aproveitamento do biogás na cadeia produtiva, Cícero Bley Júnior, afirmou que “Toledo, único município brasileiro participante do CIBiogás, mostra para o Brasil todo a possibilidade de se organizar a sociedade e ter uma política pública energética municipal, isso é um fato novo, um fato pioneiro de um município desse porte mostrando a real possibilidade de se tratar energia de uma outra forma no Brasil, produzindo com os recursos que existem, recursos naturais disponíveis, recursos energéticos como os próprios dejetos de animais como Toledo está se propondo a fazer. Então isso é uma coisa que só daqui a alguns anos sendo possível reconhecer a importância histórica desse processo”, finalizou.
Homenagens
Durante o evento, também foram homenageados, em comemoração ao "Ano Internacional da Agricultura Familiar", algumas pessoas que contribuem para o desenvolvimento dos projetos de agroenergia em Toledo. Receberam a comenda de Família Rural Sustentável, Família Volksweis, da Linha São Pedro; de Agricultor Empreendedor Sustentável, Pedro Kohler, de Vila Ipiranga; de Agricultor Pioneiro Inovador Sustentável, Irno Pretto, da Linha Três Bocas; de Industrial Empreendedor Sustentável, Jandir Bombardelli, da Lactobom; de Engenheiro Desenvolvedor Inovador, Juliano de Souza, Biogás Motores; e de Dirigente Irradiador Inovador, Cícero Bley Júnior, CIBiogás.
Condomínios de Agroenergia
Em Toledo, três projetos estão em andamento. O mais adiantado é o Condomínio de Agroenergia do Lajeado Grande, mas ainda existe o das Linhas Rocio, Recanto, Boiko e São Valentin e um para a região de Concórdia do Oeste. O produtor rural Djoni Volkweis reforçou os benefícios do biogás e acrescentou a importância do Governo Municipal promover a ação por meio de condomínios. “Hoje nossa produção de gás, em determinadas épocas, excede e acaba sendo queimada. Em outras ele atende nossa necessidade, porém impede que eu aumente a produção de frangos”.
Segundo ele, com o condomínio, as propriedades com menor produção em algumas épocas poderiam receber o biogás e devolvê-lo nos períodos onde há um volume maior. “Além disso, tem a questão dos investimentos em compressores para armazenagem, entre outras coisas, que seria facilitado caso fossem instalados de forma associativa ou cooperativa”. Djoni, junto com a família, realiza, desde 2011, o aproveitamento do biogás para geração de energia térmica e elétrica na propriedade. Segundo informações do produtor, ação representa uma economia de aproximadamente R$ 3.500,00 por mês na propriedade.
Desafios
Entre as dificuldades encontradas para o desenvolvimento de projetos relacionados ao biogás, o assessor para Captação de Recursos e Relações Institucionais, Luiz Carlos Balcewicz apontou as lacunas de legislação federal e estadual quanto ao uso da energia a partir do biogás/biometano. Outro problema é em relação ao direito do agricultor em utilizar o gás produzido em sua propriedade e a definição pelo produto caso ele venha a ser disponibilizado para terceiros por meio de uma concessionária. “É uma tecnologia inovadora, criativa e emancipadora dos produtores rurais em termos energéticos que vem sendo aperfeiçoada no Brasil há mais de 40 anos e no mundo há séculos”, explicou.
Vantagens para as propriedades a partir do uso do biogás
· Melhoria das condições ambientais locais e da comunidade;
· Eliminação de odores (mau cheiro);
· Redução de vetores de doenças (moscas, principalmente);
· Uso como energia térmica – aquecimento de aves e suínos;
· Utilização em substituição ao GLP no fogão;
· Melhoria da higienização de equipamentos de ordenha mecânica e utensílios em geral (melhor preço do leite);
· Maiores ganhos com a redução dos custos de produção (biofertilização dos solos e das culturas);
· Eleva a autoestima das famílias (poluidor não, mas sim protetor);
· Fortalece as condições predisponentes para ampliar e melhorar a sucessão nas propriedades.
