A dona de casa Marli Rech avistou os medicamentos descartados próximo da sua casa. Na segunda-feira (28) procurou a UBS para comunicar os profissionais e verificar o que poderia ser feito. Ela havia observado que a data de validade dos medicamentos estava em dia e ficou revoltada com a situação. “Estou indignada. Mesmo que estivessem vencidos, ali não é lugar para jogar. Fiquei muito invocada, porque às vezes a pessoa vai no posto e precisa de um medicamento desse e não consegue, enquanto isso a pessoa faz uma coisa dessas com uns remédios caros desses”, desabafa.
A maioria dos medicamentos encontrados é de uso contínuo e controlado, disponibilizados para a população normalmente por meio da Farmácia Escola. Carbamazepina, divalproato de sódio, valproato de sódio, cloridrato de clomipramina, risperidona, cloridrato de fluoxetina, diazepam e carbonato de lítio são as principais composições encontradas no terreno.
“O que vimos foi um desperdício muito grande, só de carbamazepina, um antidepressivo, tinha uns 400 comprimidos. Provavelmente é de algum paciente que faz uso contínuo desse medicamento. Isso é uma prova de mau uso”, relata a enfermeira da UBS São Francisco, Diane Michely Cassaro. Ela comenta que existe uma tendência da pessoa pegar a receita com o médico, retirar o medicamento, mas não usar adequadamente. Algumas cartelas encontradas estão abertas, mas praticamente todas as medicações estão dentro do período de validade, a maioria para julho de 2015.
A diretora de Assistência Farmacêutica da Secretaria de Saúde de Toledo, Fabiana Trento, diz que “só o carbamazipina extraviado custou para os cofres públicos aproximadamente R$ 30,00; Em uma farmácia tradicional, a mesma quantidade desse medicamento custaria aproximadamente R$ 150,00”.
Reincidência
O que chamou a atenção dos profissionais é que não foi a primeira vez que aconteceu isso na região da unidade. Na metade do ano passado foi encontrada próximo à igreja católica do bairro uma sacola de mercado cheia de medicamentos, anti-hipertensivos (utilizados para tratamento da pressão alta).
A diretora de Assistência Farmacêutica, Fabiana Trento, diz que é um desafio conscientizar os usuários sobre o uso correto dos medicamentos. “Temos uma dificuldade muito grande para que a população retire apenas a medicação que ela tem necessidade e que vai fazer uso”. Os remédios controlados só podem ser retirados na Farmácia Escola e “às vezes o usuário retira a medicação só ‘pra não perder a receita’, isso é errado”, frisou.
Orientações serão intensificadas
“Desde 2012 fazemos um trabalho de conscientização com a comunidade para que não façam isso e se necessário que tragam até a unidade para fazer o descarte correto”, contou Diane. Segundo a enfermeira, a partir de agora serão intensificadas as orientações na entrega do medicamento. “Os Agentes Comunitários de Saúde (ACS’s) farão essa orientação nas residências visitadas. Os médicos e a equipe como um todo vão reforçar para as pessoas retornarem à unidade devolver a medicação se por algum motivo tiverem que interromper o tratamento”, explicou.
Descarte legal
Fabiana Trento alerta que a melhor destinação para os medicamentos vencidos é devolver em uma unidade de saúde. “Eles podem ser entregues em qualquer UBS do município ou até mesmo da Farmácia Escola. Também aceitamos a devolução de medicamentos que não estão mais sendo usados, pois em casa corre o risco de uma criança ingerir ou de acabarem fazendo o uso incorreto, causando danos para a saúde. Se o descarte acontecer de maneira incorreta também podem causar danos para o meio ambiente”, frisou.
Todo o medicamento devolvido para a unidade segue o protocolo de gerenciamento de resíduos para o descarte correto. Cada item é relacionado em uma ficha específica com todos os dados da unidade e do medicamento descartado. Eles são classificados como Resíduos Químicos e são coletados por uma empresa especializada, que fará a incineração em local apropriado. Essa empresa recolhe mensalmente cerca de 1.200kg a 1.600kg de resíduos químicos no município. O custo do serviço é pago pela Secretaria de Meio Ambiente de Toledo.
A enfermeira Diane Cassaro lembra que o controle da qualidade dos medicamentos é rigorosa e mesmo quando as pessoas devolvem medicamentos dentro do prazo de validade e com embalagens lacradas a legislação não permite sua reutilização. “Como todo medicamento é preciso ter o controle de temperatura, da umidade, da qualidade da medicação e cuidados no acondicionamento, infelizmente temos que descartar todo o medicamento que retorna, mesmo que esteja intacto e dentro do prazo de validade”, lamenta.
Crime ambiental
O Secretário de Meio Ambiente, Leoclides Luiz Roso Bisognin, cita que a Lei de Crimes Ambientais, em seu artigo 54, prevê que causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem ou possam resultar em danos à saúde humana, ou que provoquem a mortandade de animais ou a destruição significativa da flora é crime com pena de reclusão, de um a quatro anos, e multa. Denúncias sobre o descarte ilegal podem ser realizadas para o Setor de Fiscalização da Secretaria de Meio Ambiente, pelo número (45) 3277-6578. Se identificado o infrator, esse sofrerá multa por descarte em local indevido e ainda será denunciado na Promotoria de Meio Ambiente para as sanções legais.