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Com apenas nove anos, a pequena Mell prova que os limites existem para aqueles que não sabem sonhar

Olhar bem no fundo dos seus olhinhos e perceber que a doçura não está presente só no nome, mas na fala meiga, e carinhosa como a pequena Mell conquista a todos. Conversando com ela, por alguns minutinhos, já possível perceber que ela esbanja alegria e simpatia. A pequena Mell, de 9 anos, é uma menina que luta com a força singular à pessoas como ela: coração e alma carregados de amor e ternura por todos aqueles que a rodeiam, em especial a sua amada avó Francisca.

04/06/2011 - 15:46


Mas ela não distribui o seu sorriso e simpatia somente no ambiente familiar, ela conquista amigos preciosos como a sua companheirinha de escola Ellen. Aliás, na escola, Mell corre pelos corredores, vence rampas com sua pequena cadeira, participa das brincadeiras e ajuda os pequenos, ou melhor, em suas palavras, cuida dos menores. Aluna exemplar, ela não se intimida e prova todos os dias a quem precisar que mesmo sentada em uma ‘cadeirinha’ isso não a faz diferente. Mesmo sendo portadora de uma doença chamada atrofia muscular espinhal, ela não aceita a piedade de ninguém, pois é forte, destemida, espoleta e brincalhona, entende sua condição não como um fator limitante, pois ela voa a anos luz a frente de qualquer preconceito. Essas são algumas palavras que jamais poderão definir essa pequena guerreira que ama a vida e sorri para ela todos os dias. Essa é a Mell.

Proporcionar um pouco da doçura dessa menina a quem for ler esse texto e assistir a reportagem, de modo que ao escutar Mell falando sobre sua vida de maneira tão suave faça com que os olhos não se voltem para sua condição, mas para a expressão mais pura e tenaz da vontade de viver, da alegria de viver. A menina que pediu em cartinha uma cadeira de rodas lilás e vai realizar o seu sonho por meio do pedido da amiga Ellen que também escreveu a cartinha relatando o sonho de Páscoa é a prova de que os anjos vivem entre nós. E Mell já voa em sua cadeira nas suas brincadeiras de pega pega com a amiga Ellen e os primos que vêem todos os dias na casa da avó Francisca.

Acompanhar o ritmo dessa menina não foi nada fácil para a reportagem que queria registrar os momentos e alegria e brincadeira em um parquinho da cidade. Sobe rampa, desce rampa, e todos correndo atrás da Mell,  e da Ellen que habilmente empurrava a amiga na cadeira em uma  velocidade que aos desavisados do espírito aventureiro de Mell, até tinham medo por ela. O momento de pausa só aconteceu quando paramos para gravar a entrevista. E daí novamente show de Mell. Com uma sensibilidade e uma perspicácia peculiar ela novamente hipnotiza e com a habilidade de um orador experiente e que domina perfeitamente o seu discurso ela nos mostra o evidente: “Eu sou uma criança normal, dizem que sou coitadinha, sou uma criança normal, só não consigo andar. Não sou coitadinha. Eu acho que dá pra fazer tudo o que eu quiser.  A gente dá um jeito, e corre com a cadeira,  e eu grito mais rápido, mais rápido... Sou uma criança feliz!!!!”.

E como toda criança Mell sonha e sonha muito: “meu primeiro sonho era a cadeira, meu segundo sonho é pode voltar andar e o terceiro é fazer teatro”. O sonho de subir ao palco seja como bailarina ou atriz é relatado pela avó Francisca, que cria Mell como sua filha. Francisca elogia a neta destacando o talento nato da oratória que a pequena Mel tem como característica desde muita pequena. Mas o sonho do teatro esbarra no preconceito, Mell não foi aceita para fazer Teatro. Mas ela não desiste e nem se intimida diante de obstáculos como este e outros como a dificuldade para ir a fisioterapia e hidroterapia, onde é atendida por estagiários. Abaixo de sol, Mell e Francisca seguem, mas abaixo de chuva, elas se recolhem a impossibilidade e a falta de condições para garantir que Mell freqüente a escola. Direito este que o poder público lhe nega com sua ausência.

Mas não falta coragem a Mell e Francisca. Mas ainda sobra preconceito e obstáculos a serem vencidos como a difícil tarefa de garantir que Mell seja atendida com qualidade e eficiência, e que o tempo de espera para uma consulta não seja tão árduo e demore até 8 meses. Que ela possa receber um tratamento feito por um profissional especializado e experiente que entenda a gravidade de sua doença e que qualquer equívoco pode acelerar o seu quadro. O que Mell e Francisca tem de sobra, falta àqueles que não abriram as portas de uma escola, que não atenderam o pedido simples de uma menina que quer brilhar nos palcos.  

Mas o brilho de Mell ofusca o preconceito e ela segue contagiando a todos com a doçura própria de uma criança feliz.

 

 

 

 

Reportagem Selma Becker

 

 

 

 

 

 

 

 

Texto Rosselane Giordani

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