O número de casais que desejam ter filhos em idade mais avançada tem aumentado nos últimos anos. Pelo menos 20% das mulheres adiam esta decisão até os 35 anos e priorizam estudos e carreira, para então pensarem em ter filhos. Porém, a maioria dessas mulheres não imagina que, nesta idade, 8% delas já não produzem óvulos de qualidade para lhes permitir ter filhos. Conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (Ibge), entre 2003 e 2012, o número de mulheres que engravidaram após os 40 anos aumentou em 17%.
Se por um lado, a ascensão do público feminino tem sido vista pelo mercado de trabalho com bons olhos, por outro, a Medicina tem realizado pesquisas e apresentado tratamentos cada vez mais eficazes para os casais que escolhem ter filhos mais tardiamente. “A idade não representa uma barreira absoluta à gravidez, pois hoje os tratamentos avançados para infertilidade, como a fertilização in vitro, estão mais acessíveis”, esclarece Tânia Balcewicz, médica especialista em reprodução humana da Plena Fértile.
Contudo, a especialista salienta que os resultados dos tratamentos são melhores nas mulheres mais jovens, por isso realizar o tratamento mais cedo aumentará as chances de sucesso.
Declínio da fertilidade e riscos de abortamento
Estudos demonstram que a chance natural de gravidez a cada mês é de aproximadamente 20% nas mulheres abaixo de 30 anos, mas apenas de 5% naquelas acima dos 40. Além disso, na gestação tardia se observa aumento da incidência de abortamentos: aos 25 anos, a chance de perder um bebê é de aproximadamente 10%, enquanto que aos 40 é de 34%.
A idade materna avançada também está associada ao aumento do risco de descendentes com alterações cromossômicas, ao observar que o risco em uma mulher aos 20 anos é de um filho com síndrome para cada 500 crianças nascidas, enquanto que aos 45 anos é de um para cada 20. “Infelizmente, não há o que se possa fazer para prevenir o declínio natural da qualidade dos óvulos com a idade”, salienta a especialista.
Mulheres que desejam engravidar tardiamente devem se conscientizar de que neste período outras adversidades tendem a aumentar, como alterações tubárias, infecções pélvicas, endometriose, miomas e problemas hormonais o que afeta negativamente a fertilidade. “Caso a gravidez não aconteça em seis meses de tentativas, a investigação e ajuda especializada é ainda mais importante e urgente”, acrescenta Tânia.
Reprodução Assistida mostra caminhos
Devido a evolução da Medicina Reprodutiva, por meio da indução da ovulação com medicamentos mais eficazes, é possível resgatar dos ovários óvulos que dificilmente seriam fecundados pela natureza. Caso não se obtenha a gravidez em pouco tempo, é indicado o uso de técnicas de reprodução assistida, como a injeção intra-citoplasmática de espermatozoides (Icsi), que é considerada uma evolução da fertilização in vitro.
No procedimento, os óvulos e espermatozoides são unidos em laboratório, e os embriões gerados são acompanhados diariamente, sendo escolhidos os dois melhores para a colocação no interior do útero, após três ou cinco dias. “Nas mulheres com 40 anos ou mais, é possível confirmar que estes embriões são saudáveis, através do diagnóstico genético pré-implantacional (PGD), antes de realizar a transferência embrionária, o que eleva as chances de sucesso e de bebê saudável em casa”, explica.
Quando não existem mais óvulos nos ovários, o tratamento com óvulos doados por mulheres com menos de 35 anos pode ser a solução. Estes óvulos são fertilizados em laboratório com espermatozoides do próprio marido e após preparo do útero, os embriões são transferidos para esta mulher que já não possuía mais óvulos, mas que está em boas condições para gestar. “Uma forma de adoção precoce e também anônima”, esclarece.
Outro progresso da Medicina Reprodutiva é o congelamento de óvulos, que deve ser feito antes dos 35 anos. O congelamento de óvulos é uma necessidade nos casos de preservação da fertilidade por doenças, como o câncer, que muitas vezes necessita de tratamentos complementares como quimioterapia, podendo levar a infertilidade pelos efeitos colaterais dos medicamentos. Nestes casos, há a necessidade de aguardar alguns anos, para superar a doença e então poder ter um filho.
A perda da fertilidade é um fato inevitável para homens e mulheres, que pode ser administrado, mas não ignorado, por isso é importante que o casal planeje e se prepare para a gravidez. “Isso não só aumentará as chances de engravidar com mais facilidade, como também diminuirá o risco de complicações tanto para mãe como para o bebê”, finaliza Tânia.