Durante o encontro foi a secretária de Políticas para Mulheres, Maria Cecília Ferreira, primeira mulher eleita vereadora em Toledo, que falou sobre as políticas nacionais para mulheres. A pouca participação das mulheres na política foi destacada pela secretária. Após encontro a secretária conversou com a equipe da SECOM.
SECOM – No que consistiu a sua explanação durante este encontro?
Maria Cecília – Nós expusemos as políticas nacionais voltadas para as mulheres, a partir do convite da vereadora Sueli Guerra, vice-presidente da União dos Vereadores do Brasil, abordando uma discussão mais ampla da participação política das mulheres, uma vez que estamos num ano eleitoral e que se espera mais mulheres participem deste momento, que sejam candidatas e que possam ser eleitas. Do ponto de vista das políticas nacionais, nós colocamos o papel central da Secretaria de Políticas para Mulheres da Presidência, que foi criada em 2003, e que a partir de então vem coordenando a implementação de uma série de ações importantes, por meio de programas, e buscando também a ampliação da criação de organismos de políticas para mulheres. É importante dizer que as políticas para mulheres são políticas públicas e não devem se subordinar a outras políticas. Então por isso a importância de nós termos os organismos de políticas para mulheres, sejam secretarias, sejam coordenadorias ou outras estruturas, mas que funcionem de forma independente, com orçamentos próprios específicos e, fazendo essa ligação com as políticas nacionais. Aqui eu apresentei programas, ações de enfrentamento à violência, em relação à saúde e à questão da autonomia econômica, o programa de equidade de gênero e raça. Enfim, uma série de programas que advém dos planos e políticas nacionais.
SECOM – Diante do que foi apresentado, os desafios ainda são muito grandes?
Maria Cecília – Sobre o Pacto Nacional Sobre Enfrentamento à Violência nós temos desafios imensos. As estatísticas mostram que o Brasil é, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o quarto colocado em homicídios contra mulheres. O Paraná é o terceiro estado brasileiro neste quesito. Isto é lamentável e nos municípios todos nós temos muitos casos, Toledo não foge à regra, temos muitas situações de violência.
SECOM – Qual é o principal fator que leva a essa violência?
Maria Cecília – Um dos fatores fundamentais é a cultura machista que nós temos no Brasil, de homens acharem que são donos das mulheres das suas companheiras, esposas, às vezes até namoradas. É toda uma cultura que nós precisamos romper e trabalhar pra vencer. Por isso a importância do trabalho nas escolas, com a Campanha Quem Ama Abraça, que vem nesse sentido de prevenir, de mudar um pouco essa visão. A violência é aprendida, ninguém nasce violento. A gente aprende a ser violento pelos exemplos.
SECOM – Ou seja, o preconceito é reproduzido.
Maria Cecília – A violência não é só o preconceito. É preciso trabalhar a cultura da paz. Se a criança ou nós mesmos, de modo geral, aprendemos a ser violentos, podemos aprender a não ser violentos. Entra, neste caso, o trabalho intersetorial, em ações como o trabalho nas escolas, com homens e outras atividades. Nos ’16 Dias de Ativismo Pelo Fim da Violência Contra as Mulheres, houve grupos de homens se organizando em prol desta causa. É a sociedade se envolvendo para por fim a esse tipo de violência.
SECOM – Quais são os caminhos que Toledo pode trilhar em relação a estes temas?
Maria Cecília – Temos atividades em vários campos, como as próprias políticas nacionais que eu explanei durante o encontro, a questão da autonomia econômica da mulher, fazendo com que ela possa ter uma renda própria, através do seu trabalho, podendo se manter com dignidade, já que muitas vezes as mulheres permanecem numa situação de violência porque não tem os recursos suficientes para cuidar dos filhos e de si mesma. Essa relação de dependência precisa ser rompida a partir de cursos profissionalizantes, com a escolarização, com empregos dignos. Este é um aspecto preventivo. A mulher deve ter os canais na rede de médio atendimento, para que ela possa sair da situação de violência, uma Delegacia da Mulher que funcione, com atendimento humanizado, serviços de saúde equipados, a assistência por meio das Secretarias de Políticas para Mulheres, com juizados especiais e outros serviços auxiliem todos estas ações.
SECOM – E como você avalia o 1º Encontro Regional de Lideranças Legislativas Femininas?
Maria Cecília – A iniciativa da vereadora Sueli Guerra é bastante importante em razão do ano eleitoral e das políticas públicas. Quando falamos dos programas dos candidatos e das ações que eles pretendem desenvolver e também buscar essa ampliação do papel da mulher na Câmara Federal, no Senado e nas disputas dos governos estaduais e federal. Nos últimos anos as políticas públicas voltadas as mulheres avançaram e tivemos muitas mudanças efetivas nas relações de poder, a redução das desigualdades sociais. Hoje mais de 90% dos cartões do Bolsa Família estão nas mãos de mulheres, nos registros do Programa Minha Casa, Minha Vida mais de 50% estão sob a titularidade das mulheres. É uma série de ações importantes e quando a gente trata da participação política das mulheres é no objetivo de criar os canais para que elas possam se manifestar, compreender melhor o seu papel na sociedade e avançar no sentido geral a participação e a cobrança dos governos para que implementem políticas que venham ao encontro dos nossos interesses.