O avanço do conhecimento científico, porém, não retardou o processo de destruição da natureza e nem conseguiu uma sociabilidade ambiental coerente para descobrir todos os mistérios que guarda a natureza “gaia”. Assim, o conhecimento indígena, simples e rudimentar, desafia, porque é uma forma de organização da vida e gerenciamento natural que aguça as indústrias farmacêuticas no uso e nas propriedades terapêuticas desses recursos naturais. O problema ético reside justamente quando esse conhecimento indígena converte-se em bens financeiros e lucrativos. Nisto está a dificuldade de transformação do imaginário humano para uma prática mais ambiental. Há o risco da apropriação da natureza e do conhecimento indígena que antes é cultural e milenar. Novos conhecimentos e tecnologias também poderiam ficar mais atentas a possibilidade de abstrair de uma relação cultural saberes e filosofias de vida dos antepassados ou os que são constituídos nos grupos de comunidades quilombolas, imigrantes, indígenas e diversas possibilidades de se elaborar epistemologias numa interpretação intercultural – na busca de uma melhor sobrevivência humana e ambiental. A grande problemática está em que o ser humano e o conhecimento são ignorados também como tributários de um patrimônio humanitário, pois inexiste uma legislação de preservação de sua autoria, em especial, do saber indígena (Posey: 1997). Ab’Saber (1998)[2] também nos alerta para o sentido de que o conhecimento sobre a questão ambiental deverá mudar a nau da sua direção. O leme será mais uma vez o estudo dos impactos ambientais. A tecnologia produziu ações anti-éticas sobre o espaço físico, natural e humano. A pobreza, os bolsões da periferia e as doenças psicologizantes como o stress, a fadiga, a obesidade que atingiram a natureza humana são formas de impactos ambientais. Esse novo conhecimento necessitará da interdisciplinariedade de formação e de diálogo entre as formações acadêmicas e debates sobre as mais diferenciadas situações sociais. É necessário um entendimento do espaço em sua totalidade (AB’SABER: 1998). O ato de prever os impactos necessitará de mudanças culturais, atitudinais e de estilos de vida em favor de uma ética menos consumista, individualista, humana, ecológica e dialógica no olhar prepoderante sobre o outro: a natureza e o ser humano. Reflexões pertinentes em tempos de crise ambiental e a “busca” de legislações mais pertinentes e ajustadas a essa perspectiva da experiência conflitiva entre o saber, a cultura e a relação homem e natureza – em divergências e convergências naquilo que poderá nos fazer sobreviver de modo físico e ético.
[1] POSEY, Darell. Exploração da biodiversidade e do conhecimento indígena na América Latina. In: Meio Ambiente, Desenvolvimento Sustentável e Políticas Públicas. Recife: Editora Cortez, 1997.
[2] AB’SABER, Aziz Nacib. Bases conceituais e o papel do conhecimento na previsão de impactos. In: Previsão de Impactos. São Paulo: EDUSP, 1998.
[3] Doutoranda em Sociologia pela UFPR.
Por Lígia Wilhelms Eras