Em entrevista concedida para a Fiocruz, no Canal Saúde, a psiquiatra e professora da Faculdade de Medicina da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Sandra Fortes, explica que o que as pessoas precisam entender é que mente e corpo estão interligados, por isso, se um sofre, dependendo da intensidade, o outro irá sofrer também. “Muitas vezes, as pessoas sentem dor, mas isso não aparece nos exames médicos e laboratoriais. Mas o que as pessoas precisam entender, é que não é porque não aparece, que a dor não existe”, conta.
Para a psiquiatra, todas as pessoas somatizam, porém, algumas desenvolvem com mais intensidade que outras e isto é que faz com que existam quadros mais graves e doenças reais. “Existe um preconceito de que coisas emocionais só existem dentro da cabeça das pessoas. Mas mesmo doenças físicas sofrem evoluções devido ao processo emocional da pessoa”, disse Sandra, que os processos dos sintomas são processos funcionais, a função do órgão fica alterada. "O que é importante ter em mente é que os sintomas são reais e isto, talvez seja o primeiro preconceito a ser vencido".
Sandra chamou a atenção para a abordagem feita por médicos para pessoas que somatizam. Ela explicou que muitas vezes o que acontece é que o médico pede diversos exames, mas não conversa com o paciente. “O médico não conversa sobre o que está acontecendo na vida daquela pessoa e fica pedindo exames, reforçando que aquela pessoa tem uma doença física e não funcional. E quando ele por fim diz que não encontrou nada nos exames e não tem nada, ele acaba piorando o processo e a pessoa procura outro profissional”, contou. Dessa forma, Sandra explicou que não é aberto um espaço para que o paciente pare e reflita sobre o seu sofrimento, o que faz com que a pessoa piore.
A psicóloga ainda comentou sobre a função das equipes da Estratégia da Saúde da Família. “Muitas vezes, essas pessoas precisam que alguém converse com elas, e faça com que entendam o que está se passando, que é o que as equipes da ESF fazem, olhando de forma mais integral”. Além disso, Sandra ainda comentou que corpo e mente devem ser tratados juntos. “É importante tratar a dor física junto com os problemas emocionais, corpo e mente estão juntos, então devem ser tratados juntos”, contou.
Outro ponto destacado foi o local onde a pessoa que somatiza vive, como e com quem. Às vezes mudar de ambientes e praticar exercícios físicos, faz com que a pessoa melhore. “Pode ser óbvio, mas a dor só vai embora, quando o prazer entrar na vida das pessoas. O estresse é um dos grandes males para quem é mais sensível a somatização”, disse Sandra, completando que as pessoas devem dar mais espaço para o prazer, assim, corpo e mente tranquilizam e entram em harmonia.
Fazer coisas que goste como sair com os amigos, praticar exercícios e viajar são exemplos dados pela psicóloga para a pessoa que somatiza. “Fazer atividades que dão mais prazer é o caminho para sofrer menos”, assegurou. Nesse caso, o sistema de saúde é fundamental, a ESF tem feito os tratamentos integrais, e isso é viver a integralidade que é presente no SUS e na Constituição Nacional, de uma forma muito forte no dia a dia, onde as pessoas têm um espaço, para com o auxílio dos profissionais de saúde construir vidas de qualidade. “Mesmo fazendo essas atividades, a pessoa ainda vai somatizar, mas de forma menos intensa”, finalizou.