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GERAL

Sofrimento rompe o silêncio: CREAS II revela dados sobre abusos sexuais

“Não diga nunca: isso é natural. A fim de que nada passe por imutável”. A frase do dramaturgo alemão, Bertolt Brecht, serve de inspiração aos que lutam para mudar uma brutal realidade. Vítimas de um enredo de terror, crianças seguem sendo violentadas, na maioria dos casos, por pessoas que deveriam protagonizar afeto e proteção. Em Toledo, 49 casos de abuso sexual foram registrados pelo Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS II), entre maio de 2010 e maio de 2011, sendo que em 59% das vezes o agressor se tratou de um ente próximo. Apesar do cenário de dor, especialistas destacam as crescentes denúncias e o fato da cidade cuidar desta tragédia nas famílias. Ao todo, 232 casos de diferentes violações de direito foram identificados pelo órgão neste mesmo período.

20/05/2011 - 14:34


Para a coordenadora do CREAS II, Sandra Cordeiro Muniz Giro, está se rompendo um tabu e um ciclo de conivência na sociedade. “O grau de consciência aumentou e as pessoas não aceitam mais esta situação. É considerável o número de abusos sexuais em Toledo, próximo à média de outras cidades. Explicável também por agora existir um serviço estruturado para cuidar dessas vítimas”, analisa a assistente social, apontando outras formas de violência. “Há a psicológica e as que dispensam contatos físicos: assédio verbal, pornografia e obscenidades pelos meios eletrônicos”, enumera Sandra, que divulgou o detalhado balanço dos atendimentos do CREAS II, em 18 de maio (Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes), durante o debate sobre “A realidade da violência contra crianças e adolescentes no município de Toledo e as possibilidades de atendimento na rede proteção”, que reuniu diversas entidades e membros do Poder Judiciário.
As histórias de abusos se repetem pelo Brasil afora. Segundo o mapa de denúncias do governo federal sobre exploração sexual de crianças e adolescentes, há registro desses crimes em 2798 municípios brasileiros, sendo que a região Nordeste apresenta as maiores incidências (34%), seguida pelo Sudeste (30%), Sul (18%), Centro-oeste (10%) e Norte (8%). O Disque Denúncia (telefone 100), no período de 2005 a 2010, contabilizou 25.175 registros. Na vizinha Cascavel, identificaram-se 421 casos de violência contra crianças e adolescentes no ano de 2010. Em Toledo, maio tem sido um mês de mobilização com a campanha “Tem coisas que não dá pra fingir que não vê”, promovida pelo Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente de Toledo junto com outras ações feitas pela administração municipal. ”A negligência é outro dado grave”, aponta a secretária Municipal de Assistência Social, Ires Scuzziato. “Observamos que muitas famílias não se dedicam às crianças, ignorando que elas são um ser em desenvolvimento e que, quando vítimas de violência, se calam e levam seus traumas por toda uma vida”. A professora do curso de Assistência Social da Unioeste, Zelimar Bidarra, acrescenta que, além dos 49 registros de abuso, há outros sete de exploração sexual e que, segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), para cada caso notificado há outros vinte encobertos.  “O que aumentou foi a denúncia e devemos ter uma ótica diferenciada ao analisarmos este número, valorizando a existência de uma unidade de atendimento como o CREAS II. É o lugar onde as pessoas, que estavam num sofrimento silencioso, podem buscar tratamento”, acredita a docente, que estuda a questão há dez anos em Toledo. “A partir desse conhecimento gerado pelo CREAS II podemos buscar medidas para reagir e possibilitar a mudança dessa realidade”.

Impunidade
“O fato é triste e precisamos fazer desse luto, uma luta constante”, convoca a promotora de Justiça, Kátia Kruger, pontuando a dificuldade de se combater este tipo de crime. “A impunidade é o maior incentivo à violência, sendo fundamental o trabalho eficaz de toda a rede para se responsabilizar o agressor”, explica Kruger, ressaltando a participação de profissionais da área da saúde e da educação na identificação de casos de violência. De acordo com a Childhood Brasil, extensão da organização internacional fundada pela rainha da Suécia, 85% dos crimes cometidos contra crianças e adolescentes terminam em absolvição. Durante o evento do Dia 18, o juiz da Vara de Infância e Juventude, Rodrigo Rodrigues Dias, esclareceu as limitações de sua competência. “A gente trata da quebra dos vínculos jurídicos, a perda da guarda, em casos extremos. A questão criminal é remetida ao Ministério Público que precisa de provas para as condenações em juízo criminal. Por isso é importante que os técnicos da rede prestem seus depoimentos. É preciso entender que sem prova não há condenação. Não podemos mais esperar e tolerar a impunidade”, pontua o magistrado, indicando que a arte imita a vida.  “Tanto meninos quanto meninas podem ser abusados. Há um pensamento machista de que isto não acontece com os meninos, mas novela recente (Passione, Tv Globo) retratou o drama de personagem que sofria sérios traumas por ter sido abusado pela babá quando criança”.

Da Assessoria - Toledo

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