Para a coordenadora do CREAS II, Sandra Cordeiro Muniz Giro, está se rompendo um tabu e um ciclo de conivência na sociedade. “O grau de consciência aumentou e as pessoas não aceitam mais esta situação. É considerável o número de abusos sexuais em Toledo, próximo à média de outras cidades. Explicável também por agora existir um serviço estruturado para cuidar dessas vítimas”, analisa a assistente social, apontando outras formas de violência. “Há a psicológica e as que dispensam contatos físicos: assédio verbal, pornografia e obscenidades pelos meios eletrônicos”, enumera Sandra, que divulgou o detalhado balanço dos atendimentos do CREAS II, em 18 de maio (Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes), durante o debate sobre “A realidade da violência contra crianças e adolescentes no município de Toledo e as possibilidades de atendimento na rede proteção”, que reuniu diversas entidades e membros do Poder Judiciário.
As histórias de abusos se repetem pelo Brasil afora. Segundo o mapa de denúncias do governo federal sobre exploração sexual de crianças e adolescentes, há registro desses crimes em 2798 municípios brasileiros, sendo que a região Nordeste apresenta as maiores incidências (34%), seguida pelo Sudeste (30%), Sul (18%), Centro-oeste (10%) e Norte (8%). O Disque Denúncia (telefone 100), no período de 2005 a 2010, contabilizou 25.175 registros. Na vizinha Cascavel, identificaram-se 421 casos de violência contra crianças e adolescentes no ano de 2010. Em Toledo, maio tem sido um mês de mobilização com a campanha “Tem coisas que não dá pra fingir que não vê”, promovida pelo Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente de Toledo junto com outras ações feitas pela administração municipal. ”A negligência é outro dado grave”, aponta a secretária Municipal de Assistência Social, Ires Scuzziato. “Observamos que muitas famílias não se dedicam às crianças, ignorando que elas são um ser em desenvolvimento e que, quando vítimas de violência, se calam e levam seus traumas por toda uma vida”. A professora do curso de Assistência Social da Unioeste, Zelimar Bidarra, acrescenta que, além dos 49 registros de abuso, há outros sete de exploração sexual e que, segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), para cada caso notificado há outros vinte encobertos. “O que aumentou foi a denúncia e devemos ter uma ótica diferenciada ao analisarmos este número, valorizando a existência de uma unidade de atendimento como o CREAS II. É o lugar onde as pessoas, que estavam num sofrimento silencioso, podem buscar tratamento”, acredita a docente, que estuda a questão há dez anos em Toledo. “A partir desse conhecimento gerado pelo CREAS II podemos buscar medidas para reagir e possibilitar a mudança dessa realidade”.
Impunidade
“O fato é triste e precisamos fazer desse luto, uma luta constante”, convoca a promotora de Justiça, Kátia Kruger, pontuando a dificuldade de se combater este tipo de crime. “A impunidade é o maior incentivo à violência, sendo fundamental o trabalho eficaz de toda a rede para se responsabilizar o agressor”, explica Kruger, ressaltando a participação de profissionais da área da saúde e da educação na identificação de casos de violência. De acordo com a Childhood Brasil, extensão da organização internacional fundada pela rainha da Suécia, 85% dos crimes cometidos contra crianças e adolescentes terminam em absolvição. Durante o evento do Dia 18, o juiz da Vara de Infância e Juventude, Rodrigo Rodrigues Dias, esclareceu as limitações de sua competência. “A gente trata da quebra dos vínculos jurídicos, a perda da guarda, em casos extremos. A questão criminal é remetida ao Ministério Público que precisa de provas para as condenações em juízo criminal. Por isso é importante que os técnicos da rede prestem seus depoimentos. É preciso entender que sem prova não há condenação. Não podemos mais esperar e tolerar a impunidade”, pontua o magistrado, indicando que a arte imita a vida. “Tanto meninos quanto meninas podem ser abusados. Há um pensamento machista de que isto não acontece com os meninos, mas novela recente (Passione, Tv Globo) retratou o drama de personagem que sofria sérios traumas por ter sido abusado pela babá quando criança”.
Da Assessoria - Toledo